5 de junho de 2019

Balanço Final - Premier League 18/ 19

  Premier League - Se ainda existia alguém com dúvidas em relação a qual era a melhor Liga do Velho Continente, 2018/ 2019 ajudou a coroar aquela que já há muitos anos é a competição mais emocionante, disputada e imprevisível, um vício para qualquer amante de futebol. Desta vez, foram 98 pontos contra 97, num ombro-a-ombro entre as equipas de Pep Guardiola e Jürgen Klopp que permitiu ao Manchester City (6 títulos) o primeiro bicampeonato da sua História. Convém lembrar que de 2009 para cá, o vencedor da Premier League mudou todos os anos, juntando-se ao feito da turma de Pep a conquista do 1.º triplete interno (Premier League, FA Cup e Taça da Liga). Inédito, impressionante, imortal.
    Num campeonato em que, entre citizens e reds, ninguém merecia perder, a corrida ao título decidiu-se em pequenos pormenores e margens mínimas. O Liverpool, que vários jogos venceu no final com "estrelinha" permitindo acreditar que era desta que os astros estavam alinhados, perdeu apenas 1 jogo em toda a prova - precisamente no campo do campeão City, por 2-1. No final, faltou estofo à equipa de van Dijk, Salah, Mané e companhia. Quando dia 3 de Janeiro, na jornada 21, o City recebeu o Liverpool, 7 pontos separavam os dois emblemas na tabela; o Liverpool perdeu a hipótese de deixar o campeão em título KO, e viu a distância reduzir para 4 pontos, uma marca que progressivamente deixou de existir (mesmo quando o City escorregou no terreno do Newcastle, o Liverpool não foi capaz de aproveitar diante do Leicester), vencendo os azuis celeste de Manchester as 14 últimas rondas da Liga (e 18 dos últimos 19 jogos).
    Esta edição da Liga dos dois finalistas (Liverpool e Tottenham) daquela que foi a mais entusiasmante Champions League dos últimos anos, ficou marcada por um certo central holandês que não se deixou driblar em momento algum durante toda a prova, pela magia do nosso Bernardo Silva, pela vertigem e objectividade de um Sterling cada-vez-mais ao nível dos melhores do mundo, pelo provável adeus do craque Hazard e pelo apoio incansável dos laterais Robertson e Alexander-Arnold. No geral, o "português" Wolves afirmou-se como equipa-sensação (7.º lugar no primeiro ano pós-Championship), revelando-se um quebra-cabeças para os grandes; e entre a batuta de Mourinho e Solskjaer, o Manchester United oscilou entre a depressão e a esperança, acabando num 6.º lugar que sugere uma profunda reflexão interna. Embora a anos-luz dos sensacionais City e Liverpool, Chelsea e Tottenham conseguiram fechar o campeonato dentro do Top-4. Para o Championship descem Huddersfield, Fulham (gigante investimento sem retorno) e Cardiff.

    Acompanhem-nos então numa análise à época das 20 equipas da Premier League, sistematizando ideias-chave, o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou e quem desiludiu:



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 MANCHESTER CITY (1)

    100 pontos em 2018, 98 pontos em 2019. Em duas épocas, o Manchester City somou 198 pontos em 228 possíveis. Simplesmente do outro mundo!
    A 1.ª equipa da História a conquistar em Inglaterra o triplete (Premier League, FA Cup e Taça da Liga) num ano, teve pela frente um Liverpool quase perfeito, acabando por justificar a vantagem marginal ao ser a única equipa que venceu os reds em 38 jornadas. Além da vitória em casa por 2-1, com Agüero e Sané a servirem de heróis, o City empatou 0-0 em Anfield, num jogo em que até desperdiçou um penalty aos 86'.
    No boxing day e depois de 3 derrotas (Chelsea, Crystal Palace e Leicester) em 4 jornadas o campeão parecia encaminhado. Mas os campeões em título arrancaram para uma recta final assombrosa - 18 vitórias nos últimos 19 jogos. E tudo isto com o melhor jogador da equipa, Kevin De Bruyne, a falhar grande parte da época.
    Na ausência do belga, o nosso Bernardo Silva assumiu em iguais medidas o papel de maestro e operário, disparando Sterling para um patamar em que começa a não ser totalmente descabido pensar nele como um finalista da Bola de Ouro num futuro próximo, algo impensável antes de Guardiola "pegar" no extremo inglês. Agüero voltou a marcar golos decisivos, marcando inclusive hat-tricks quase consecutivos contra Chelsea e Arsenal, Fernandinho voltou a ser o porto de abrigo da equipa, realizando ainda Laporte e Gündogan as suas melhores épocas em Inglaterra. Por fim, uma palavra em relação a Leroy Sané: que abismal disparate seria o City entender o craque alemão como transferível neste defeso!
    Numa época de sonho - 50 vitórias em 61 jogos, um total de 169 golos marcados - ficou apenas a faltar a Champions, o derradeiro desafio de Pep e o motivo que nos faz crer que estes citizens (a quem falta apenas estofo europeu) manterão os índices altos e a mesma fome para o ano.

