18 de julho de 2016

Benfica 2016/ 17: Fazer o que Nunca foi feito

O Verão traz o calor, o mar e a praia, mas traz também muitas transferências e rumores que aquecem a pré-época dos clubes. Como tem sido tradição, aqui no Barba Por Fazer damos hoje início à nossa construção especulativa dos plantéis dos principais clubes espalhados por essa Europa fora: começamos no nosso cantinho, o cantinho dos campeões da Europa, olhando para Benfica, Sporting, Porto e Braga; daí iremos para um olhar profundo para o Top-9 da Premier League, o Top-5 de La Liga, Top-3 da Bundesliga e Serie A e, finalmente, uma ilha chamada PSG.
    É importante ter em consideração que estes plantéis visam ser um ponto de equilíbrio entre o que achamos provável acontecer neste defeso, e as medidas (ou contratações) que sugeríamos para que cada clube ficasse apto para atingir os objectivos a que se propõe. Todos os plantéis que aqui verão serão - uns mais do que outros - ficcionais, fruto da nossa imaginação, mas construídos com base nos anos de futebol que já levamos, conhecendo as equipas e os seus perfis de contratação/ prospecção tidos em conta na hora de tomar decisões.
    Há 1 ano atrás lançámos o Benfica 15/ 16 mais cedo, inclusive antes de serem oficiais as saídas de Jorge Jesus e Maxi Pereira para os dois rivais. Dois dos alvos que identificámos então foram: 1) Andrija Zivkovic, que passado um ano chega à Luz; 2) Raphaël Guerreiro, adquirido recentemente pelo Dortmund depois de um grande Euro-2016. Uma curiosidade, na versão Benfica 15/ 16 que edificámos constava um rapaz chamado Renato Sanches, quando a subida deste ao plantel principal ainda era apenas um sonho nosso e dele.
    Em 2016/ 17 temos que ser sinceros: que bem que o Benfica tem preparado a nova época! Os encarnados perderam duas pedras preciosas (Nico Gaitán e Renato Sanches), mas atacaram cedo o mercado, garantindo um plantel com muita profundidade no capítulo ofensivo e, até ver, preservando o sector defensivo. Vive-se um período de estabilidade no Benfica, que procura um inédito tetra, com Rui Vitória a ter desta vez uma pré-época feita com os pés no chão. Naturalmente, o clube está muito longe de perfazer os 200 Milhões que foram noticiados que Luís Filipe Vieira quereria encaixar, mas a prova de que a gestão tem sido boa é o facto deste Benfica ser o único clube do conjunto de 25 que iremos abordar para o qual não recomendamos nenhum reforço. O objectivo é segurar quem está (ainda vemos como possível a saída de um central como Jardel ou Lindelöf, algo a evitar), "arrumando" a casa no que diz respeito a excedentários.

O Plantel


Guarda-Redes: Ederson, Júlio César, Paulo Lopes
    Bem... Se pensámos que aquando da lesão de Júlio César as coisas iriam complicar, eis que surgiu Ederson Moraes. Um gigante aprendiz do imperador que se revelou uma autêntica muralha para qualquer adversário. Enorme velocidade a sair dos postes aliada a uma bravura de todo o tamanho nas mesmas saídas. A baliza encarnada está totalmente bem entregue a Júlio César e Ederson, apesar de ambos estarem a tratar de lesões, sendo que a do segundo é um pouco mais grave, tendo sido mesmo operado ao joelho esquerdo. Por fim, temos o homem que sobe às balizas. Um autêntico pai duma família encarnada que recebe melhor que ninguém os novos jogadores. Ao que tudo indica, a baliza estará entregue a Paulo Lopes no primeiro jogo oficial da época, frente ao Braga. Sendo que não lhe vão ser concedidos muitos minutos de jogo, Paulo Lopes é fundamental no balneário e deverá ficar no clube até o mesmo decidir o momento de se retirar do futebol.

Defesas: Nélson Semedo, André Almeida; Victor Lindelöf, Luisão, Jardel, Branimir Kalaica (Dínamo Zagreb); Aléx Grimaldo, Eliseu
    No ano transacto não incluímos Lindelöf e Semedo na defesa da equipa principal do Benfica. Mérito de Rui Vitória em dar confiança aos miúdos da equipa B, tendo levado os mesmos a se tornarem internacionais A pelo seu país e tendo o sueco participado mesmo no Euro 2016. Duas peças fulcrais nesta mesma equipa que os dirigentes encarnados devem segurar. Na direita, Semedo e Almeida apresentam características diferentes. André - sem ter o rótulo de craque - é bem mais sólido e muito melhor defensivamente que o jovem Nélson que, por sua vez, tem muito mais velocidade, é melhor no 1 para 1 e consequentemente tem mais poder ofensivo. Na esquerda acreditamos ser o ano de Grimaldo, apesar de Eliseu - a continuar a forma da segunda metade da época - ser uma alternativa à altura. O espanhol faz os benfiquistas sorrir de saudade de Fábio Coentrão. Um pé esquerdo fabuloso, excelente no passe e no apoio ao ataque. Já o campeão europeu Eliseu tem do seu lado maior experiência no que toca a jogar sem bola.
    No centro apostaríamos na separação dos amigos Salvio e Lisandro ao vender o defesa central para ainda fazer um bom encaixe com o argentino. Com o crescimento incrível de Lindelöf, Lisandro perdeu espaço e não acreditamos que se valorize este ano. A sua permanência somente faria sentido se a transferência de Jardel para a Lazio realmente se concretizasse. Contudo, a nossa perspectiva é a de que o Benfica precisa de manter a sua espinha dorsal para se poder solidificar defensivamente. Com Ederson, Jardel, Lindelöf e Fejsa bem afinados, tudo se torna mais fácil. Ainda há o capitão Luisão que poderá perder espaço a não ser que o seu estatuto fale mais alto. Está claramente inferior a nível exibicional em relação aos seus companheiros, mas será importantíssimo no balneário por ser um líder nato. Kalaica deverá alternar entre a equipa B (para ganhar ritmo) e a equipa principal (para consolidar conhecimentos).

