Com o encerrar de 2017, chega o momento de fazermos um balanço do ano televisivo em quatro diferentes vertentes: as melhores novas personagens, as melhores novas séries, os melhores episódios e as melhores séries do ano.
Os últimos anos foram ricos. Elliot Alderson, Pablo Escobar, Danny Rayburn, Wilson Fisk, Frank Castle, Jessica Jones, Earn Marks, Eleven e a dupla Yorkie e Kelly em "San Junipero" foram algumas das personagens que ficámos a conhecer em 2015 e 2016. Sem desiludir, o último ano acrescentou uma vasta gama de personagens ricas, complexas e que prometem acompanhar-nos durante os próximos anos.
Se nas duas últimas ocasiões o fizemos apenas num breve post de Facebook, este ano achámos por bem desenvolver/ justificar um pouco mais as 30 melhores novidades do ano. As melhores personagens introduzidas durante os 365 dias de 2017 chegaram na sua maioria por via de séries novas (Mindhunter, Legion, The Deuce ou The Handmaid's Tale) são alguns exemplos; mas muitas foram também as séries que já estavam a decorrer que descobriram reforços de peso. E uma coisa é certa: em termos de personagens femininas, 2017 bate qualquer um dos últimos anos.
1. Ed Kemper (Cameron Britton, Mindhunter)
Ed Kemper precisou de poucos segundos para nos cativar, tornando-se um íman pela sua calma, vocabulário cuidado, e abertura para o seu mundo interior. Sereno num instante e absolutamente aterrador no seguinte, é a principal personagem introduzida em 2017, e a prova - tal como Hannibal em The Silence of the Lambs - que aos grandes actores e às grandes personagens bastam poucos minutos para deixar marcas profundas. Mindhunter vale, sobretudo, por ele.
Quando Bobby Cannavale foi confirmado em Mr. Robot a probabilidade de resultar em casamento perfeito era bastante elevada. Irving, um vendedor de carros que é na verdade um operacional do Dark Army, está a escrever um livro e não dispensa uma boa refeição no Red Wheelbarrow BBQ. Para quem viu a temporada, sabem que aquela sequência de manga cava, machado na mão e sangue no rosto é o que faz estar aqui.
Legion foi, podemos dizer, o parque de diversões de Aubrey Plaza. Lenny, personagem inicialmente escrita para ser interpretada por um homem, deu a Plaza o melhor trabalho da sua carreira até ao momento. Multifacetada, fez-nos rir, com a cabeça na lua, seduziu-nos, mas deixou-nos também com algum medo. Tinha que estar no pódio.
Há poucas palavras para Herr Starr, o reforço de luxo de Preacher (Pip Torrens já fora excelente em The Crown, embora pouco elogiado). Bastava a sequência que mostra os seus testes para integrar o Graal para aqui constar.
A segunda temporada de Master of None não seria mágica se não tivesse a sua femme fatale italiana, Francesca. Já o dissemos quando escrevemos a crítica à série e quando fizemos os nossos Emmys: é absolutamente impossível não se apaixonarem pela personagem de Alessandra Mastronardi, um teste à prova de género e orientação sexual.
6. Candy (Maggie Gyllenhaal, The Deuce)
Analisando o desempenho, Maggie Gyllenhaal terá sido muito provavelmente a única actriz capaz de rivalizar com Nicole Kidman (Big Little Lies) em 2017. E com que personagem? Candy, a melhor criação de David Simon e George Pelecanos. Uma prostituta por conta própria, mãe solteira, tornando-se gradualmente uma peça influente na emergente indústria pornográfica, conquistando o seu lugar atrás da câmara.
7. Dr. Shaun Murphy (Freddie Highmore, The Good Doctor)
Freddie Highmore não perdeu tempo e depois do seu extraordinário Norman Bates, deu-nos Dr. Shaun Murphy. The Good Doctor não deixa de ser uma série de procedimento, um formato do qual não somos fãs; mas vale pelo seu protagonista, um jovem cirurgião com autismo e síndrome de Savant.
8. Jorge Salcedo (Matias Varela, Narcos)
11. David Haller (Dan Stevens, Legion)
Poucos imaginariam que Narcos descobriria no chefe de segurança do cartel de Cali a sua melhor personagem pós-Escobar. Mecânica simples, explicada de forma infantil: um homem bom e de família, que tem como trabalho proteger os maus. Porventura a personagem de 2017 pela qual era mais difícil não torcer e sofrer.
