5 de novembro de 2016

Crítica: Captain Fantastic

Realizador: Matt Ross
Argumento: Matt Ross
Elenco: Viggo Mortensen, George MacKay, Frank Langella, Samantha Isler, Nicholas Hamilton, Annalise Basso, Shree Crooks, Charlie Shotwell
Classificação IMDb: 7.9 | Metascore: 72 | RottenTomatoes: 82%
Classificação Barba Por Fazer: 77


    Bem-vindos ao lado selvagem de uma educação fora da sociedade. Bem-vindos à natureza e a uma família sem Coca-Cola e cachorros. Bem-vindos a 'Captain Fantastic', um dos melhores papéis da carreira de Viggo "Aragorn" Mortensen.
    As questões que 'Captain Fantastic', escrito e realizado por Matt Ross (membro do elenco de Silicon Valley), levanta são pertinentes. Sobre a família, sobre o que é ser pai, sobre o direito que temos de afunilar a visão e as escolhas dos nossos filhos de acordo com certos mantras, sobre a Sociedade. Num filme que não é para todos - muitos espectadores desligar-se-ão deste pai por não concordarem com muitos dos seus valores e estilo de vida -, Ben (Viggo Mortensen) cria os seus 6 filhos, com nomes únicos como Bo, Kielyr, Vespyr, Rellian, Zaja e Nai, na floresta, mantendo-os afastados da sociedade e de um sistema de educação tradicional, obrigando-os a seguir uma rígida rotina capaz de os ocupar e ginasticar fisica e intelectualmente. Mas tudo muda quando a matriarca da família, hospitalizada há algum tempo, se suicida, precipitando uma roadtrip (sabe um pouco a Little Miss Sunshine) para um funeral no qual Ben está proibido de comparecer, procurando este proporcionar um luto adequado aos filhos e certificando-se que as derradeiras vontades da sua mulher são respeitadas.
    Um dos segredos para ver 'Captain Fantastic' é encarar o filme com mente aberta, sem que a procura de empatia por Ben e pela sua pitoresca descendência anule quaisquer opiniões contrárias que tenhamos sobre a sua filosofia anti-capitalista e alienada. A piada do filme está, numa primeira camada, no contraste e no choque/ adaptação que os filhos têm relativamente ao mundo como ele é; num segundo nível, menos explícito, o debate que certos temas que para muita gente não merecem debate, podem proporcionar. Os miúdos, nos quais se destaca o filho mais velho interpretado por George MacKay, têm uma boa química e formam um sexteto visualmente engraçado, mas o filme - com algumas imperfeições sobretudo na construção das personagens, com alguns pontos muito exagerados e por isso pouco verosímeis, e muita tendência para dizer em vez de mostrar - vale pelo que Viggo Mortensen faz dele. A transformação do homem inquebrável, devoto e convicto de que está a fazer o melhor que pode para um homem que ganha camadas e agarra qualquer espectador quando, sozinho e vulnerável na sua caravana chora finalmente a morte da mulher, e compreende, ao som de Sigur Ros, o equilíbrio necessário para que os seus filhos, sem negarem as suas convicções e filosofias, possam ser parte do mundo e seres colectivos. Fica claro, nessa cena que "faz" o filme com Viggo ao volante, que aquela personagem não resultaria com muitos actores, e que uma nomeação para Óscar não seria descabida para o actor de Lord of the Rings e A History of Violence, ao brilhar - quem diria - num Indie.
    A forma contida como Viggo Mortensen guarda diferentes emoções e nos permite diferentes juízos sobre o seu Ben colocam este filme com nome de super-herói noutro patamar. Em suma, 'Captain Fantastic' fala-nos sobre encontrar equilíbrios, sobre a liberdade de escolhermos o nosso caminho mas sem que isso implique ir contra o mundo inteiro de forma gratuita e descabida. Há quem ache que o final é uma ilusão, e que a realidade da vida de Ben termina numa fogueira sozinho, mas o que é certo é que no final Matt Ross mostra-nos que nem a Sociedade está 100% certa, nem Ben está, com um paraíso que construiu e que tem tanto de paradisíaco como de redoma castradora. Educar é uma coisa, controlar é outra; e saber deixar voar provavelmente a mais difícil.

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