6 de janeiro de 2021

As Melhores Séries de 2020

Avaliadas as melhores novidades e os melhores episódios, encerramos o nosso olhar sobre 2020 com o que realmente importa: as Melhores Séries do ano.
    Ao comparar este Top-20 com a edição de 2019 (Mr. Robot, Fleabag, Succession, Dark, Watchmen, Chernobyl, When They See Us, Barry, Euphoria e Catastrophe foram os nossos 10 primeiros classificados num ano difícil de bater num futuro próximo) são apenas 4 as séries que repetem presença - BoJack Horseman, Dark, The Crown e What We Do in the Shadows.
    Num ano sabático para Atlanta, Succession e Barry, despedimo-nos em definitivo da melhor série original Netflix até à data, com o fim da Parte 2 da sexta temporada de BoJack, assistindo ainda ao terceiro e último ciclo de Dark.

    O nosso Top-20 combina 10 novidades e 10 séries que já cá andavam; tem na Netflix a plataforma mais representada (8 séries), traduzindo ainda o hábito da HBO em privilegiar qualidade em relação a quantidade (temos apenas 4 séries da Home Box Office, mas as quatro surgem entre os primeiros 10 destaques).
    No geral, queremos esquecer 2020 o mais rapidamente possível, mas estas 20 séries ajudaram-nos a distrair e suportar um ano que, sem elas, teria passado ainda mais devagar.




1. Better Call Saul (AMC)criado por Vince Gilligan e Peter Gould

(92) - Better Call Saul foi, sem margem para dúvidas, o melhor que a televisão fez em 2020. Muitas vezes a anos-luz de toda a sua concorrência com a sua cinematografia e com a sua escrita inigualável, BCS é, no mínimo, tão bom quanto Breaking Bad.
    Nenhuma série teve tantos episódios do outro mundo em 2020 ("Wexler v. Goodman", "JMM", "Bagman", "Bad Choice Road" e "Something Unforgivable" quase não nos deixaram respirar, e obrigaram-nos sim a conter a baba), abrindo o apetite para uma sexta e última temporada que, tudo indica, vai tocar o céu. E por favor, que um dia Rhea Seehorn tenha o reconhecimento que há muito merece com a melhor personagem feminina e um dos melhores desempenhos dos últimos largos anos.


2. BoJack Horseman (Netflix)criado por Raphael Bob-Waksberg

(90) - A melhor série original da Netflix. Na Parte 2 da sua sexta e última temporada, BoJack Horseman despediu-se em grande. Numa resolução serena, capaz de nos ter feito temer o pior dos destinos para o cavalo antropomórfico com voz de Will Arnett, a série de animação levou o seu protagonista ao purgatório para depois o deixar encontrar a paz possível, um ponto e vírgula, numa dança com Princess Carolyn, numa última missão inusitada com Mr. Peanutbutter, à beira-mar com Todd e num telhado estrelado ao lado de Diane.
    Foi bom enquanto durou, disse o último capítulo, e "The View from Halfway Down" foi o melhor episódio de 2020. 


3. Dark (Netflix)criado por Baran bo Odar e Jantje Friese

(88) - Avaliando tudo, Dark teve o seu apogeu na 2.ª temporada, mas o ciclo final não foi muito menos brilhante, conseguindo atar todas as pontas soltas, apresentar respostas e enrolar um novelo que deu tanto gosto desenrolar.
    Aquela que foi uma das séries mais exigentes e fascinantes deste século, terminou sem defraudar expectativas, preservando o estatuto de uma das melhores obras audiovisuais com viagens no tempo e entendendo que o sacrifício de realidades e memórias era o único caminho para garantir a coesão integral de uma história que dará gosto revisitar daqui a uns anos.
    "Between the Time" foi o "An Endless Cycle" desta temporada, "Deja-vu" um exemplo de rigorosa e perfeccionista pré-produção e cenografia, e Claudia Tiedemann saiu como mais inteligente do que nós todos juntos. Veremos tudo o que o casal Baran bo Odar e Jantje Friese fizer.