Destaques: Raheem Sterling, Bernardo Silva, Kun Agüero, Fernandinho, Aymeric Laporte

Imagem relacionada LIVERPOOL (2)

    Quando se faz 97 pontos, se tem apenas uma derrota em toda a prova e se toca o céu... mas o céu continua azul celestre. Quando no começo da época apontámos o Liverpool como o provável 2.º classificado nunca na vida imaginámos que os reds complicariam tanto a vida ao campeão Manchester City, deixando o título em aberto até à última jornada.

    A equipa de Jürgen Klopp bateu recordes e, com 97 pontos, teria sido campeã em quase todas as edições da divisão máxima inglesa. Terminando com mais 22 (!) pontos do que na temporada anterior, tudo parecia estar escrito para que esta época fizesse regressar ao museu do clube da cidade de Anfield um troféu que escapa desde 1990. Depois de um investimento cirúrgico (Alisson, Fabinho, Keita e Shaqiri), o Liverpool manteve-se um exemplo na hora de contra-atacar e na reacção à perda da bola, asfixiando adversários com a sua energia e atitude. Salah baixou o rendimento mas acabou mesmo assim como um dos 3 melhores marcadores da prova, trio do qual também fez parte Sadio Mané, e os laterais Robertson (11 assistências) e Alexander-Arnold (12) deram corpo à dinâmica e alimentaram a todo o gás uma equipa que melhorou a olhos vistos a nível defensivo - 38 golos sofridos em 2017/ 18 contra apenas 22 desta vez. Para isso, muito contribuiu a segurança dada pelo reforço Alisson e a super-época de van Dijk, um patrão que em momento algum se deixou driblar ao longo de toda a Premier League. É qualquer coisa...
    Vencedor da Champions (nunca esqueceremos aquela reviravolta histórica diante do Barcelona), o Liverpool teve "estrelinha" no final de vários jogos, mas acabou por desperdiçar uma vantagem que chegou a ser de 7 pontos, mostrando menos "estofo" que o City na segunda volta. Depois da derrota por 2-1 no Etihad, os reds - que até nem cederam qualquer ponto nas 9 jornadas finais - hipotecaram o título com 4 empates (Leicester, West Ham, Manchester United e Everton) no espaço de 6 jogos.
    A presença em duas finais da Champions consecutivas diz tudo sobre o trabalho que Klopp está a desenvolver em Liverpool. E ninguém torce o nariz quando Pepe Guardiola confessa: esta Premier League foi o troféu mais complicado que alguma vez conquistou na carreira, valorizado pelo melhor adversário possível. Uma máquina de jogar bom futebol, fonte de prazer, e actualmente um misto perfeito entre intensidade e equilíbrio.

Destaques: Virgil van Dijk, Mohamed Salah, Sadio Mané, Andrew Robertson, Georginio Wijnaldum

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 CHELSEA (3)

    Maurizio Sarri, o homem que fuma 60 cigarros por dia, chegou a Inglaterra, viu... e não venceu. O destino do técnico italiano, afamado pelo seu excelente trabalho em Nápoles, é incerto: o Chelsea parece não se importar de o perder para Itália (fala-se no interesse da Juventus) e Frank Lampard já foi apontado como potencial sucessor. Pouco consensual nesta sua nova aventura, Sarri cumpriu os objectivos mínimos - depois do 5.º lugar da época passada, devolveu o Chelsea à Champions League e venceu ainda a Liga Europa diante do Arsenal de Emery. Problema? A significativa distância de 25 e 26 pontos para os dois primeiros classificados.
    Olhando para toda a viagem, o arranque foi notável (invencibilidade nas 12 primeiras jornadas) e a vitória caseira diante do Manchester City por 2-0 terá sido o ponto alto de toda a caminhada. Os jogadores pareceram sempre agradados com as ideias de Sarri, embora tenha ficado a sensação que o plantel se desleixou à medida que City e Liverpool cavaram vantagem. É no mínímo discutível que passar a jogar com Kanté a 8 para que Jorginho se fixasse a seis tenha sido a melhor decisão de Sarri, e pode-se dizer que o técnico que já foi banqueiro nunca estabilizou o seu 3.º médio (Loftus-Cheek, Barkley ou Kovacic) nem encontrou a melhor solução a nível de avançado centro (Morata manteve a depressão, Giroud não foi aposta continuada e Higuaín não justificou o accionar da opção de compra). Assim, todos os caminhos desta época acabaram por ir dar a Eden Hazard. O extremo belga carregou a equipa em praticamente todos os jogos, dando sequência ao seu soberbo Mundial 2018, e tudo indica que a sua próxima paragem será o Real Madrid. Perderá a Premier League um craque sem igual.

