28 de junho de 2019

FC Porto 19/ 20: Revolução e Novo 11

Na sequência da análise iniciada há dias com o Sporting (Ver Aqui), hoje é a vez de fazermos um ponto de situação sobre o FC Porto 2019/ 2020. No exercício especulativo abaixo apresentado tentaremos antecipar o possível plantel do Porto para esta temporada e avaliaremos o que pode mudar no Dragão num Verão recheado de mudanças e que trará várias caras novas. Sem deixar de olhar para o sector da formação, tudo o que se segue é uma análise que visa ser um ponto de encontro e meio termo entre o que achamos que será feito e o que faríamos tendo poder de decisão. Tal como no Sporting assinalámos a curiosidade de na edição anterior termos colocado Raúl de Tomás nos leões, no Porto podemos dizer que este é o segundo ano consecutivo em que defendemos Nakajima de azul e branco.
    2018/ 19 foi uma temporada complicada para os dragões. Longe estariam Sérgio Conceição e Pinto da Costa de imaginar após a conquista da Supertaça diante do Desportivo das Aves, em Agosto de 2018, que esse seria o único troféu que o clube iria erguer nessa época. No campeonato, os azuis e brancos chegaram a ter uma vantagem de 7 pontos para o Benfica, mas perderam-na por culpa própria e mérito do adversário - o Porto foi superior ao Benfica de Rui Vitória, mas foi muito inferior ao Benfica de Bruno Lage. A desilusão na Liga foi a maior, mas dolorosas foram também as finais perdidas diante do Sporting, na Taça da Liga e na Taça de Portugal, ambas decididas nas grandes penalidades. Em sentido inverso, o Porto realizou uma fantástica campanha europeia na Champions: ficou em 1º lugar na fase de grupos somando 16 pontos (nenhum clube pontuou tanto) em 18 possíveis, e só caiu nos quartos-de-final perante o Liverpool, que rondas mais tarde se viria a sagrar campeão europeu. Entre as razões para sorrir de 18/ 19 esteve ainda a prestação dos juniores portistas, campeões em Portugal no seu escalão e tornando-se a 1.ª equipa portuguesa a conquistar a UEFA Youth League. Retirará o Porto contrapartidas desportivas dos vários talentos emergentes? Veremos.
    Honestamente, quando o castelo de cartas desmoronou, achámos que Sérgio Conceição não seria o técnico portista este ano. Mas Pinto da Costa confia no seu treinador e terá preferido amenizar a revolução, conservando o líder e os métodos, uma vez que já serão muitas as mudanças no plantel. Éder Militão rumou ao Real Madrid, Felipe ao Atlético Madrid, Herrera e Brahimi saíram a custo zero após o final dos seus contratos, Iker Casillas pendurará as luvas pelo bem da sua saúde, e acreditamos que também Marega e Soares vão rumar a outros campeonatos. Se tivéssemos que adivinhar, Inglaterra e China respectivamente. Há ainda Alex Telles, que tudo indica já não irá para o Atlético Madrid, mas não é garantido que fique.

    Em 2019/ 20, Sérgio Conceição terá praticamente que construir um novo onze, tendo por exemplo que reformular pelo menos meia defesa. No nosso entender, o clube da Invicta terá que investir bem caso queira ombrear com o Benfica, estável e confiante, sem deixar em simultâneo de recorrer à prata da casa, começando a introduzir os miúdos que merecem o voto de confiança do treinador. É certo que é sempre mais fácil lançar jovens num contexto vitorioso e num plantel de águas pouco agitadas, mas promessas como Fábio Silva, Romário Baró, Diogo Leite, Diogo Queirós, Diogo Costa, Tomás Esteves, Fábio Vieira e Francisco Conceição poderão oferecer muito no espaço dos próximos anos em campo, evitando-se novos casos Rúben Neves e Diogo Dalot (elementos transaccionados muito cedo, por valores bastante abaixo do que valeriam 2 anos mais tarde; e que ainda deixam os adeptos a fantasiar "como teria sido" tê-los mais um tempinho).