Médios: Ljubomir Fejsa, Guillermo Celis (Junior Barranquilla), Andreas Samaris, André Horta (Vit. Setúbal), João Carvalho
    Diz a lógica que na realidade o Benfica ainda ataque o mercado para contratar um 8 de nível superior para herdeiro de Renato Sanches. Afinal de contas, é apanágio os encarnados contratarem mais do que seria preciso, e venderem também mais, continuando assim com um quadro gigantesco de jogadores vinculados contratualmente. No entanto, se dependesse de nós, não acrescentaríamos ninguém a este meio-campo. O sérvio Ljubomir Fejsa, desde que não se lesione, será um dos principais jogadores-chave do clube, com Samaris e o reforço Celis (uma verdadeira carraça sul-americana, no bom sentido, pelo que já mostrou) a serem alternativas para a posição mais recuada, embora não excluamos a hipótese de funcionarem em simultâneo - a combinação Fejsa/ Samaris não resulta, o que não quer dizer que Fejsa/ Celis ou Samaris/ Celis não funcione.
    A nossa convicção ao não atacar nenhum alvo para a posição 8 está directamente relacionada com a confiança que depositamos em André Horta, ele que regressa a casa depois de passar por Setúbal. O médio tem muito para crescer, mas o contexto (o apoio de Fejsa e a pluralidade de excelentes opções no apoio aos avançados) pode acelerar essa evolução. De resto, importa perceber que este Benfica 16/ 17 poderá não exigir ao seu "8" as arrancadas e a verticalidade que Renato dava; as características de elementos como Carrillo, Cervi, Zivkovic e Salvio, conjugada com a dupla de avançados, pedirá um médio que arrisque menos e que ajude a equipa a circular e respirar melhor.
    Ainda a meio-campo, interessa não esquecer Pizzi (jogador querido de Rui Vitória, e que compreende a dinâmica como poucos), que não deve ser solução contra os grandes ou em ambiente Champions, mas contra Tondela, Moreirense, etc., pode recuar e abandonar o flanco, onde rende mais. Finalmente, João Carvalho. Tal como há um ano atrás "lançámos" Renato, desta vez patrocinamos a aposta no maestro encarnado, um jogador que ainda tem muitas etapas para queimar na sua evolução, mas que interessa segurar no Seixal e tê-lo a evoluir com os grandes.

Extremos: Eduardo Salvio, André Carrillo (Sporting), Franco Cervi (Rosario Central), Pizzi, Gonçalo Guedes, Andrija Živković (Patrizan)
    Um luxo. É certo que o Benfica perdeu Nico Gaitán, um dos 2 jogadores mais influentes da equipa, mas com as chegadas de Carrillo, Zivkovic (ambos a "custo zero") e Cervi não se pode dizer que a equipa esteja mais fraca. Pelo contrário.
    Não somos capazes de excluir qualquer um destes 6 jogadores - abdicamos de Óscar "Junior" Benítez, uma agradável surpresa na pré-temporada, embora tal como Cervi venha com outro andamento, em prol de maior dose de minutos para elementos como Guedes ou Fonte. Salvio parece estar a recuperar a confiança e as melhores condições físicas, Pizzi é intocável e Guedes oferece soluções como extremo-esquerdo e segundo avançado. Os 3 reforços são 3 craques: Carrillo já identificado com o campeonato português e pronto para explodir mal recupere o tempo perdido; Cervi um pequeno piolho rapidíssimo com muitas ganas de ser o novo Gaitán; e Zivkovic um prodígio como há poucos na sua idade, e que tem tudo para ter impacto imediato.