Destaques: Eden Hazard, David Luiz, César Azpilicueta, N'Golo Kanté, Marcos Alonso

Resultado de imagem para premier league 2019 tottenham TOTTENHAM (4)

    Já é unânime que Mauricio Pochettino é um dos melhores treinadores do mundo? Embora uma posição e 6 pontos abaixo da sua classificação final de 2017/ 18, o percurso deste Tottenham é absolutamente incrível. Finalistas vencidos na Champions, os spurs desenharam um trajecto impressionante em toda a linha, que ganha contornos especiais se nos recordarmos que ao longo da temporada tiveram exactamente... zero reforços. Além do feito inédito (nunca uma equipa da Premier League tinha deixado passar um mercado de transferências de Verão sem contratar ou vender), registou-se mais tarde a saída para a China de Dembélé (venerado como um autêntico Deus entre os jogadores do plantel) e o melhor jogador da equipa, Harry Kane, falhou 10 jornadas graças a duas lesões distintas. Tendo apontado 17 golos, é bastante provável que Kane, em pleno, tivesse acabado como melhor marcador.
    Sem meio termo, o Tottenham empatou apenas por duas ocasiões. Perdeu em 13 jornadas, um número invulgar para uma equipa de Top-4, mas as 23 vitórias revelaram-se suficientes para assegurar uma diferença de 1 ponto para o rival do Norte de Londres, Arsenal.
    Pochettino voltou a recuperar jogadores (Sissoko e Lucas Moura servem de exemplo), tendo desta vez no sul-coreano Son Heung-Min o supremo destaque. Dele Alli, pelo contrário, desiludiu, sendo possível que esta tenha sido a última época de Eriksen no clube. Finalmente com o seu novo estádio operacional desde Abril, o Tottenham merece tudo o que tem acontecido de bom ao clube. E o futuro promete, desde que Pochettino continue como o pai deste projecto.

Destaques: Son Heung-Min, Christian Eriksen, Harry Kane, Lucas Moura, Toby Alderweireld


Resultado de imagem para premier league 2019 aubameyang lacazette ARSENAL (5)

    Sim, continua a ser estranho ver o Arsenal sem Arsène Wenger estar no banco, mas o clube londrino parece bem entregue a Unai Emery.
    Na sua estreia em Inglaterra, o especialista em ganhar a Liga Europa (competição que desta vez perdeu para os blues por 4-1) conseguiu que a sua equipa tivesse o 3.º melhor ataque - 73 golos marcados, atrás dos 95 do City e dos 89 do Liverpool - e chegou mesmo a completar uma sequência de 14 jogos sem perder durante a primeira volta.
    Considerando a abordagem ao mercado comedida - foram reforços Torreira, Leno, Sokratis e Guendouzi, chegando ainda Lichtsteiner a custo zero e Denis Suárez por empréstimo -, a temporada do Arsenal acaba por ser satisfatória, essencialmente por não sentirmos que nesta fase tenha os mesmos argumentos que as 4 equipas que acabaram no Top-4 (curiosamente, aquele que previmos no começo da época por esta ordem exacta).
    Maior destaque para Aubameyang, que terminou no topo dos melhores marcadores com marca (22 golos) igual a Salah e Mané, sendo para nós evidente que este Arsenal é sempre mais forte quando coloca em simultâneo Auba e Lacazette em campo. Guendouzi (apenas 20 anos) foi uma descoberta muito interessante e Torreira pode tornar-se uma espécie de Kanté sul-americano. Ramsey deixará saudades, Özil continua a ser sinónimo de genialidade desperdiçada, e a curto-prazo parece-nos difícil que o Arsenal gladeie de igual para igual contra por exemplo City e Liverpool, atendendo nomeadamente à brutal diferença qualitativa no sector defensivo.