Nota: Quando publicámos este artigo, Renan Lodi fazia parte do nosso plantel, sendo o reforço por nós identificado para colmatar uma eventual saída de Alex Telles, que acreditávamos vir a ser reforço do Atlético Madrid. Entretanto, o Atlético Madrid anunciou um princípio de acordo com o Athletico Paranaense precisamente por Lodi, o que terá aumentado ligeiramente as chances do camisola 13 permanecer no Dragão.


O Plantel

  • Guarda-Redes: Tomás Koubek (Rennes) . Vaná . João Costa
  • Defesas: Renzo Saravia (Racing) . Tomás Esteves . Yordan Osorio . Pepe . Chancel Mbemba . Diogo Leite . Alex Telles . Wilson Manafá
  • Médios: Danilo Pereira . Loum . Romário Baró . Sérgio Oliveira . Otávio . Óliver
  • Extremos: Jesús Corona . Bruno Tabata (Portimonense) . Galeno . Shoya Nakajima (Al-Duhail) . Róger Guedes (Shandong Luneng)
  • Avançados: Vincent Aboubakar . Zé Luís (Spartak Moscovo) . Carlos Vinícius (Nápoles) . Fábio Silva
Gostávamos de ver na Pré-Época: Diogo Queirós, Fábio Vieira, Bruno Costa
Emprestar: Diogo Costa, Rui Pires, André Pereira
* dos jogadores que gostávamos de ver na pré-época, quase todos deverão acabar depois emprestados ou no Porto B

    Substituir Casillas é um dos principais desafios do defeso portista. Defendemos no ano passado que Diogo Costa deveria ter sido emprestado, ganhando experiência como titular de uma equipa da Liga NOS. O empréstimo do promissor guardião (campeão europeu de Sub-17 e Sub-19 e vencedor da Youth League, uma tríade que apenas ele e Diogo Queirós têm no currículo) chegará está época com um ano de atraso, e neste intervalo perdeu-se, no nosso entender por má gestão dos estímulos que foram dados à evolução do atleta, a oportunidade de sucessão directa de Iker.
    O rumor Buffon, que permitia que uma lenda herdasse as luvas de outra, parece cenário afastado. Keylor Navas seria o ideal, mas entre os jogadores associados o checo Tomás Koubek parece-nos uma escolha sensata. Com 26 anos e 1,98m, o guardião do Rennes tem coisas para corrigir/ evoluir, sobretudo ao transitar para uma equipa de muita posse, mas seria uma boa opção, acessível, guardando milhões para outras posições. Vaná já foi dado como alvo do Gil Vicente, mas perante o empréstimo de Diogo Costa o melhor seria conservá-lo no Dragão, e João Costa preenche o trio.

    Na defesa, saíram Éder Militão, Felipe, Maxi Pereira e não é líquido que Alex Telles continue, sendo o brasileiro de 26 anos um dos melhores laterais-esquerdos disponíveis para os "tubarões". O internacional argentino Renzo Saravia foi o escolhido para a direita, e a ele juntaríamos Tomás Esteves, lateral de 17 anos que impressiona sendo mais um saído da "máquina" que formou Dalot e calibrou Ricardo Pereira.
    No lado oposto, Wilson Manafá é uma boa alternativa (embora destro, gostámos muito mais de o ver na asa esquerda do Portimonense do que na direita ao serviço do Porto), e uma vez que Renan Lodi (o reforço que num primeiro momento colocámos neste nosso Porto, sendo o jogador na sua posição mais cotado no Brasileirão) parece estar a caminho do Atlético Madrid, talvez Alex Telles possa mesmo continuar...
    Sabemos que entre centrais é um pouco bizarro, corajoso ou louco não assinalarmos nenhum reforço, mas confiamos em Pepe (tendo presente que ao longo desta temporada completará 37 anos) como o "patrão" desta renovada defesa portista, e acreditando que Diogo Leite e Diogo Queirós têm que ser titulares este ano para crescerem como podem. Leite é em teoria um bom complemento para Pepe, podendo Diogo Queirós continuar a sua maturação emprestado. Mbemba ainda conta e Sérgio Conceição deve ter gostado da Copa América de Osorio, mas não diríamos que não à contratação de Marcano, ficando SC com um trio interessante (Pepe, Marcano e Leite) como opções preferenciais.