4. My Brilliant Friend (HBO)criado por Saverio Costanzo

(87) - Num ano em que a HBO teve Luca Guadagnino a dirigir uma mini-série, foi outro realizador italiano que voltou a brilhar. A par das suas protagonistas, Lenù e Lila, My Brilliant Friend amadureceu e cresceu além das contidas fronteiras daquele pequeno bairro de Nápoles.
    Impressiona pela forma astuta como serpenteia entre conceitos tão complexos como a amizade, o amor, a inveja, a ambição e o talento, com fantasmas maternais e contos queimados a pontuarem uma série genial, sustentada nos portentosos desempenhos de Margherita Mazzucco e Gaia Girace e que voltou a encantar na ilha de Ísquia.


5. I May Destroy You (HBO)criado por Michaela Coel

(85) - A melhor nova série de 2020 para o Barba Por Fazer. A dramédia de Michaela Coel provou ser um exercício em busca de cura, um anagrama de abuso sexual desconstruído progressivamente, à medida que a memória ferida e o recalcamento se tornam a serenidade possível.
    Se é verdade que tantos filmes e séries têm aproveitado o movimento #MeToo numa manobra pertinente sim mas também pontualmente oportunista, I May Destroy You é uma adequada bandeira do movimento, sendo relevante em todo e qualquer momento pela sua coragem e originalidade.
    É a catarse de 2020, justificando-se a eleição de Michaela Coel como uma das figuras televisivas do ano graças a um retrato da gestão de um trauma e da vida depois.


6. Dave (FXX)criado por Dave Burd e Jeff Schaffer

(84) - Durante a primeira vaga da pandemia, o FXX estreou uma série que dava ares de Atlanta e Ramy. E após um começo descontraído, Dave revelou-se uma das grandes surpresas do ano. Dave Burd/ Lil Dicky é o rapper neurótico, acelerado e ansioso no centro de tudo, dando a sensação que esta poderia ser uma série de Woody Allen se o realizador de 85 anos tivesse nascido nos anos 80 e gostasse de rap.
    Um poço de criatividade, com 3 dos melhores episódios do ano, e que ter-nos-á na primeira fila quando enfrentar o famoso "teste da segunda temporada".


7. The Queen's Gambit (Netflix)criado por Scott Frank e Allan Scott

(83) - Possivelmente o principal fenómeno televisivo de 2020. The Queen's Gambit não demorou a tornar-se a série da moda quando estreou na Netflix em finais de Outubro e assim foi justificadamente. A mini-série ficcional sobre a prodigiosa órfã Beth Harmon (Anya Taylor-Joy, cada vez mais uma estrela) teve impacto social, fazendo disparar a prática de xadrez, e serviu de prova dos nove para o absurdo talento da sua protagonista, que aos 24 anos já brilhara em The Witch e Split, tendo agora o statuos quo para corresponder ao peso de herdar a Furiosa de Charlize Theron, na origin story de George Miller.
    Sucessora de Chernobyl enquanto mini-série universal e de apelo global do ano, The Queen's Gambit coreografou dependências, vícios e génios, fazendo cheque-mate ao tornar o xadrez dinâmico e emocionante. 


8. The Last Dance (Netflix)criado por Jason Hehir

(82) - Uma das melhores coisas que 2020 nos deu. A co-produção ESPN e Netflix tornou-se consumo obrigatório para qualquer adepto da NBA e mesmo para qualquer fã de desporto em geral. Com maior foco em Michael Jordan e na sua última época nos Chicago Bulls (1997-98), The Last Dance provocou aquela sensação reconfortante de quem logo no final do 1.º episódio sabe que tem pela frente uma jornada incrível e histórica para assistir.
    Naturalmente pró-Jordan, The Last Dance é mais entretenimento do que jornalismo, e é um daqueles documentários (8 horas e 11, ao longo de dez capítulos) capazes de captar a mística, a grandeza e os bastidores de uma Lenda.


9. How to With John Wilson (HBO)criado por John Wilson

(82) How to with John Wilson é uma série bem difícil de descrever. É seguramente diferente e original, parecendo em teoria impossível "vender" a elevada qualidade de uma série documental que se preocupa em responder a questões tão mundanas: por exemplo, como fazer conversa fiada, como cobrir e proteger a mobília, como dividir a conta ou como cozinhar o risotto perfeito.
    O conselheiro e narrador John Wilson consegue uma série simultaneamente sobre tudo e sobre nada, com a sua lente a captar Nova Iorque e a humanidade com uma improvável profundidade. É poesia contemporânea.