Destaques: Pierre-Emerick Aubameyang, Antoine Lacazette, Lucas Torreira, Bernd Leno, Mattéo Guendouzi

Resultado de imagem para premier league 2019 manchester united MANCHESTER UNITED (6)

    Começámos a temporada a confessar que tínhamos saudades da melhor versão de José Mourinho, esfomeado por títulos, revolucionário e sem medo de nada. Hoje, alteramos essa ideia para - temos saudades tuas, Manchester United.
    Gigante adormecido, o clube mais mediático e galardoado de Inglaterra habituou mal os seus adeptos. Sir Alex Ferguson assumiu o clube em 1986 e no intervalo de vinte anos de 1993 até ao seu abandono (2013) os red devils nunca terminaram abaixo do 3.º lugar, conquistando 13 campeonatos em 20 possíveis. O pós-Ferguson segue com um registo perturbador - 7.º, 4.º, 5.º, 6.º, 2.º e 6.º. O problema não é o treinador (embora Mourinho também não estivesse a acrescentar e a ser uma solução, e a passagem de Solskjaer de interino a técnico principal nos tenha parecido claramente precipitada, precisando o United de ter como comandante um dos melhores do mundo), é na verdade uma série de factores que teoricamente demorarão vários anos a ser corrigidos.
    Para que Old Tarfford se volte a orgulhar dos seus jogadores - e atenção, porque actualmente o Manchester United está muito distante de uma realidade em que consiga ombrear com City e Liverpool - tem que ser recuperado o ADN do tempo de Ferguson, passando o clube a ser liderado por quem percebe de futebol e não por quem o encara como um negócio. É no mínimo questionável se deve ser mantida a aposta em vedetas como Pogba (indiscutível melhor jogador do clube mas um potencial veneno no balneário) ou Martial, importando relembrar 2018/ 19 como o ano de afirmação de Lindelöf, o regresso de Luke Shaw à melhor forma, sendo a equipa carregada por Pogba e Rashford durante a sua melhor fase. Com Alexis Sánchez e Lukaku irreconhecíveis, e Fred a revelar-se um flop, este United foi sem margem para dúvidas a grande desilusão da época em Inglaterra, sendo de todas as equipas do Top-6 a que necessita de uma maior revolução. É esta a equipa inglesa mais bipolar ou menos profissional - 10 vitórias numa sequência de 12 jogos sem perder depois de Mourinho abandonar o barco; 4 derrotas e 6 jogos sem ganhar nas oito jornadas após Solskjaer ser oficializado como treinador permanente.

Destaques: Paul Pogba, Victor Lindelöf, Marcus Rashford, Luke Shaw

 WOLVES (7)

    Quando antecipámos esta edição da Premier League há sensivelmente 9 meses apontámos o Wolverhampton ao nono lugar. Do Championship direitinho para 9.º. Mas a equipa de Nuno Espírito Santo foi mais longe!
    Mais permeável do que deveria diante dos pequenos (como exemplo, o último classificado Huddersfield venceu o Wolves nas duas voltas), o Wolves impressionou sobretudo pela forma como se bateu com os crónicos favoritos a ocupar o Top-6: foi a primeira equipa a tirar pontos ao campeão City, e embora tenha perdido os dois confrontos com o Liverpool, não perdeu qualquer um dos duelos contra Chelsea, Arsenal e Manchester United, surpreendendo ainda ao vencer fora o Tottenham.
    Com o seu híbrido entre 3-4-3 e 3-5-2, os comandados de NES tomaram de assalto a Premier League com uma armada muito portuguesa. Raúl Jiménez (13 golos e 7 assistências) e João Moutinho tornaram-se 2 dos principais reforços desta edição, Diogo Jota convenceu tudo e todos como esperávamos, e Rúben Neves, sem ser um arraso, confirmou que está destinado a grandes coisas, tendo tudo para melhorar neste habitat. Tudo isto sem esquecer a fantástica época de Doherty, um dos preferidos do treinador luso.
    Garantido o acesso à 2ª pré-eliminatória da Liga Europa, o Wolves poderá continuar na próxima temporada a sua impressionante ascensão. Para que tal aconteça é fundamental que Nuno ganhe um plantel mais profundo (o treinador com a maior barba por fazer de Inglaterra repetiu o mesmo onze diversas vezes), podendo a Liga NOS voltar a servir de supermercado para estes lobos famintos por mais sucesso.

Destaques: Raúl Jiménez, Diogo Jota, Matt Doherty, João Moutinho, Rúben Neves

 EVERTON (8)