    Aceitando que alguns dos rumores apontados pela imprensa são verdadeiros, o Porto parece estar à procura de um "novo Herrera" na América do Sul. Guzmán, Vargas e Zaracho, além de incapazes num primeiro momento de apresentarem a mesma conjugação de intensidade e leitura posicional do mexicano, são também todos ligeiramente mais ofensivos do que o capitão que saiu a custo zero. Sinceramente, no lugar da direcção portista, confiávamos no que há. Sérgio Conceição deve continuar agarrado ao seu 4-4-2, embora perdendo a nuance táctica que Marega dava à equipa, e nesse sentido Danilo, Loum, o promovido Romário Baró, o regressado Sérgio Oliveira, e ainda Óliver e Otávio (capaz de actuar também num flanco) deixavam-nos confiantes no lugar do treinador. No entanto, isto implicaria uma crença em Óliver Torres que SC não parece ter, pelo menos de forma continuada.

    É no ataque que o Porto precisa de mais. De mais criatividade e imaginação, de mais velocidade e vertigem, e de mais golos. A saída de Brahimi retira aos azuis e brancos o seu melhor driblador e a capacidade de ter um íman de adversários, a saída de Marega retira ao Porto a hábil exploração da profundidade e uma força da natureza.
    Corona continua, Galeno merece ser resgatado depois de boas exibições no Rio Ave, e Bruno Tabata podia originar agradável surpresa, dando sequência às excelentes relações entre Porto e Portimonense. Além destes, tudo deve fazer o Porto para garantir Shoya Nakajima e Róger Guedes. Dois talentos desperdiçados em campeonatos absolutamente periféricos (Qatar e China), que são necessários para mudar a forma do Porto jogar, mesmo que o nipónico só pudesse chegar por empréstimo.

    O ataque deve perder nas próximas semanas os 2 principais goleadores das últimas épocas, Marega (o híbrido entre extremo e avançado valorizou muito com a sua excelente Champions) e Soares, sendo público que Zé Luís é alvo dos dragões. E aos 28 anos o cabo-verdiano com 4 épocas de campeonato russo pode fazer estragos no seu regresso a Portugal. Sem esquecer Aboubakar e a progressiva integração de Fábio Silva (o avançado ainda tem 16 anos mas é especial e é importante que trabalhe com a equipa A e, tal como Romário Baró, seja gerido entre a equipa principal e a B), ainda sugeríamos que o Porto apostasse em Carlos Vinícius. Namoro antigo do clube, o avançado que nos últimos anos passou por Real Massamá, Nápoles, Rio Ave e Mónaco é claramente ponta de lança de equipa grande, conjugando a dimensão física que Conceição tanto aprecia com uma qualidade técnica muito acima dos avançados que o Porto tem tido.


