
Liga NOS - Reconquista. A Liga NOS 2018/ 19 teve um antes de Bruno Lage e um depois de Bruno Lage. O Benfica, depois de 15 jornadas de potencial desperdiçado, encontrou o homem certo para o clube encarnado e alguém que nos faz por vezes pensar - o que é que fez o futebol português nos últimos anos para merecer alguém assim?Numa época em que a luta pelo título se fez a dois, entre Benfica e FC Porto, os dragões vacilaram na segunda volta, vendo escapar uma distância de 7 pontos e testemunhando in loco o Benfica assaltar a liderança em pleno Estádio do Dragão. Com 103 golos marcados, 18 vitórias nos últimos 19 jogos e uma segunda volta em que as águias venceram no Dragão, em Alvalade, em Braga, em Guimarães e em Moreira de Cónegos, é absolutamente inquestionável a justiça e o mérito do novo campeão nacional (5.º título em 6 anos).
Novamente rodeado de um clima com demasiados casos e polémicas desnecessárias, culpa dos intervenientes e de uma comunicação social que não fala de futebol mas sim de tudo aquilo que não interessa, o futebol português tem muito a aprender com a postura e personalidade do homem que ergueu bem alto a camisola de Jaime Graça, jamais esquecendo em momento algum as suas origens e todo o trajecto até à glória. Pela positiva, destaque para a impressionante qualidade demonstrada pelos jovens João Félix e Éder Militão, um super-Bruno Fernandes que carregou muitas vezes sozinho o Sporting e afirmou-se como inequívoco Jogador do Ano, brilhando ainda o Moreirense, uma equipa-sensação na qual sobressaíram os nomes de Chiquinho e Ivo Vieira.
No geral, deve-se elogiar a maior estabilidade dada aos treinadores (Porto, Braga, Vit. Guimarães, Moreirense, Belenenses SAD, Santa Clara, Portimonense, Tondela e Nacional resistiram toda a época com o mesmo técnico, embora 3 destes já se saiba que terão novo técnico), ditando 2018/ 19 o adeus de Feirense, Nacional e Desportivo de Chaves, que serão substituídos daqui a uns meses por Paços de Ferreira, Famalicão e Gil Vicente.
Acompanhem-nos então neste balanço final, que analisa em detalhe as 18 equipas da Liga portuguesa, procurando o que correu bem, o que correu mal, quem se destacou e quem desiludiu:

BENFICA (1)O campeão voltou. Numa época de emoções fortes, os adeptos da Luz não esquecem duas datas - 2 de Janeiro, quando uma derrota em Portimão por 2-0 com dois auto-golos ditou o fim da Era Rui Vitória; 2 de Março, quando em pleno Estádio do Dragão e com uma reviravolta por 2-1 o Benfica assaltou e agarrou o 1.º lugar, posição que nunca mais largou.
Mas se essas são as "datas fáceis", há outras duas, mais invisíveis no calendário da Liga, que tiveram ainda maior importância. Bruno Lage foi anunciado como treinador interino a 3 de Janeiro, sendo oficializado como dono do lugar a 14 de Janeiro. Porque, mais do que qualquer coisa, este é um campeonato em que houve um a.BL e um d.BL.
Com um plantel brutal a nível qualitativo, incomparável na técnica, sempre olhámos para o Benfica de Rui Vitória como "potencial desperdiçado". Três derrotas (Belenenses fora, Moreirense em casa e Portimonense fora), conjugadas com uma Champions fraca, atiraram RV para o desemprego. E tudo mudou. Com Bruno Lage, os números falam por si: 18 vitórias e 1 empate em 19 jornadas, um vendaval de bom futebol numa 2.ª volta em que os encarnados venceram no Dragão, em Alvalade, em Braga, em Guimarães e em Moreira de Cónegos.
