26 de junho de 2019

Sporting 19/ 20: Ficar Mais Perto sem Bruno Fernandes

Na sequência do que fizemos nas nossas redes sociais para 18 equipas do panorama europeu, iniciamos hoje um conjunto de 3 artigos sobre os "grandes" portugueses. Num exercício especulativo, que procurará antecipar os possíveis plantéis de Benfica, Porto e Sporting, alterações significativas no jogar (os treinadores e as ideias mantêm-se, mas novos jogadores com novas características implicam sempre mudanças) das equipas, sem deixar de olhar para o sector de formação de cada emblema. O que apresentamos abaixo é um ponto de encontro e um meio termo entre o que achamos será feito e o que faríamos tendo poder de decisão, procurando ter presente algum realismo. Já agora, uma curiosidade, há 1 ano atrás na constituição do nosso Sporting 18/ 19 constava... Raúl de Tomás.
    Há um ano atrás quando lançámos o Sporting 2018/ 19 escolhemos como título "Pós-Guerra". Os leões tinham múltiplas feridas para sarar - o ataque à Academia estava vivo na memória de todos, Bruno de Carvalho era um fantasma presidencial que podia reaparecer a qualquer momento e a nível de plantel, Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins, Rafael Leão, Rúben Ribeiro e Daniel Podence rescindiram os contratos, alegando justa causa, e abandonaram mesmo o clube. Na altura, Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia também o fizeram, mas recuaram e seguiram de leão ao peito. Sousa Cintra aguentou o barco, depois veio Varandas; José Peseiro começou a época como treinador tendo como sucessor o holandês Marcel Keizer, uma aposta arriscada mas que veio a revelar-se acertada.
    O Sporting reergueu-se e menos de 1 ano depois de muitos temerem que os leões terminassem a época atrás do Braga ou mesmo do Vit. Guimarães, o clube de Alvalade fechou a época no pódio. É certo que ficou a 13 pontos do campeão Benfica e a 11 do Porto, mas marcou apenas menos 2 golos que os dragões (74 contra 72) e sofreu apenas mais 2 golos do que o Benfica (33 contra 31). Mais importante: o museu do clube ganhou uma Taça da Liga e uma Taça de Portugal, competições conquistadas diante do Porto e decididas ambas nas grandes penalidades.

    Em 2019/ 20 reina felizmente a estabilidade. Marcel Keizer terá finalmente a oportunidade de trabalhar com os seus jogadores na pré-época, e quererá por certo ver atletas que estavam emprestados ou noutros escalões (Sub-23 ou juniores). A presença na fase de grupos da Liga Europa está assegurada, o que ajuda a retirar pressão do grupo (o FC Porto por exemplo jogará uma parte importante da época logo em Agosto no acesso à Champions), e o primeiro jogo oficial da época será a Supertaça Cândido de Oliveira, diante do rival lisboeta no dia 4 de Agosto.
    No geral, o principal desafio dos leões, cuja importância sublinhamos no título, será conseguir a aproximação ao 1.º lugar (sinceramente não achamos que faça sentido na comunicação para fora o Sporting assumir-se como um candidato quando não vence desde 2002, mas naturalmente essa ambição não pode ser perdida) isto numa época em que o clube deve perder quase de certeza o MVP da última Liga, Bruno Fernandes, o capitão que carregou o Sporting jogo após jogo. 

O Plantel


  • Guarda-Redes: Renan Ribeiro . Luís Maximiano . Diogo Sousa
  • Defesas: Valentin Rosier (Dijon) . Stefan Ristovski . Sebastián Coates . Neto (Zenit) . Jérémy Mathieu . Ivanildo Fernandes . Cristián Borja . Marcos Acuña
  • Médios: Rodrigo Battaglia . Idrissa Doumbia . Wendel . Eduardo Henrique (Internacional) . Nemanja Gudelj . Ruslan Malinovskyi (Genk)
  • Extremos: Raphinha . Matheus Pereira . Gonzalo Plata . Abdoulay Dyaby . Iuri Medeiros
  • Avançados: Bas Dost . Luiz Phellype . Luciano Vietto (Atlético Madrid)
Gostávamos de ver na Pré-Época: Eduardo Quaresma, Nuno Mendes, Thierry Correia, Daniel Bragança, Félix Correia, Gélson Dala
Emprestar: Bruno Paz, Miguel Luís, Bernardo Sousa, Jovane Cabral, Diogo Brás, Pedro Marques, Pedro Mendes
* dos jogadores que gostávamos de ver na pré-época, quase todos deverão acabar depois emprestados ou nos Sub-23

    Começando pela baliza, admitimos que quando foi noticiado que o Sporting estaria interessado no guardião do Rio Ave, Léo Jardim, sentimos que a sua aquisição seria um upgrade em relação a Renan. No entanto, e porque entretanto foi apontado ao Mónaco, clube do seu homónimo Leonardo Jardim, o mais provável é o Sporting atacar 19/ 20 depositando total confiança em Renan. Em boa verdade, o ex-Estoril de 1,93m fez por merecer esse voto. Sem ser Rui Patrício, injusto termo de comparação para qualquer sucessor, realizou uma temporada muito competente e estável, sendo decisivo na conquista das taças. Com a saída de Salin, Luís Maximiano ascende a nº 2 e é possível que seja Diogo Sousa a completar o leque de opções.