10. We Are Who We Are (HBO)criado por Luca Guadagnino, Paolo Giordano, Francesca Manieri e Sean Conway

(81) - Nenhuma série da HBO foi "tão HBO" este ano como We Are Who We Are. Experimental, irreverente, carregada de juventude e de liberdade, a série 100% realizada pelo italiano Luca Guadagnino (Call Me By Your Name) preencheu q.b. o vazio de não termos tido Euphoria (à excepção de um episódio especial) este ano, e ousou fotografar a sexualidade em todo o seu prisma e a adolescência com toda a sua efervescência. Jordan Kristine Seamón, Jack Dylan Grazer, Corey Knight e Spence Moore II são nomes que não devemos esquecer nos próximos anos.


11. Ramy (Hulu)criado por Ramy Youssef, Ari Katcher e Ryan Welch

(81) - Após uma sólida temporada de estreia, Ramy acrescentou Mahershala Ali ao seu elenco. Algo que é quase batota, convenhamos. Ramy Youssef continua a ser uma das vozes mais cativantes da caixa mágica e um fiel seguidor da tendência de dramédias de 30 minutos, à medida que reflecte sobre a fé e vive as suas guerras interiores.
    Em Ramy, todos os membros da família vão tendo paulatinamente o holotofe sobre os seus problemas, medos e sonhos. Com episódios intitulados "Miakhalifa.mov" e "3riana grande", o sétimo capítulo terá sido o ponto mais baixo da série até ao momento, numa temporada com óptimos episódios sobre os pais, Farouk e Maysa.


12. Normal People (BBC Three, Hulu)criado por Sally Rooney

(81) - O erotismo e a sensibilidade de Normal People marcaram de forma vincada o ano televisivo de 2020. Por vezes pesada e emocionalmente exigente ou mesmo esgotante, a série da BBC Three e do Hulu revelou-se um daqueles casos raros em que dois actores se entregam totalmente, um ao outro, ao texto e às câmaras, e deixam a sua vulnerabilidade transpor os limites do ecrã.
    Paul Mescal e Daisy Edgar-Jones, duas revelações de 2020 para acompanhar ao longo desta década.


13. Unorthodox (Netflix)criado por Anna Winger

(81) - Têm sempre mérito os autores que se revelam capazes de colocar no ecrã um ambiente ou um POV que o cinema e a televisão pouco visitam ou assumem. Unorthodox (4 episódios, perfazendo um total de 3 horas e 33 minutos) combinou o inglês, o alemão e o ídiche e mostrou o judaísmo hassídico, as suas tradições e uma comunidade ultraortodoxa em Nova Iorque.
    Shira Haas (difícil acreditar que tem 25 anos) brilhou com um desempenho monumental como Esty, numa mini-série que só não surge mais acima na nossa lista porque o clímax (musical) do 4.º episódio não "bateu" tanto como deveria.


14. The Crown (Netflix)criado por Peter Morgan

(80) - E à quarta temporada, The Crown abanou o Reino Unido pela sua representação, pela primeira vez não tão favorável, dos membros da coroa. E porque é que isto aconteceu? Ora, porque a série introduziu finalmente... a Princesa Diana.
    Independentemente de quanto mais verídico ou ficcional é o conteúdo, Peter Morgan é um indiscutível mestre na arte de contar uma história (diferente de "a história") e The Crown sabe como poucas séries criar e trabalhar expectativas. Na temporada mais polémica das quatro, brilharam as figuras que não nasceram em berço de ouro: Margaret Thatcher (Gillian Anderson) e a Princesa Diana (um aplauso de pé para o casting da desconhecida Emma Corrin).
    Quando voltar será com Imelda Staunton, Jonathan Pryce, Lesley Manville e Elizabeth Debicki. Promete.