    A situação chegou a estar bastante tremida, mas uma recta final sensacional (5 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota nos últimos 8 jogos, vencendo Chelsea e Arsenal, e humilhando o Manchester United) terá garantido a continuidade de Marco Silva em Goodison Park. O técnico português demorou a afinar a máquina, e com um plantel que o "obrigava" a terminar em 7.º viu uma equipa orientada por um compatriota roubar-lhe com estilo esse objectivo.
    Para traduzir a inconsistência que caracterizou este Everton ao longo da prova basta recordar que entre meados de Dezembro e início de Fevereiro os toffees chegaram mesmo a acumular 8 derrotas num intervalo de 11 jogos. Hoje a anos-luz do grande rival Liverpool, a falange azul da cidade dos Beatles terá sentido alívio ao assistir ao bicampeonato do City, gabando-se por certo de ter contribuído para a queda do Liverpool (o City assumiu a liderança quando o Liverpool empatou 0-0 em Goodison Park na 29.ª jornada).
    Em destaque ao serviço de Marco Silva estiveram Sigurdsson (13 golos marcados, novo recorde pessoal do médio islandês), Lucas Digne (do lado esquerdo, só Robertson foi superior a ele), com Richarlison a confirmar o seu potencial e a justificar o investimento, André Gomes a renascer e Gueye a revelar-se o recuperador de bolas e trabalhador incansável do costume. Alerta: continua a faltar um ponta de lança que garanta 20 golos/ época.

Destaques: Gylfi Sigurdsson, Lucas Digne, Richarlison, André Gomes, Idrissa Gueye

 LEICESTER CITY (9)

    Depois de uma das páginas mais inesperadas, qual conto de fadas, escrita em 2015/ 16, a realidade do Leicester City é hoje o ataque ao 7.º lugar, esperando por um deslize de um dos crónicos favoritos para se intrometer no prestigiado Top-6.
    Com um registo de vitórias, empates e derrotas (15, 7 e 16) exactamente igual ao West Ham, a época do Leicester ficará inevitavelmente marcada por uma data - 27 de Outubro de 2018 - dia fatídico para o eterno presidente Vichai Srivaddhanaprabha.
    O luto marcou a época das raposas azuis, morrendo também em sentido figurado o projecto de Claude Puel na equipa. Como um excelente aperitivo para a próxima época, as últimas 10 jornadas mostraram aquilo que este Leicester pode ser nas mãos de Brendan Rodgers, um treinador que já merecia o regresso à Premier depois do seu exilo escocês.
    Com o português Ricardo Pereira em claro destaque (diz muito da época do vaivém ex-Porto o facto de ter sido um dos melhores na sua posição num campeonato onde Alexander-Arnold, Doherty, Wan-Bissaka e Azpilicueta estiveram também em grande nível), o Leicester voltou a viver dos golos e da electricidade de Jamie Vardy, confirmando James Maddison todo o seu talento ao tornar-se inclusive o jogador com mais oportunidades de golo criadas da competição. Faz sentido ainda elogiar Chilwell, Ndidi e Maguire, e em sentido inverso surpreendeu-nos pela negativa a fraca temporada de Iheanacho. 

Destaques: Jamie Vardy, James Maddison, Ricardo Pereira, Ben Chilwell, Wilfred Ndidi

 WEST HAM (10)

    Se o décimo lugar é uma má classificação na Premier League? Não. Mas quem conta com craques como Arnautovic, Felipe Anderson ou Lanzini (quase toda a época lesionado, é certo) tem que ambicionar voos mais altos.
    Pellegrini ficou a 5 pontos do sétimo lugar, que acreditamos seria o objectivo dos hammers, e a tendência na próxima época será preservar a base que coincidiu com os melhores momentos desta época, acrescentando reforços-chave para certas posições (um ponta de lança titular indiscutível, e um médio defensivo caso Declan Rice seja transferido).
    A fantasia de Felipe Anderson salpicou a época do West Ham, Fabianski tornou-se o guardião com mais defesas da prova, e entre os reforços Diop, Balbuena ou Fredericks (este último apenas nas últimas jornadas) provaram que foram apostas ganhas. Não esquecer o azar de Yarmolenko, um dos cabeças-de-cartaz desta equipa, que contraiu uma lesão grave não jogando mais a partir da jornada 9.
    O projecto é interessante, a equipa esteve incrível no sempre duro mês de Dezembro e acabou também por cima a época, em total sintonia com o treinador, pelo que 2019/ 20 tem tudo para ser risonho. Veremos se com ou sem o prodígio Rice.

Destaques: Felipe Anderson, Declan Rice, Lukasz Fabianski, Marko Arnautovic, Issa Diop

 WATFORD (11)

    De todas as equipas desta Premier League 18/ 19, embora o Wolves mereça o estatuto de equipa-sensação, o Watford foi quem mais se afastou (pela positiva) em relação às nossas expectativas iniciais. Finalista vencido na FA Cup, com um impressionante trabalho desenvolvido por Javi Gracia, o Watford acabou em 11.º mas esteve envolvido até perto do fim na luta pelo 7.º (o melhor das equipas pós-candidatos ao título).
    Ben Foster agarrou a baliza, provando ser um dos "achados" do defeso veranil, Deeney e Doucouré demonstraram que não sabem jogar mal, mas a temporada do Watford acabou marcada por duas fases distintas, iluminadas pelo talento dos seus jogadores mais especiais. O começo do campeonato teve em Pereyra o craque de serviço, enquanto que de Fevereiro para cá, Deulofeu não pediu licença a ninguém e carregou a equipa, chegando aos 10 golos (o seu máximo pessoal em Inglaterra eram 3) e provando que, um pouco à imagem de Ayoze e também com 25 anos, ainda vai a tempo de deixar os estádios ingleses aos seus pés.