    Na defesa, a continuidade da dupla Coates-Mathieu era muito importante e já é um dado adquirido. André Pinto parece descartado e a eterna promessa Tiago Ilori (em teoria tem as características para ser um grande central, mas há muito que não confirma o seu potencial) é inferior aos restantes 2 centrais que colocamos neste elenco - Neto chegou a custo zero e traz experiência, e Ivanildo Fernandes merece permanecer no plantel leonino após excelente campanha pelo Moreirense.
    Do lado esquerdo da defesa, tudo igual. Borja e Acuña (depois de Bruno Fernandes é um dos jogadores com mercado portanto não é certo que continue) são jogadores diferentes, um menos indisciplinado do que o outro, e têm ainda a seu favor o facto de tornarem o esquema de Keizer mais versátil ou adaptável - Borja porque pode jogar a central do lado esquerdo numa defesa a 3, e Acuña uma vez que faz todo o corredor. No lado oposto, Ristovski é um jogador competente mas é necessário um titular absoluto para a posição. Bruno Gaspar deixou claro que não é esse jogador, recomendando-se que seja vendido, estando o Sporting alegadamente a negociar o francês Rosier. O lateral do Dijon conjuga a assertividade defensiva com uma boa progressão no terreno, associando-se bem em triangulações e revelando técnica acima da média, essencial para que o Sporting ultrapasse a 1ª fase de pressão de um modo mais fluido e descomplexado. É nos detalhes que se fazem as diferenças entre as grandes equipas, e a simples diferença, embora residual, entre um jogador que recebe o esférico e o deixa orientado ao primeiro toque e outro que o faz em dois toques, tem o seu peso.

    A pré-época dirá qual o esquema táctico que será a base deste novo Sporting, essencialmente atendendo à perda gigante que pode ser a transferência de Bruno Fernandes e à chegada de um reforço como Vietto. Mas esse raciocínio fica para o separador seguinte. Entre os médios (que poderão ser 2 ou 3 habitualmente titulares), o regresso de Battaglia ao grupo será sentido por Keizer e pelo plantel como um reforço. O argentino é um dos principais activos do clube e, tendo contraído a sua grave lesão quando Tiago Fernandes era o treinador interino, não cumpriu qualquer minuto em campo com Keizer como treinador.
    Miguel Luís beneficiaria em ser emprestado, Doumbia (muita curiosidade para vê-lo esta época), Wendel e Gudelj (não deslumbrou e está longe de ser o jogador que era antes de rumar à China mas apoiamos a sua contratação em definitivo) são para continuar, ganhando o Sporting em concretizar o seu interesse em 2 dos seus alegados alvos. Eduardo Henrique chamou-nos à atenção no Belenenses SAD e pode surpreender pela positiva na transição para um grande, dado o seu amplo raio de acção e passada larga, enquanto que na busca do impossível - encontrar um jogador que preencha a vaga de Bruno Fernandes - o ucraniano Malinovskyi parece-nos melhor escolha do que Robertone. É certo que o talentoso argentino do Vélez é 4 anos mais novo, mas o craque do Genk é mais jogador, esquerdino e tem uma meia distância muito interessante, valência que o Sporting perderá com a saída do seu capitão. Achamos mais provável o Sporting contratar Robertone, mas preferíamos Malinovskyi.

    Entre os extremos, é possível oferecer a Keizer um leque de 5 opções diferenciadas e ricas sem ir ao mercado. Raphinha (ser-lhe-á exigido que se torne um dos jogadores mais decisivos no último terço, tal como era em Guimarães) e Diaby transitam da temporada passada, e a promoção do equatoriano Gonzalo Plata à primeira equipa é obrigatória após as espectaculares indicações que deixou no Mundial Sub-20. Por fim, temos dúvidas que isto venha a ser feito, mas no lugar de Keizer tudo faríamos para que Matheus Pereira e Iuri Medeiros tivessem oportunidade de agarrar finalmente um lugar na pré-época, apostando em ambos de forma continuada. Têm muito para dar, 23 e 24 anos, e este pode ser o momento deles.

    À frente, somos contra a venda de Bas Dost. O ponta de lança é um dos jogadores que mais sente o clube e tem 92 golos em 122 jogos pelo Sporting. Luiz Phellype acabou 2018/ 19 como titular, estatuto que merece conservar no arranque da nova época, e Luciano Vietto é um talento que desiludiu no Fulham, no Valência e no Atlético Madrid, mas caso se aproxime cá do nível que apresentou no Villarreal pode tornar-se um caso sério.