9. Serena Joy Waterford (Yvonne Strahovski, The Handmaid's Tale)
Infértil, vil, desesperada por ser mãe, sozinha, rancorosa. Serena Joy Waterford foi uma transformação gigante e uma prova (infinitos furos acima de tantas outras personagens pouco desafiantes como teve por exemplo em Chuck) do valor de Yvonne Strahovski. É fácil percebê-la, mas é também fácil odiá-la.
10. Luca Changretta (Adrien Brody, Peaky Blinders)
Aidan Gillen e Adrien Brody foram os reforços de Peaky Blinders no seu quarto ano de existência, ao lado de Cillian Murphy, Tom Hardy e Helen McCrory. Gillen pouco acrescentou mas Brody esteve brutal. Luca Changretta foi um dos vilões de 2017 e uma personagem que não fica a dever nada a algumas de Goodfellas ou The Godfather. Supomos que chegue como elogio.
À beira do Top-10, um mutante diagnosticado como esquizofrénico. David Haller assumiu-se este ano como uma das melhores personagens da Marvel no universo televisivo ou cinematográfico. Explosão criativa, desconexa e arriscada, Legion é tudo o que David também é.
12. Perry Wright (Alexander Skarsgard, Big Little Lies)
Nicole Kidman não deu hipóteses à concorrência em Big Little Lies, mas analisando a personagem e não a interpretação - embora Skarsgard, numa dinâmica incrível com Kidman, também esteja soberbo - Perry Wright é o principal elemento a retirar da equação BLL. De periférico a absolutamente central, consegue ser num segundo o marido perfeito e logo a seguir um pesadelo de olhos bem abertos.
13. James Keziah Delaney (Tom Hardy, Taboo)
Taboo, infelizmente, é uma capa muito apelativa com pouco conteúdo. Não obstante, Tom Hardy é Tom Hardy, e com ele não há que enganar. Sempre um passo à frente de tudo e todos (esse é um dos problemas de Taboo, o facto de quase tudo correr sempre bem a James Delaney, nunca ficando o espectador a temer realmente por ele), atormentado pelo passado e com medo de si próprio, é uma personagem que por si só nos fará ver a próxima temporada.
14. Amy e Frank (Georgina Campbell e Joe Cole, Black Mirror)
O ano passado Charlie Brooker deu-nos Yorkie e Kelly. Desta vez, Amy e Frank. Naquela que pode ser vista como a abordagem mais romântica alguma vez feita ao Tinder, a química entre Georgina Campbell e Joe Cole chega e sobra para fazer de "Hang the DJ" o melhor episódio da temporada, e deles a melhor nova dupla deste ano. E há mais duas neste Top.
15. John Tavner (Michael Dorman, Patriot)
Protagonista de uma das séries mais subvalorizadas de 2017, John Tavner é uma criação genial: um agente infiltrado, deprimido, que transforma episódios que tem a recalcar em (boas) canções folk. Cinzento, mas cómico.
16. Frank Griffin (Jeff Daniels, Godless)
Um antagonista valioso é, quase sempre, sinónimo de uma boa série ou um bom filme. Aliás, é apanágio dizer-se que um protagonista será tanto mais forte quanto mais forte for o seu opositor. Jeff Daniels, sem um braço, fez de Frank Griffin uma personagem incrível. Basta pensar que, se Godless fosse encurtado para um filme, Daniels estaria muito provavelmente nas cogitações para óscar.
17. Bill Tench e Holden Ford (Holt McCallany e Jonathan Groff, Mindhunter)
Se há algo que Se7en e True Detective nos mostraram foi que edificar uma dupla simultaneamente equilibrada e desequilibrada, muito diferente e muito igual, é o segredo. Holden Ford e Bill Tench têm essa sintonia. O detective quase reformado, que vê a sua paixão acordada; e o protagonista revolucionário, num limbo entre compreender os serial killers e ser um deles.
18. V. M. Varga (David Thewlis, Fargo)
Na senda de Lorne Malvo ou Mike Milligan, Fargo deu-nos desta vez V. M. Varga. David Thewlis esteve como nunca antes o tínhamos visto - obsceno, assustador e magnético com a sua dicção arrastada.
19. Ruth Wilder (Alison Brie, GLOW)
GLOW podia, sem esforço, colocar quatro ou cinco personagens neste Top. Sheila the She Wolf, Justine e Britannica estão de certa forma representadas pela porta-estandarte Ruth Wilder. A actriz falhada transformada em vilã do ringue foi a oportunidade perfeita para Brie mostrar que é muito mais do que uma cara e um corpo bonito, e um desafio em diferentes direcções.
