Série: Orphan Black
Actriz: Tatiana Maslany
por Miguel Pontares
Da História da literatura portuguesa faço a ponte para uma série canadiana, com uma actriz local, Tatiana Maslany, a multiplicar-se em conflitos e identidades, personagens, imagens e desafios.
'Orphan Black', série de ficção científica criada por Graeme Manson e John Fawcett, aborda o maravilhoso (?) mundo da clonagem, obrigando Maslany a interpretar vários clones nascidos em 1984 através de fertilização in vitro. Com três temporadas - a quarta estreia em Abril - já foram reveladas várias "irmãs de ADN", mas tudo começou com Sarah Manning, a protagonista, original por tudo o que a distingue (nomeadamente o facto de ter sido a única capaz de originar descendência) e para nós espectadores por ter sido a primeira que nos foi dada a conhecer. Desde o dia em que Sarah vê uma suposta sósia suicidar-se à sua frente, assumindo depois a sua identidade, já muito descobrimos sobre os movimentos fanáticos e experiências biológicas, opondo a Ciência (Neolution) e a Religião (Proletheans), os projectos LEDA e CASTOR.
Mas, como muitos outros sci-fi, o coração de 'Orphan Black' é o seu lado humano e, neste caso, a noção de família. Ignorando clones que pouca importância tiveram, Beth e a vilã Rachel, o interesse da série da BBC America é o quarteto unido pelas circunstâncias e pela genética, mas totalmente heterogéneo em tudo o resto.
Sarah Manning é o elemento agregador do grupo, aquela que tudo faz para proteger a filha; mas sem Cosima Niehaus, Alison Hendrix e Helena, 'Orphan Black' perderia 90% da qualidade. Cosima, a bióloga lésbica, sexy e vulnerável de óculos e rastas é incrivelmente diferente de Alison, essencialmente o comic relief da série, uma dona de casa preocupada em zelar pela imagem que a comunidade local tem dela, embora acabe sempre em sarilhos (ela e o seu marido Donnie).
E depois... há Helena. Esta Shakira que parece precisar de uma boa noite de sono nem precisa de apelido. Levada a acreditar desde pequenina que era a única versão original dos clones, é-nos apresentada como uma serial killer de clones treinada para o efeito; só mais tarde percebemos que é irmã gémea da protagonista Sarah, da qual foi afastada à nascença crescendo depois num convento na Ucrânia. O tempo e os vários episódios fizeram de Helena um elemento do núcleo-forte da série, e parte da família inseparável e invulgar, construindo uma ligação única com a irmã Sarah, e uma amizade cómica com o cunhado Donnie.
Entre as várias almas da actriz Tatiana Maslany (ponham os olhos nela, oxalá os estúdios e produtores percebam o seu potencial, e entretanto dêem-lhe um Emmy), Helena é a que se distingue como melhor personagem porque é... diferente de tudo, verdadeiramente única. Tem sotaque de leste, um estômago infinito e consegue ser ao mesmo tempo uma assassina letal e psicótica, uma autêntica criança nas suas interacções e maneirismos, revelando-se imprevisível e instável mentalmente (tem as costas mutiladas, com os cortes a formarem umas asas).
Ela é um dos principais motivos para verem este show de Tatiana Maslany, é tão inocente como sangrenta, e trata as irmãs por sestra. E bastava esse sestra para a fazer estar aqui.
Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Lorena Wildering, Nuno Cunha, Cê e SWP.
Foram tidos em consideração séries com pelo menos 1 temporada, concluída a 1 de Outubro de 2015. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou às séries que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.