O que muda? O 4-3-3 foi o esquema mais utilizado por Marcel Keizer em 2018/ 19, um desenho que permitiu a Bruno Fernandes ser o médio mais avançado e com melhor ligação e aproximação aos extremos e à referência ofensiva, embora o capitão e motor dos leões jamais se negasse a responsabilidades defensivas e à procura de equilíbrio. Ainda assim, Keizer chegou a experimentar outras nuances esquemáticas, nomeadamente uma defesa a 3.
    Assumindo que Bruno Fernandes sairá mesmo, e tendo em consideração a chegada de Vietto, algumas coisas terão que mudar em Alvalade. Embora possa jogar descaído para a direita, o argentino é sobretudo um segundo avançado que gosta de surgir entre linhas e encarar a defesa de frente, liberto da marcação aplicada à referência (Dost ou Phellype) em torno da qual irá orbitar. Ora, a procura do conforto de Vietto permite adivinhar um 4-4-2 com Luiz Phellype e Vietto na frente, não sendo de excluir um 3-5-2. Tendo sempre presente o nosso plantel, um meio-campo a 3 com Battaglia / Wendel / Malinovskyi reúne vários predicados, eliminando o Sporting um banco com Petrovic's e passando a contar com um promissor 6 (Doumbia) e dois médios completos (Eduardo e Gudelj), qualquer um dos 3 capaz de assaltar a titularidade.
    Um 4-4-2 que permita o ideal casamento no sector mais adiantado dificultará sempre a vida aos extremos que indicamos acima. Enquanto que num 4-3-3 o quinteto Raphinha, Matheus, Plata, Diaby e Iuri sai beneficiado, num 4-4-2 a tendência de Keizer poderá passar pela aposta em apenas um, tendo um extremo ofensivo que rasgue o jogo e incuta velocidade e imaginação, equilibrando o tabuleiro a partir do flanco contrário com um interior. Importa já agora referir que os 5 extremos que defendemos neste Sporting 2019/ 20 são todos esquerdinos, uma situação invulgar mas que pode ser utilizada em benefício do processo de tomada de decisão no último terço - veja-se o exemplo do rival Benfica que com Rui Vitória privilegiava Salvio-Cervi, extremos com os pés "certos" o que ditava um futebol de cruzamento e mais previsível, os adeptos encarnados pediram muito tempo Rafa - Zivkovic, extremos de pés trocados cuja tendência seria ganhar jogo interior e combinações, visando mais a baliza, mas Lage acabou a optar pelo melhor de dois mundos (Rafa - Pizzi), ambos destros, e com funções bem distintas.
    Essencialmente, Keizer tem tudo para ganhar em 19-20 boas dores de cabeça, tendo ao seu alcance um conjunto de opções que permitem vários testes na pré-época, jogar por fora e por dentro, com potencial para o colectivo render mais e suprir através do todo a saída do quase one-man-team Bruno Fernandes.



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A Formação: Com evidentes melhorias na prospecção (só um departamento a funcionar bem seria capaz de "descobrir" Doumbia e Plata), um dos principais atrasos do Sporting em relação aos 2 rivais neste momento é a inexistência de Sporting B, algo que teoricamente deverá voltar embora não seja uma realidade presente. Para jogadores como Joelson Fernandes, Félix Correia ou Daniel Bragança faria toda a diferença poderem continuar a evoluir sob a alçada do clube mas a competir na II Liga. A Liga Revelação, com as equipas Sub-23, está muito longe de oferecer aos atletas os mesmos estímulos, e nesta fase - ao contrário do que o Porto pode fazer com Fábio Silva e Fábio Vieira, ou o Benfica com Úmaro Embaló e os laterais Tavares - o Sporting terá que decidir se prefere arriscar e colocar a "rodar" um jovem talento de 19 anos, ou conservá-lo nos Sub-23 sob o risco de estagnar (ex: Diogo Brás).
    Além dos jogadores que referimos que gostávamos de ver na pré-época ou que emprestávamos (indicarmos um jogador desde logo para empréstimo não implica que acreditemos menos nele do que naqueles que gostaríamos que integrassem a pré-época, tratando-se sim de jogadores que nos parece essencial que tenham esta época mais de 2.500 minutos de I Liga nas pernas), importa não esquecer o diamante Joelson Fernandes. As mais recentes fornadas de Alcochete deram poucos frutos, mas ainda há margem para vários elementos nascidos em 1999 e 2000 queimarem etapas e desenvolverem-se fora. Isto porque à partida ainda é cedo para começar a lançar a geração de 2002 (Eduardo Quaresma, Nuno Mendes, João Daniel, Tiago Ferreira, etc., na qual Joelson joga também embora seja um ano mais novo).

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