Os avassaladores 103 golos marcados devem ser colocados em perspectiva - nas primeiras 15 jornadas o Benfica marcou 31 golos, nas 19 jornadas sob o comando de Lage, 72 golos. A Luz, que esta época até viveu um histórico 10-0, não se calou até ter a reconquista, conseguindo Lage um 4-4-2 equilibrado mas entusiasmante, capaz de existir sem Jonas, apostando na formação e no jogador português (na última jornada, 7 portugueses no 11 titular) e deixando os jogadores confortáveis e libertos. Liberdade (tomada de decisão) com responsabilidade (posicionamento, movimentações). Seferovic, que encarávamos no Verão passado como um excedentário, foi o Most Improved Player da temporada, acabando como melhor marcador com 23 golos, marcando a cada 86 minutos; Samaris e Gabriel foram recuperados, Ferro e Florentino promovidos, os laterais Grimaldo e Almeida (12 assistências cada) jogaram como nunca, Rafa (17 golos) mostrou com consistência tudo aquilo que qualquer adepto sabia que ele era capaz, e Pizzi foi o MVP da equipa com números estratosféricos - 13 golos e 19 assistências - revelando-se o centro de operações criativas da equipa.
Especial é a palavra certa para descrever Bruno Lage (não víamos tamanho potencial nem tínhamos semelhante admiração por um treinador do futebol português desde que Mourinho treinava o Porto) e para descrever "o miúdo" que ele sentiu que tinha que representar a mudança. Aos 19 anos, João Félix marcou 15 golos na Liga (em apenas 1.736 minutos) e mostrou ser, uma vez que Bernardo Silva saltou basicamente da II Liga para o Mónaco, o jovem mais promissor a despontar no futebol nacional desde Cristiano Ronaldo. Será muito pedir apenas mais uma época de águia ao peito herdando o 10 de Jonas?
Não houve bicampeonato, e em parte por culpa própria. Os dragões, que marcaram menos 29 golos do que o Benfica, não eram para nós os principais favoritos à conquista do título, mas tornaram-se e fecharam a primeira volta com 5 pontos de vantagem para o Benfica, 5 pts que umas jornadas antes eram 7.
Nunca esteve em causa a qualidade defensiva do Porto (20 golos sofridos), impressionando a dupla Felipe-Militão e revelando-se um erro de Sérgio Conceição a entrada no 11 de Pepe, desfazendo-se a melhor dupla da prova e passando o melhor central do campeonato para lateral-direito, uma ideia que também a nós nos parecia boa em teoria, mas que na prática contribuiu de forma negativa para o desfecho do campeonato azul e branco.
Mantendo preservadas as características que Conceição privilegia, os dragões vacilaram na 2.ª volta quando empataram 1-1 em Guimarães e 0-0 no terreno do Moreirense nas jornadas 20 e 21, perdendo o 1.º lugar de vez com a derrota por 2-1 no Dragão diante do Benfica.
Superior ao Benfica de Rui Vitória mas bastante inferior ao Benfica de Bruno Lage, o Porto acabou a prova com 3 derrotas, duas delas diante do clube da Luz. Valendo pelo colectivo, Éder Militão (reforço do ano em Portugal) foi quem mais brilhou a nível individual, tendo também ele um período de menor fulgor quando se viu deslocado para a direita. De resto, elementos como Corona, Marega (grande Champions mas reduziu para metade - 22 para 11 - os seus golos na Liga), Óliver, Otávio e Brahimi viveram de momentos e períodos curtos, não se podendo apontar o dedo aos sempre fiáveis e regulares Alex Telles, Danilo, Felipe e Herrera.
Os azuis e brancos tiveram o campeonato na mão mas perderam-no, podendo crescer e seguir o caminho certo caso aceitem que apresentaram de facto menos futebol que os novos campeões, ao invés de se esconderem em alegados casos extra-futebol. Esperamos que não se assumam riscos em relação a uma lenda viva chamada Iker Casillas, e 2019/ 20 pode representar tremendo desafio de reconstrução adivinhando-se as saídas de Militão, Herrera, Felipe, Brahimi, Marega e Alex Telles. Se no lugar de Pinto da Costa optávamos por manter a aposta em Sérgio Conceição? Provavelmente não.
SPORTING (3)Primeiro, uma vénia a Bruno Fernandes. Agora podemos continuar o texto. Resgatados por Sousa Cintra depois de quase destruídos por Bruno de Carvalho, os leões arrancaram para 2018/ 19 debilitados, vendo Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins e Rafael Leão rumar a outras paragens após rescisão. Além do excelente comportamento nas Taças (duas finais conquistadas nas grandes penalidades diante do FC Porto), o Sporting mostrou personalidade e não se deixou abater pelo contexto, embora sempre carregado pelo Melhor Jogador da Liga.