Avançados: Jonas, Kostas Mitroglou (Fulham), Raúl Jiménez, Rui Fonte
    Aqui nada se mexe. Kostas Mitroglou assinou em definitivo pelo Benfica "Because I like it". Jonas não dá indícios de querer sair e o clube não mostra estar disponível para vender o seu maior craque dando-lhe até a camisola eterna 10. Depois de nomes como Coluna, Eusébio, Chalana, Rui Costa, Pablo Aimar e Nico Gaitán, eis que Jonas surge como novo defensor da mítica camisola das águias. A sociedade entre o brasileiro e o grego promete continuar, sendo que do banco poderá sempre saltar o mexicano Raúl Jiménez para agitar o jogo. Fê-lo no ano passado em jogos fulcrais e acabou por fazê-lo também na Copa América pelo seu país. Para quarta opção, decidimos que Jovic poderia rodar noutras paragens para crescer e dar finalmente a oportunidade ao português Rui Fonte. Mostrou-se bem no Braga e tem apresentado belos pormenores nos jogos de treino recentes. Poderá não ter as características técnicas ou físicas de outros jogadores, mas tem uma inteligência em campo admirável. Em termos práticos, e salvando as devidas diferenças, é provavelmente o jogador que melhor ocuparia a posição de Jonas dentro de campo.


O que muda? Neste momento, o ideal seria mudar o menos possível. O caminho, palavra tantas vezes repetida por Rui Vitória, parece ser o certo, e a equipa tem tudo para atacar o 4.º campeonato consecutivo e nova boa campanha europeia, num nível Champions. O plantel actual garante várias e boas dores de cabeça ao treinador benfiquista, podendo estabilizar a defesa (Lindelöf-Jardel é a melhor dupla, Grimaldo o lateral esquerdo que parte na frente, enquanto que na direita entre Semedo e Almeida deve haver rotação, também considerando os adversários) mas tendo para as 4 posições mais adiantadas um lote de 10 escolhas, 7 das quais seriam titulares em circunstâncias normais.
    É evidente que qualquer equipa sofre ao perder uma referência na construção e no balneário como Nico Gaitán e um pedaço de alma e força tão grande como Renato Sanches, mas como dissemos acima parece-nos que haverá uma reinterpretação da posição 8 (a contratar alguém, embora o rumor Bentancur seja interessante, a nossa prioridade seria o sérvio Nemanja Gudelj).
    O Benfica tem, isso sim, que arrumar a casa resolvendo vários dossiers pendentes: encaixar uma quantia simpática por Talisca (provavelmente acima do valor real do jogador), venderíamos também jogadores como Carcela e Lisandro López, libertando em definitivo Nelson Oliveira, Ola John, Djuricic, Fariña, Marçal ou o flop Taarabt.
    A política made in Seixal deve manter-se. A conquista do Euro Sub-17 com 5 águias nos 6 elementos do ataque é demonstrativa do potencial que está na incubadora. Vários jogadores que abordaremos abaixo, no capítulo 'A Formação', são elementos para serem integrados como resposta às necessidades da equipa, numa gestão ano a ano, mas pensada sempre pelo menos a 3 anos. Ninguém melhor que Rui Vitória, LFV, Lourenço Coelho e Nuno Gomes para saberem o que têm em casa e os momentos certos para serem dadas as oportunidades a cada um dos vários projectos de jogador.
    A ideia de jogo/ identidade não mudará, com os novos jogadores a compreenderem a dinâmica vigente, que poderá oscilar entre o primordial 4-4-2 e um 4-2-3-1 de acordo com as características do jogador que jogar na posição de segundo avançado.


A Formação: Jogadores diferentes têm potenciais diferentes, graus de maturidade diferentes. É nesse sentido e conhecendo bem o universo da formação encarnada, que nos parece que o Benfica deve acrescentar apenas João Carvalho aos quadros da primeira equipa.
    Não obstante, e assim como somos defensores de que o Benfica B deveria trocar Hélder Cristovão por um treinador mais capaz, parece-nos que elementos jovens mas contratados recentemente como Luka Jovic e Ivan Saponjic beneficiariam em ser emprestados (Belenenses e Setúbal, respectivamente?), tal como João Teixeira, Dawidowicz, Guzzo ou Mukhtar. Depois da evolução que Fábio Cardoso, agora jogador do Vit. Setúbal, teve nos últimos anos, João Nunes devia seguir o mesmo caminho, crescendo como titular numa equipa da Liga NOS. De resto, os empréstimos já anunciados de Nuno Santos e Rebocho seguiram precisamente essa lógica.
   Encaramos de forma diferente jogadores como Pedro Rodrigues, Diogo Gonçalves, Guga e mesmo Gilson Costa, preparados para fazer uma época completa na equipa B, e podendo socorrer o plantel principal em caso de necessidade.
    Por fim, é fundamental que o Benfica continue a oferecer novos desafios e a possibilitar que os seus maiores craques cresçam em escalões acima da sua idade, mas de acordo com o seu nível. Assim, José Gomes e João Filipe, que têm tudo para ser opções na equipa A a médio-prazo, devem alternar entre os juniores e a equipa B; enquanto que jogadores como Gedson e Florentino devem tornar-se figuras dos juniores, deixando Pedro Rodrigues e Guga crescerem na B até lhes concederem lugar. Parece-nos recomendável que estes 4 (Zé Gomes, João Filipe, Gedson Fernandes e Florentino Luís), bem como o promissor mas ainda imprevisível Úmaro Embaló, completem a sua caminhada até à equipa principal sempre "em casa", sem nunca serem emprestados. Um pouco o que defendemos para Renato Sanches, e que fazemos este ano para João Carvalho.

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