15. Sex Education (Netflix)criado por Laurie Nunn

(79) - Sex Education é bem capaz de ser a série original da Netflix com maior potencial para durar mais tempo. É que, se por exemplo Stranger Things ganha com uma pausa mais prolongada entre temporadas e com os seus protagonistas a amadurecer também na vida real, a série leve de Laurie Nunn é um lugar bem confortável, com muita margem de crescimento e com enorme habilidade a trabalhar todas as suas personagens.
    Tendo a sororidade na última fila de autocarro como ponto alto emocional, a 2.ª temporada fez-se de encontros e desencontros, deixando bem claro que nesta história não existem personagens vazias.


16. The Boys (Amazon)criado por Eric Kripke

(79) - Sem nunca fugir ao seu lado de crítica social e cínica abordagem política, a sangrenta série de super-heróis da Amazon manteve a fasquia elevada, com a relação antagónica de Billy Butcher (Karl Urban) e Homelander (que fantástica personagem vem construindo Antony Sarr) a conhecer novos limites, e Aya Cash a apimentar a narrativa com a perversão moral da sua Stormfront.
    Eric Kripke sabe como terminar uma temporada, mas talvez fosse benéfico The Boys voltar ao formato de 2019, com todos os episódios a serem disponibilizados de uma vez.


17. Ozark (Netflix)
criado por Bill Bubuque e Mark Williams

(78) - Com Tom Pelphrey como extraordinário reforço enquanto irmão de Wendy e doente bipolar, acrescendo imprevisibilidade e carisma, Ozark regressou dois anos depois com Laura Linney cada vez mais protagonista e uma temporada, no seu todo, mais forte do que as duas anteriores.
    O quarteto de episódios final, à responsabilidade de Alik Sakharov, foi do melhor Drama que vimos em 2020, e tanto Jason Bateman como Julia Garner continuam em grande forma, porque não sabem estar de outra maneira.
    Uma série da qual pensámos desistir em 2018 mas que, hoje cada vez mais longe de motivar comparações com Breaking Bad e beneficiando ao ter a inteligência ou humildade de estrear em alturas com poucas grandes séries como concorrência, contará connosco na 4.ª e última temporada, dividida em duas partes.


18. Devs (FX)
criado por Alex Garland

(78) - Tendo Alex Garland realizado Ex Machina e Annihilation, emergindo assim como um semi-Deus na ficção científica recente (num raciocínio em que o estatuto de Deus pertence, seguramente, a Denis Villeneuve), esperávamos francamente mais de Devs.
    Com uma banda sonora inconfundível, vários cenários, uma atmosfera e momentos imageticamente memoráveis, Nick Offerman num papel bem afastado do seu typecast e Zach Grenier a interpretar uma excelente personagem, Devs navegou filosoficamente entre os conceitos de livre arbítrio e determinismo. Foi, no entanto, uma série penosa em alguns episódios, falhando também na criação de empatia entre a personagem principal (Sonoya Mizuno como Lily) e o espectador.


19. What We Do in the Shadows (FX)criado por Jemaine Clement

(77) - Numa fase da televisão em que tantas comédias apostam numa abordagem mais complexa e completa, recusando-se aos limites de género, a vampiresca What We Do in the Shadows é bem capaz de ser a comédia mais determinada em atingir o objectivo mais simples de um produto humorístico tradicional: fazer rir.
    A 2.ª temporada não apresentou a consistência da primeira (esta série do FX ocupou o 11.º lugar nas nossas Melhores Séries de 2019) nem teve episódios da excelência de Baron's Night Out e The Trial, mas cumpriu o seu propósito com especial destaque para o enredo relativo à promoção de Colin Robinson e Jackie Daytona, um memorável disfarce num episódio com Mark Hamill como convidado.


20. Ted Lasso (AppleTV+)criado por Jason Sudeikis, Bill Lawrence, Joe Kelly e Brendan Hunt

(77) Ted Lasso foi tudo aquilo que 2020 não foi. Num ano pesado, sofrido, cansativo e claustrofóbico, a série desportiva da AppleTV+ com Jason Sudeikis como protagonista foi uma espécie de medicamento: um produto alegre e esperançoso com uma energia e optimismo contagiantes. Ponto de partida? Um treinador da NFL (futebol americano) que é contratado para orientar uma equipa da Premier League. Podem contar connosco para as próximas temporadas, porque também são precisas séries assim.

0 comentários:

Enviar um comentário