Com tantas derrotas como Benfica e Porto juntos (6), os leões tiveram José Peseiro no comando durante 8 jornadas, viveram duas jornadas algo mentirosas com Tiago Fernandes, cumprindo os restantes 24 jogos bem entregues a Keizer, escolha improvável e arriscada mas feliz por parte de Frederico Varandas.
Nani começou a época como capitão (embora, aqui entre nós, Bruno Fernandes sempre o tenha sido, mesmo quando não tinha a braçadeira no braço) mas rumou aos EUA depois do capítulo mais negro desta temporada leonina (derrota caseira por 4-2 diante do Benfica), podendo-se salientar como contratempos a lesão de Battaglia e o parco rendimento de Bas Dost (15 golos marcados na Liga, embora 8 de grande penalidade). Após período inicial com Salin, Renan Ribeiro "agarrou" a baliza, Ristovski foi simultaneamente um dos jogadores mais azarados e avermelhados da época, e Jovane e Miguel Luís foram os jovens lançados, embora tenhamos mais expectativas para Joelson e Félix Correia e continuemos a achar que Geraldes merecia mais oportunidades. Já Wendel cresceu, e tanto Doumbia como Luiz Phellype deixaram boas indicações rumo à próxima época, na qual esperamos maior rendimento de Raphinha.
Quando o Sporting esteve bem, esteve muito bem. A chegada de Keizer coincidiu com uma sequência de 7 vitórias consecutivas, registo que os leões bateram entre o início de Março e Maio com 10 vitórias seguidas. Comum a toda a época, embora principalmente a partir da chegada do treinador holandês, os desempenhos de Bruno Fernandes para os quais faltam palavras. O médio português, camisola 8, marcou 20 golos na Liga e fez 13 assistências. Um autêntico faz-tudo, BF carregou o Sporting jogo após jogo, jogou e fez jogar, ganhou o respeito de tudo e todos, e tudo isto com uma intensidade que nos permite afirmar que, embora adorássemos continuar a vê-lo por cá, sabemos que o seu nível já é outro. Mas se sair, pelo menos a última imagem terá sido a dele a levantar uma taça.

BRAGA (4)15 pontos à frente do grande rival do Minho, 7 pontos atrás do Sporting. Assim acabou o Sporting de Braga, com os gverreiros a piorarem significativamente em relação à temporada transacta - de 75 pts passaram para 67, de 74 golos marcados passaram para 56, de 29 golos sofridos passaram para 37.
Com Abel Ferreira a perder cotação, embora merecendo já voto de confiança para o futuro próximo por parte do clube, o Braga caiu nas meias-finais das duas Taças e perdeu fulgor a partir do momento em que perdeu em Alvalade por 3-0 na 22.ª jornada. Porque em 21 jornadas o Braga somava 15 vitórias, 4 empates e apenas duas derrotas (no Dragão e na Luz, neste último caso por destrutivos 6-2), mas da jornada 22 em diante seguiram-se 7 derrotas em 13 rondas.
Numa temporada em que Dyego Sousa foi um dos 10 melhores jogadores do campeonato, arrasando sobretudo na primeira volta mas fechando a época nos convocados de Portugal para a Liga das Nações, o Braga sofreu muito com a lesão de Raúl Silva e descobriu um novo valor das balizas ao ver-se obrigado a lançar Tiago Sá.
Com laterais competentes (Goiano e Sequeira), ficou sempre a sensação que Abel perdeu muita qualidade a meio-campo (muito diferente passar de Danilo, Vukcevic e André Horta para Claudemir, Palhinha e Fransérgio) e que podia e devia ter dado bastantes mais minutos a 2 talentos especiais como Trincão e Xadas.
VIT. GUIMARÃES (5)
MOREIRENSE (6)
RIO AVE (7)
BOAVISTA (8)Destaques: Hélton Leite, Neris, Mateus, Fábio Espinho
BELENENSES SAD (9)
SANTA CLARA (10)
MARÍTIMO (11)
PORTIMONENSE (12)
VIT. SETÚBAL (13)
DESP. AVES (14)
TONDELA (15)
DESP. CHAVES (16)
NACIONAL (17)
FEIRENSE (18)






PORTO (2)