O que muda? É algo muito raro entrarmos num novo ano desportivo e os 3 treinadores dos 3 grandes serem os mesmos da edição anterior. No entanto, embora saídas como as de João Félix e Bruno Fernandes façam mossa nos rivais, o FC Porto é a equipa que mais peças irá mudar, recomendando-se também que modifique o seu futebol, muitas vezes limitado, privilegiando o físico, a exploração sistemática da profundidade e dependendo muito das bolas paradas.
    É importante que o Porto continue a ser uma equipa intensa, que continue a chegar rápido ao último terço do adversário, com poucos toques e encontrando-o exposto, trabalhando bolas paradas ofensivas como já faz, mas tem que ser mais do que isso. Tacticamente o Porto de Sérgio Conceição é muitas vezes um camaleão entre 4-4-2 e 4-3-3 - nuance permitida até hoje pelas movimentações de Marega, ou através da versatilidade em campo de um elemento como Otávio. Acreditamos que SC continuará devoto ao seu 4-4-2, mas forçosamente várias coisas terão que mudar.
    No 11 inicial que propomos, surgem 6 jogadores que já faziam parte do plantel e cinco reforços, mas temos muitas dúvidas sobre a continuidade de Alex Telles, invertendo a sua saída a balança para 5-6. Não é inocente a aposta no quadrado Pepe, Leite, Danilo, Óliver, mantendo no corredor central jogadores que se conhecem bem. Não conhecemos tão bem Saravia (parece-nos competente e raçudo, embora algo limitado), mas a partir das laterais o Porto teria a ganhar com movimentações interiores - Alex Telles comporta-se de outra forma, sendo um executante perfeito naquilo em que é forte, mas por exemplo o jovem Tomás Esteves explora com frequência e qualidade terrenos interiores, algo raramente visto no futebol do Porto.
    Danilo (novo capitão) é peça-chave neste esquema, tal como Óliver, que para nós merecia ser quase o jogador em torno do qual a equipa seria construída, tendo já desmistificado em campo a ideia que é apenas um criativo, mostrando os seus números a sua capacidade como recuperador, e sendo alguém que pensa mais rápido e melhor, sem perder intensidade. Loum tem potencial para ser um clone de Danilo, e Sérgio Oliveira dá a equipa uma forma de distribuição diferente.
    No esquema figuram 26 jogadores, mas na verdade podemos pensar neste plantel como 24+2, dada a utilização de Romário e Fábio Silva maioritariamente no Porto B. Mas se o Porto quer competir de igual para igual com o Benfica, precisa de ter efectivamente um banco de luxo e várias soluções ofensivas. O Porto será tanto mais forte quanto melhor conseguir colocar os jogadores a falarem a mesma língua - e Nakajima, Corona, Zé Luís, Róger Guedes e Carlos Vinícius falam a mesma língua de Óliver com a bola. Com muitas soluções, este novo Porto continuaria ou continuará a dar a Sérgio Conceição jogadores fortes nos apoios como Vinícius e Aboubakar, podendo ocasionalmente fortalecer a zona intermédia ou baralhar o adversário ao colocar em campo por exemplo Nakajima e Guedes em simultâneo.


Francisco Conceição tem 16 anos e joga nos juvenis do FC Porto. Já lhe chamam o mini-Messi
A Formação: Será absolutamente criminoso se o Porto não retirar benefícios em campo (e não apenas para os seus cofres) da espectacular geração acabadinha de formar no Olival. Campeões nacionais de juniores e europeus na Youth League, os azuis e brancos têm que ser capazes de, entre integração na equipa principal, empréstimos e evolução na equipa B, gerir bem os processos de várias promessas.
    Para nós, Diogo Costa e Diogo Queirós deviam ser emprestados, Diogo Leite devia ser titular ao lado de Pepe (ou no máximo 3.ª opção se Marcano for recuperado), Tomás Esteves podia ser já o suplente de Saravia, e por fim Romário Baró e Fábio Silva, pela qualidade que têm para dar e vender, não precisam de sair debaixo da asa do dragão, evoluindo entre a equipa principal e a B.
    Rui Pires e Bruno Costa (a não ser que se destaque muito na pré-época) também precisam de ter minutos que só um empréstimo lhes pode dar, e o talentoso Fábio Vieira pode tornar-se aos 19 anos uma das figuras do Porto B, amadurecendo para idealmente integrar o plantel principal em 2020/ 21. Afonso Sousa, Ángel, Mor Ndiaye e Vítor Ferreira são outros casos que merecem especial consideração da direcção portista, tudo isto para além do filho do treinador, Francisco Conceição, que como escrevemos há meses (Ver Aqui) é aos 16 anos o talento puro que mais nos entusiasma nos quadros da formação portista.

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