Criado por
Judd Apatow, Lesley Arfin, Paul Rust
Elenco
Gillian Jacobs, Paul Rust, Claudia O'Doherty, Iris Apatow, Briga Heelan
Canal: Netflix
Classificação IMDb: 7.8 | Metascore: 72 | RottenTomatoes: 88%
Classificação Barba Por Fazer: 75
- Abaixo podem encontrar Spoilers -
A História:
Mal ouvimos falar numa série de comédia para a Netflix "criada por Judd Apatow" ficámos de antenas no ar, ou não fosse Apatow um dos responsáveis por 'Freaks and Geeks' há muitos anos atrás, e uma das pessoas mais influentes e com uma voz muito própria no actual panorama da Comédia norte-americana. 'The 40-year-old Virgin', 'Knocked Up' e recentemente 'Trainwreck' com Amy Schumer foram alguns dos projectos de Apatow, e a presença da Netflix (que já mostrara qualidade com as comédias originais 'Master of None' e 'Unbreakable Kimmy Schmidt'; 'Orange is the New Black' deve ser visto como dramedy) na equação permitia augurar um bom resultado final.
'Love' (podia ter um nome mais distintivo) não é nenhuma inovação em termos de conceito, mas é uma comédia com pernas para andar. Tal como em 'Freaks and Geeks', criada por Paul Feig mas com Apatow como produtor, o "truque" está nas personagens, com as quais é fácil criar empatia à medida que a série se desenvolve, abordando de forma cândida diversos clichés antes de dar meia-volta e virar o tabuleiro ao contrário.
Numa temporada de estreia com 10 episódios, a força está nos dois protagonistas - Mickey (Gillian Jacobs) e Gus (Paul Rust). A relação e características de ambos torna-os uma espécie de duo 'Annie Hall' versão 2016, com Rust a dar inclusive ares de um jovem Woody Allen... uma opinião que não seremos os únicos a partilhar, muito provavelmente. 'Love' consegue fugir - em parte - à lógica boy-meets-girl pela forma honesta como retrata a relação e a perspectiva masculina e feminina sobre a mesma, com encontros e desencontros, erros, explorando a vontade de um querer quando o outro já não quer tanto, tudo com uma abordagem real e honesta.
Sendo Paul Rust um dos criadores é fácil dizer-se "espertalhão.. criou o Gus para poder andar a papá-las", mas a evolução da personagem reforça a ideia de que em 'Love' os estereótipos (o geek neste caso) são-nos esfregados na cara, e depois atirados para bem longe.
Com várias personagens fundamentais para manter a história interessante - Bertie, Heidi e Arya (Iris Apatow, a filha mais nova de Judd), nomeadamente -, há uma certa repetição do modelo de 'Master of None': uma comédia com laivos dramáticos ao ter como personagens principais pessoas na casa dos 30 que ainda não conseguiram estabilizar e "encontrar-se", nem tão pouco sabem o que querem, em termos pessoais e profissionais.
'Love' (podia ter um nome mais distintivo) não é nenhuma inovação em termos de conceito, mas é uma comédia com pernas para andar. Tal como em 'Freaks and Geeks', criada por Paul Feig mas com Apatow como produtor, o "truque" está nas personagens, com as quais é fácil criar empatia à medida que a série se desenvolve, abordando de forma cândida diversos clichés antes de dar meia-volta e virar o tabuleiro ao contrário.
Numa temporada de estreia com 10 episódios, a força está nos dois protagonistas - Mickey (Gillian Jacobs) e Gus (Paul Rust). A relação e características de ambos torna-os uma espécie de duo 'Annie Hall' versão 2016, com Rust a dar inclusive ares de um jovem Woody Allen... uma opinião que não seremos os únicos a partilhar, muito provavelmente. 'Love' consegue fugir - em parte - à lógica boy-meets-girl pela forma honesta como retrata a relação e a perspectiva masculina e feminina sobre a mesma, com encontros e desencontros, erros, explorando a vontade de um querer quando o outro já não quer tanto, tudo com uma abordagem real e honesta.
Sendo Paul Rust um dos criadores é fácil dizer-se "espertalhão.. criou o Gus para poder andar a papá-las", mas a evolução da personagem reforça a ideia de que em 'Love' os estereótipos (o geek neste caso) são-nos esfregados na cara, e depois atirados para bem longe.
Com várias personagens fundamentais para manter a história interessante - Bertie, Heidi e Arya (Iris Apatow, a filha mais nova de Judd), nomeadamente -, há uma certa repetição do modelo de 'Master of None': uma comédia com laivos dramáticos ao ter como personagens principais pessoas na casa dos 30 que ainda não conseguiram estabilizar e "encontrar-se", nem tão pouco sabem o que querem, em termos pessoais e profissionais.
Quem vir 'Love' vai passar pelo seguinte processo: ao longo dos primeiros episódios é fácil empatizar com Gus, e disponibilizar-se-ão até para o confortar "já passou, rapaz", até ele desiludir o espectador. Mas há pessoas assim, e 'Love' não esconde que as relações estão longe de ser todas histórias da Disney.