Destaques: Gerard Deulofeu, Ben Foster, Troy Deeney, Roberto Pereyra, Abdoulaye Doucouré

 CRYSTAL PALACE (12)

    Primeiro, um momento para recordar aquele golaço (melhor do ano?) de Townsend na improvável vitória em casa do Manchester City por 3-2. Agora sim, podemos continuar. Uma vez mais, Roy Hodgson conseguiu espremer bem o plantel ao seu dispor, voltando os eagles a mostrar quão fortes conseguem ser na recta da meta - 30 pontos na segunda volta, 7.ª equipa com melhor registo, para se ter uma ideia apenas menos 1 ponto do que Wolves e menos 2 do que Arsenal e Chelsea nas derradeiras 19 jornadas.
    Milivojevic (12 golos, embora 10 de grande penalidade) foi o comandante a meio-campo de uma equipa como sempre caracterizada pela velocidade nos corredores de Townsend e Zaha. O costa-marfinense, avaliado pelo clube em 100 milhões de euros, já merecia uma transferência para uma equipa com competições europeias... Mas se Zaha já é uma certeza, e um dos artistas mais entusiasmantes da Premier League, Wan-Bissaka foi uma das revelações da época. Com 21 anos, o lateral direito inglês foi o Jogador do Ano do clube, com exibições que o terão colocado no bloco de notas dos olheiros de todos os grandes ingleses à excepção do Liverpool, que já tem Alexander-Arnold.
    No reino do Crystal Palace, os barcos parecem remar no sentido certo e com bom senso na gestão. Há margem de progressão em vários sectores da equipa, mas o ponto de partida para o próximo defeso será decidir o que fazer (segurar ou vender, e a que preço) com os 2 super-activos Zaha e Wan-Bissaka. 

Destaques: Aaron Wan-Bissaka, Wilfried Zaha, Luka Milivojevic, Andros Townsend, Van Aanholt

 NEWCASTLE (13)

    Praticamente sem investimento, o Newcastle de Rafa Benítez (dêem-lhe o que ele pedir, e competirão pelo Top-8) voltou a mostrar-se sólido. E à imagem da época anterior, repetiu-se um crescimento e super-rendimento na segunda volta. Nas primeiras 19 jornadas, os magpies somaram 17 pontos, fechando a 1.ª volta no 15.º lugar. Nas 19 rondas seguintes, o Newcastle fez 28 pontos, estabelecendo-se como a oitava melhor equipa da 2.ª volta.
    Com um registo defensivo superior a Arsenal e Manchester United, o Newcastle teve no suiço Schär um dos reforços do ano, apresentando Ritchie e Lascelles a regularidade de sempre, dando o ruivo Longstaff ares da sua graça até se lesionar e atingindo o venezuelano Salomon Rondón a sua melhor marca de golos em terras de Sua Majestade. Ainda assim, falar do crescimento que este Newcastle revelou ao longo do campeonato é falar sobretudo de Ayoze Pérez. Aos 25 anos, o dianteiro espanhol deixou água na boca com o seu virtuosismo técnico, permitindo-nos apenas imaginar o que seria ou será toda uma época ao nível do que mostrou na recta final desta temporada (10 dos seus 12 golos foram marcados na segunda volta).
    Uma vez mais, Rafa Benítez fez omeletes praticamente sem ovos. O que seria se lhe dessem meia dúzia neste Verão... 

Destaques: Ayoze, Fabian Schär, Salomon Rondón, Matt Ritchie, Jamaal Lascelles

 BOURNEMOUTH (14)

