29 de agosto de 2016

Crítica: Demolition

Realizador: Jean-Marc Vallée
Argumento: Bryan Sipe
Elenco: Jake Gyllenhaal, Naomi Watts, Chris Cooper, Judah Lewis
Classificação IMDb: 7.0 | Metascore: 49 | RottenTomatoes: 52%
Classificação Barba Por Fazer: 74

    Três vezes consecutivas para Jean-Marc Vallée. O realizador canadiano, que se prepara para abraçar 2 projectos televisivos (Big Little Lies, que reúne Reese Whiterspoon, Shailene Woodley, Nicole Kidman, Laura Dern e Alexander Skarsgard e, mais importante, a adaptação da HBO do romance de Gillian Flynn, Sharp Objects, com Amy Adams como protagonista) sabe sempre como espremer tudo o que os seus actores principais têm para dar, conseguindo como poucos conseguem pôr-nos a viver e sentir a história, entrando na cabeça dos protagonistas. Foi assim com McConaughey em Dallas Buyers Club, foi assim com Whiterspoon em Wild, e é assim com Jake Gyllenhaal.
    O título é ilucidativo, neste caso. Demolir é destruir, aniquilar, arruinar. E é em ruínas que fica Davis C. Mitchell (Jake Gyllenhaal) depois da morte da mulher num acidente de carro. Em 1 hora e 41 minutos de filme temos, mais do que qualquer outra coisa, um bom estudo de personagem - talvez o lado mais confuso da história e menos linear/ clássico acabe por afastar injustamente muitos espectadores e críticos, como fica patente nas classificações dos Rotten Tomatoes e Metascore. Mas é fundamental perceber que a riqueza de 'Demolition' está precisamente nessa confusão. No sorriso na cara de Jake Gyllenhaal enquanto sofre por dentro, incapaz de seguir em frente e aceitar; na forma como destrói tudo, obcecado em compreender a origem e a mecânica do mundo, metáfora para a desconstrução dos seus próprios problemas.
    Na jornada de Davis inclui-se o sogro (Chris Cooper), elo de ligação familiar e ponte para o desnorte profissional do protagonista; Karen (Naomi Watts), uma amizade forjada através de uma série de cartas com reclamações de Davis por uma máquina de venda de snacks não ter funcionado no hospital no dia fatídico; e, por fim, Chris (Judah Lewis), o filho de 15 anos de Karen, com quem Davis desenvolve uma relação peculiar mas que se torna um dos pontos mais interessantes do filme.
    'Demolition' mostra o colapso duma forma pouco habitual, literal no sentido em que tudo em redor se desfaz. Pode-se afirmar que tem um ou outro cliché, mas isso não retira a profundidade emocional e a viagem que Gyllenhaal nos proporciona com a sua personagem valorizando, directamente, o resultado final como um todo. É o bom "risco" que qualquer realizador tem neste momento ao garantir o actor de Nightcrawler Prisoners no elenco. Aos 35 anos começa a chegar a altura de o vermos a ser reconhecido pelo salto que deu nos últimos anos (Nightcrawler, por exemplo, merecia nomeação da Academia), e tudo indica que filmes como Nocturnal Animals, Stronger ou Okja podem deixá-lo na órbita dos grandes festivais.
    Deste mergulho na vida dum homem que destrói tudo para construir a sua etapa seguinte fica um trabalho positivo de Vallée (mais influente no sucesso dos seus últimos 2 filmes, embora nos dê sempre planos e momentos que podemos guardar) mas principalmente mais um papel de qualidade do homem que outrora foi Donnie Darko e um nome para o futuro - Judah Lewis parece um pequeno River Phoenix. Torcemos para que o seu carisma e talento seja bem potenciado, cultivado e orientado.
    

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