E depois de falar na Disney, não há melhor forma de fazer a ligação para a melhor personagem desta série - Mickey. É possível ver 'Love' sem desenvolver uma certa crush televisiva pela personagem?!
Mickey Dobbs tem uma personalidade aditiva (drogas, álcool, sexo, amor), é cómica, despassarada, tem um gato chamado "Grandpa" e enche o ecrã à la Annie Hall com uma t-shirt de mangas puxadas até aos ombros ou com umas jardineiras castanhas. O desenvolvimento de Mickey ao longo dos dez episódios é muito mais natural do que o de Gus, demonstrando querer ter algo ao perceber que já não o tem como certo.
É já uma das melhores personagens de 2016 na Televisão, com uma imprevisibilidade que a torna chamativa, mas linear nos momentos que melhor servem para a caracterizar. É egoísta, tem um olhar carregado de loucura, parece muitas vezes estar muito chateada com o mundo, e pelo seu todo deve dar-se mérito aos criadores e argumentistas de 'Love' e, claro, a Gillian Jacobs.
E depois de falar na Disney, não há melhor forma de fazer a ligação para a melhor personagem desta série - Mickey. É possível ver 'Love' sem desenvolver uma certa crush televisiva pela personagem?!
Mickey Dobbs tem uma personalidade aditiva (drogas, álcool, sexo, amor), é cómica, despassarada, tem um gato chamado "Grandpa" e enche o ecrã à la Annie Hall com uma t-shirt de mangas puxadas até aos ombros ou com umas jardineiras castanhas. O desenvolvimento de Mickey ao longo dos dez episódios é muito mais natural do que o de Gus, demonstrando querer ter algo ao perceber que já não o tem como certo.
É já uma das melhores personagens de 2016 na Televisão, com uma imprevisibilidade que a torna chamativa, mas linear nos momentos que melhor servem para a caracterizar. É egoísta, tem um olhar carregado de loucura, parece muitas vezes estar muito chateada com o mundo, e pelo seu todo deve dar-se mérito aos criadores e argumentistas de 'Love' e, claro, a Gillian Jacobs.
O Episódio: 07 'Magic'.
Embora a dinâmica da relação Mickey-Gus mude completamente nos últimos três episódios, deve ser mais ou menos consensual considerar-se a segunda metade da série o segmento mais forte. Curiosamente, tal como em 'Master of None', outro produto Netflix, há um lado menos cómico e mais sério/ introspectivo nesses episódios (uma lógica que séries como 'Togetherness' ou 'You're the Worst' têm também). Os episódios 10 e 05 têm momentos capitais da relação entre Mickey Dobbs e Gus Cruikshank, mas o episódio 07 'Magic' é capaz de ser um dos que melhor caracteriza as personagens e a série.
Tem uma cena que se não é uma referência declarada a 'Annie Hall', parece, quando Mickey pede ajuda a Gus para a "salvar" dos insectos que mantém reféns no seu quarto, tapados por copos de plástico; mas tudo o que se passa na ida ao espectáculo de magia é engraçado. Como dissemos, a season finale, o episódio 05, bem como os episódios 08 e 09 são também bastante bons.
Tem uma cena que se não é uma referência declarada a 'Annie Hall', parece, quando Mickey pede ajuda a Gus para a "salvar" dos insectos que mantém reféns no seu quarto, tapados por copos de plástico; mas tudo o que se passa na ida ao espectáculo de magia é engraçado. Como dissemos, a season finale, o episódio 05, bem como os episódios 08 e 09 são também bastante bons.
O Futuro:
Os acontecimentos das próximas temporadas (pelo menos haverá season 2) dirão se a história da primeira foi um erro ou não, mas o que é certo é que quando chegamos ao final do último episódio, ao contrário da esmagadora maioria das séries deste género em que somos levados a "torcer" para que os protagonistas fiquem juntos, em 'Love' não é assim tão claro como a água que seja a opção mais confortante por tudo o que acontece até aí.
Judd Apatow, Lesley Arfin e Paul Rust (sabiam que entrou em 'Inglourious Basterds'?) têm potencial nas mãos para construir algo como a série britânica 'Catastrophe', e dois protagonistas que ora parecem estar em pólos opostos, ora 100% alinhados.
Os acontecimentos das próximas temporadas (pelo menos haverá season 2) dirão se a história da primeira foi um erro ou não, mas o que é certo é que quando chegamos ao final do último episódio, ao contrário da esmagadora maioria das séries deste género em que somos levados a "torcer" para que os protagonistas fiquem juntos, em 'Love' não é assim tão claro como a água que seja a opção mais confortante por tudo o que acontece até aí.
Judd Apatow, Lesley Arfin e Paul Rust (sabiam que entrou em 'Inglourious Basterds'?) têm potencial nas mãos para construir algo como a série britânica 'Catastrophe', e dois protagonistas que ora parecem estar em pólos opostos, ora 100% alinhados.