    Os clubes Top-10 continuam a não pegar em Eddie Howe, e o Bournemouth agradece. À imagem das últimas épocas, os cherries realizaram uma época tranquila, com bom futebol, golos (com 56 tentos o 7.º melhor ataque da Premier League, apenas abaixo do mítico Top-6) e dando sequência à sua já expectável fiabilidade pontual. O Bournemouth fechou a época com 45 pontos, quando nas últimas duas edições tinha terminado com 44 e 46 pontos.
    Os reforços cirúrgicos de Howe mostraram valor - Lerma passou a dominar o miolo, e David Brooks foi um dos negócios do ano revelando tremendo potencial -, mas foi a valorização de jogadores que já constavam nas fileiras dos cherries que mais impressionou. Callum Wilson (14 golos e 9 assistências) e Ryan Fraser (7 golos e 14 assistências) encaixam ambos no perfil de Most Improved Player desta Liga, destacando-se o funcionamento mortífero desta parelha. Entre os 14 golos de Wilson, 7 foram assistidos por Fraser, e o extremo escocês recebeu 5 passes para golo do colega e avançado já internacional pela Inglaterra.
    Com o ponto alto naquele 4-0 na recepção ao Chelsea, o Bournemouth começa a tornar-se uma das equipas mais interessantes do futebol inglês. Um defeso com maior investimento pode atirar a equipa para outro patamar, embora seja razoável antecipar que Fraser e Wilson terão algumas equipas interessadas nos seus serviços.

Destaques: Ryan Fraser, Callum Wilson, David Brooks, Nathan Aké, Jefferson Lerma

 BURNLEY (15)

    Equipa-sensação em 2017/ 18, não muito longe (6 pontos de distância) da despromoção em 2018/ 19. Fechando a Premier 14 pontos abaixo da temporada anterior, o Burnley do inconfundível Sean Dyche manteve-se fiel ao seu ADN de equipa que defende primeiro e ataca depois, privilegiando o jogo directo e a supremacia nos duelos físicos. Mas a coisa podia ter corrido mal.
    Com Nick Pope lesionado toda a época, Hart e Heaton dividiram a baliza, voltando o central Tarkowski a mostrar-se menino para outros voos. Westwood merecia, pelo seu rendimento individual, uma classificação final superior, e na hora de marcar golos o clube recorreu a Ashley Barnes (12 golos) e Chris Wood (10).
    Com uma média de idades fixada nos 29,53 anos, é recomendável que o Burnley comece a preocupar-se com o seu futuro. Nesse sentido, a aposta em Dwight McNeil (o míudo, prata da casa, mudou drasticamente o futebol do Burnley, tornando-se aos 19 anos a luz que acordou a equipa a tempo de uma 2.ª volta melhor) provou que o clube pode olhar para o mercado em busca de jogadores com perfil e faixa etária diferentes dos privilegiados até agora.

Destaques: James Tarkowski, Dwight McNeil, Ashley Barnes, Ashley Westwood, Chris Wood

 SOUTHAMPTON (16)

    Muito longe dos seus anos de sucesso com Pochettino e Koeman, o Southampton - a casa de partida em Inglaterra para alguns jogadores que hoje são destaques no Liverpool - voltou a sofrer até perto do final, melhorando sem dúvida a partir do momento em que a direcção determinou a saída de Mark Hughes, escolhendo o alemão Ralph Hasenhüttl como sucessor.
    A precisar de uma revolução, os saints viram James Ward-Prowse realizar a sua melhor época até à data, bem apoiado por Redmond e Hojbjerg, simbolizando o lançamento de Yan Valery (20 anos) a esperança num futuro que se aproxime dos anos dourados entre 2013 e 2017.
    Entre Austin, Ings, Long e Gabbiadini (meia época), nenhum se estabeleceu como um goleador de confiança, e Elyounoussi foi um flop e revelou-se incapaz de substituir Tadic (que época no Ajax!). Hasenhüttl parece o técnico certo, mas há muito trabalho e muita prospecção a fazer caso o clube do Sul pretenda regressar ao passado recente.

Destaques: James Ward-Prowse, Nathan Redmond, Pierre-Emile Hojbjerg, Yan Valery

 BRIGHTON (17)

    Sobrevivente tangencial, o Brighton piorou a sua classificação da época anterior (15.º), mas manteve-se entre a nata do futebol inglês graças à sua defesa (equipa com menos golos sofridos entre as que terminaram entre o 14.º e o último lugar).
    Chris Hughton voltou a cumprir o objectivo, embora já se saiba que em 2019/ 20 o treinador será o promissor Graham Potter. E o segredo da equipa que viu o seu estádio ser palco da festa do título do Manchester City esteve na irrepreensível dupla Shane Duffy-Lewis Dunk, nos 13 golos do veterano Glenn Murray, desiludindo os reforços Jahanbakhsh e Bissouma, e baixando o criativo Groß o seu rendimento em relação ao seu ano de estreia em Inglaterra.
    Olhando já para 2019/ 20, é provável que o ADN da equipa mude um pouco com Potter, tornando-se o Brighton uma equipa menos "presa" e podendo a perda do conservadorismo custar algumas clean sheets mas cativar em definitivo os adeptos. Esta época voltou a deixar no ar o potencial de Solly March, resta saber quando e se irá explodir.