20. Nikki Swango (Mary Elizabeth Winstead, Fargo)
Com Ewan McGregor e Carrie Coon abaixo do expectável, foi Mary Elizabeth Winstead a elevar a fasquia. Estratega desde o começo, tornou-se bem mais interessante a partir do momento em que a acorrentaram (literalmente) ao regressado Mr. Wrench.
21. Chepe (Pêpê Rapazote, Narcos)
O nosso Pêpê. Na melhor temporada de Narcos até à data (quem diria que se iria tornar melhor depois de perder a sua estrela, Wagner Moura como Pablo Escobar?), Chepe usou da melhor maneira possível todos os minutos que teve. A contagem decrescente no cabeleireiro e o frente-a-frente num café seguem direitinhas para a compilação de melhores cenas do ano.
22. Mary Agnes (Merritt Wever, Godless)
Mary Agnes deverá ter aberto várias portas para Merritt Wever, para muitos uma cara conhecida graças a The Walking Dead. Independente, corajosa, proactiva, determinada, apaixonada.
23. Yuri Gurka e Meemo (Goran Bogdan e Andy Yu, Fargo)
Tão Coen, (e já se pode dizer) tão Hawley. A terceira temporada de Fargo foi inferior às anteriores, mas deu gosto conhecer a dupla Yuri e Meemo. O primeiro nos seus longos discursos sobre a terra natal, o segundo pelos passos de dança com headphones nos ouvidos.
24. Robert Daly (Jesse Plemons, Black Mirror)
Entrou em Breaking Bad, depois em Fargo e agora em Black Mirror. Fez de filho de Philip Seymour Hoffman em The Master, e vai entrar em The Irishman. Os últimos seis anos de Jesse Plemons são qualquer coisa... Num episódio de falsas aparências, Daly é uma das personagens mais complexas do ano: marginalizado no trabalho, oprimido na vida real; opressor e abusador numa fantasia virtual.
25. Janine (Madeline Brewer, The Handmaid's Tale)
The Handmaid's Tale é uma piscina de boas personagens femininas. Elisabeth Moss é a estrela da companhia em termos de interpretação, mas como personagem perde para várias das mulheres captadas pela lente de Reed Morano. Ofglen podia estar aqui, mas tirando a nossa 9.ª classificada, Janine não deixa ninguém indiferente - o olho, a lucidez numa sociedade doente que a vê como louca, e a tragédia.
26. Franklin Saint (Damson Idris, Snowfall)
Snowfall, série do FX sobre o boom de consumo de cocaína em Los Angeles nos anos 80, não correspondeu às expectativas. Com a segunda temporada confirmada, há muito a melhorar, mas John Singleton já tem um dos ingredientes mais importantes: um protagonista do caraças. Muita atenção a Damson Idris (absolutamente chocante perceber que é britânico depois de tão perfeito sotaque americano).
27. Ward Meachum (Tom Pelphrey, Iron Fist)
Não adianta "bater" mais em Iron Fist, o parente pobre das séries Marvel-Netflix. No entanto, se há personagem que tornou a série tolerável foi Ward Meachum. Graças a um excelente trabalho de Tom Pelphrey, o antigo amigo de infância de Danny Rand revelou ser a personagem (ou se calhar a única) mais complexa.
28. Marty Byrde (Jason Bateman, Ozark)
Embora Ozark tenha servido também como plataforma para confirmar Julia Garner - na pele de Ruth Langmore - como uma actriz de futuro, tudo o que esta réplica de produtos passados que só perto do final encontra a sua razão de ser tem de forte, deve-o a Jason Bateman. Exímio a desenrascar-se de qualquer situação, Marty Byrde não é Walter White nem Lester Nygaard, mas merece aqui estar.
29. C. C. (Gary Carr, The Deuce)
Numa Nova Iorque dos anos 70, entre chulos e prostitutas, C. C. é um player nato. A bengala, os fatos, o discurso; tudo atrai naquele que se revela depois o chulo mais violento. Possessivo com a "sua" musa Lori, criminoso para com Ashley.
30. Mamacita (Jackie Hoffman, Feud)
No primeiro conflito trazido à televisão por Ryan Murphy, as performances de Jessica Lange e Susan Sarandon abafaram tudo o resto. No entanto, o apoio sempre presente da diva Joan Crawford, Mamacita, soube tornar-se, na sombra, a melhor personagem (não confundir com melhor interpretação) da temporada.