Destaques: Glenn Murray, Shane Duffy, Lewis Dunk, Solly March, Matt Ryan

 CARDIFF (18)

    Quando Wolves, Fulham e Cardiff iniciaram a época, a equipa do País de Gales parecia ser a mais frágil das equipas recém-promovidas. O tempo mostrou-nos que o Wolves superou inclusive as já elevadas expectativas, mas o terrível Fulham caiu mais cedo do que a equipa de Neil Warnock, que fechou a Premier League a apenas 2 pontos do 17.º classificado. Estava quase.
    Inclusive com mais vitórias do que Brighton e Southampton, o clube com argumentos financeiros bem distantes da concorrência deixou uma imagem decente, saindo valorizado principalmente o guarda-redes - natural das Filipinas, o desconhecido Neil Etheridge afirmou-se como um dos melhores guarda-redes desta Premier, adiando ao máximo a descida.
     Entre os jogadores de campo, exceptuando o patrão da defesa Sol Bamba (jogador muito limitado mas um líder nato com muito coração) e o certinho Harry Arter, o Cardiff viveu de momentos. Camarasa terá sido o mais regular, mas entre Méndez-Laing, Josh Murphy, Hoilett ou Bobby Reid, cada qual teve a sua fase. Fases essa que foram curtas, diga-se.
    E assim se repetiu a história de 2013/ 14, quando o Cardiff ascendeu ao escalão máximo, descendo de imediato na temporada seguinte.

Destaques: Neil Etheridge, Sol Bamba, Harry Arter, Víctor Camarasa

 FULHAM (19)

    Com 112 milhões gastos, o Fulham foi um dos principais agitadores do mercado de transferências de 2018. O clube londrino, que carimbara o acesso à Premier na final do play-off em Wembley diante do Aston Villa, apostou forte na manutenção e recrutou nomes de peso - Seri custou 30 Milhões, Anguissa 25 e Mitrovic 20, sem esquecer nomes cotados como Schürrle, Vietto, Babel (reforço de Janeiro) e Sergio Rico.
    Mas se esta época do Fulham ensinou algo às equipas promovidas, foi o preço que se paga ao procurar revolucionar um onze quase na íntegra, esquecendo os méritos dos jogadores que garantiram a subida, e tentando apressadamente encontrar a fórmula certa com um conjunto de jogadores desconhecidos entre si. O caos de um balneário que nunca se encontrou teve ainda outro problema: a falta de estabilidade. O Fulham começou a época com Slavisa Jokanovic, teve depois Claudio Ranieri como treinador e acabou entregue a Scott Parker.
    Pela negativa, impossível não destacar o ataque tão pouco certeiro (apenas 34 golos marcados, números idênticos a Brighton e Cardiff, duas equipas com muito menos soluções ofensivas do que os cottagers), sendo porém fácil adivinhar que será concorrido o leilão por jogadores como Sessegnon (esperávamos bastante mais, mas também só tem 19 anos), Mitrović ou Seri

Destaques: Aleksandar Mitrović, Ryan Sessegnon, Sergio Rico

 HUDDERSFIELD (20)

    Uma das piores equipas da História da Premier League. Quando em 2017/ 18 David Wagner conseguiu segurar o Huddersfield no primeiro escalão, o feito pareceu um pequeno milagre. No entanto, a esmagadora maioria das equipas subiu o nível, e assim o 20.º classificado desta edição coleccionou apenas 16 pontos - 3 vitórias, 7 empates e 28 derrotas.
    Com um plantel bastante fraco (na nossa Antevisão em Agosto de 2018 apontámos os terriers ao 19.º lugar), interpretámos a desvinculação de David Wagner (grande amigo de Klopp e entretanto anunciado como treinador do Schalke 04) em Janeiro como o atirar da toalha ao chão. E de resto os números do substituto Jan Siewert revelaram-se embaraçosos: em 15 jogos, 12 derrotas, conseguindo o Huddersfield marcar apenas 9 golos durante esse período.
    Contrariamente a Fulham e Cardiff, não nos parece que vejamos o Huddersfield tão cedo na Premier League. E, em boa verdade, são poucos os jogadores deste elenco que devem ser repescados - Philip Billing terá sido o principal destaque positivo desta campanha miserável, a qualidade de Aaron Mooy (os seus 28 anos podem deixar alguns clubes interessados de pé atrás) mantém-se inquestionável, e depois, uma vez que o reforço Diakhaby não correspondeu às expectativas e Lössl já foi confirmado no Everton, apenas Mounié e Kongolo devem ter mercado.

Destaques: Philip Billing, Aaron Mooy, Christopher Schindler



por Miguel Pontares e Tiago Moreira

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