17 de fevereiro de 2016

Os Reis do Mercado de Inverno (Premier League)

    O defeso de Janeiro encerrou há mais de duas semanas, e podemos por isso agora olhar globalmente para o comportamento dos vários clubes. Indiscutivelmente, Janeiro de 2016 fica marcado pela emergência do futebol chinês, capaz de atrair jogadores como Alex Teixeira (50 milhões de euros), Jackson Martínez (42M) ou Ramires (28M). Entre clubes europeus, o francês Giannelli Imbula (desilusão no Porto, embora contagiado pela depressão que a equipa viveu com Lopetegui) representou a maior transferência, deixando a Invicta para rumar ao Stoke City a troco de 24 milhões de euros.
    O mercado de transferências de Janeiro representa, habitualmente, a derradeira tábua de salvação/ aperfeiçoamento para muitas equipas. No entanto, se noutras épocas foi nesta altura em Inglaterra que aconteceram negócios como o de Luis Suárez (Ajax para Liverpool), Vidic (Spartak Moscovo para Manchester United), Daniel Sturridge (Chelsea para Liverpool) ou Nemanja Matic (Benfica para Chelsea), desta vez os grandes ingleses ficaram bastante quietinhos. Assim, no começo de 2016 os protagonistas em Inglaterra acabaram por ser os clubes que lutam para não descer e, por razões diferentes, a sensação da época.

NEWCASTLE

    No Verão de 2015 chegaram a St. James Park jogadores como Wijnaldum, Mitrovic, Mbemba e Thauvin. O holandês tem sido a figura da equipa, o avançado sérvio teve uma adaptação mais demorada mas já marcou 5 golos, Mbemba tem-se destacado, sobretudo nos jogos grandes, embora faça parte de uma das defesas com mais golos sofridos em prova, e em relação a Thauvin basta verificar que voltou a Marselha, emprestado pelo Newcastle, para se perceber que a coisa não correu como era expectável.
    Com 24 pontos e no antepenúltimo lugar (zona de descida), os magpies não fizeram por menos e a Direcção abasteceu o técnico Steve McClaren com mais craques. Curiosamente, não chegou nenhum elemento para a defesa, o sector com menos qualidade do Newcastle, nem tão pouco chegou um médio com o perfil em falta. As 4 contratações visam todas garantir que o Newcastle termine a época entre o 13.º e o 17.º lugar (acima é difícil, e abaixo significaria Championship em 2016-17). Para o meio-campo chegaram Jonjo Shelvey e Henri Saivet. Shelvey preenche uma lacuna clara no miolo do 18.º classificado uma vez que faltava um médio com capacidade de ditar o tempo e os ritmos da equipa, aliando a isso qualidade para lançar jogo (o que Shelvey tem em qualidade com bola, não tem na hora de defender/ pressionar); já Saivet, ex-Bordéus, acaba por não ser um reforço com entrada directa no 11 garantida, mas dá maior profundidade ao plantel.
    Depois, um extremo que andava desaproveitado em White Hart Lane, e um terror para qualquer defesa. Falamos de Andros Townsend e Seydou Doumbia. O extremo do Tottenham, capaz de actuar nos dois flancos, caso consiga ser regular e exibir o nível dos seus melhores jogos pelos spurs pode ser mesmo um franchise player como Wijnaldum. Com o empréstimo de Doumbia, o Newcastle garante golos. Uma coisa é certa: Sunderland, Aston Villa, Norwich e Swansea olharão com inveja para um plantel com Wijnaldum, Sissoko, Townsend, Shelvey, Mitrovic, Cissé, Ayoze e Doumbia, o que só reforça a obrigação que o Newcastle tem de fugir à zona de descida e terminar o campeonato com maior segurança e a respirar com tranquilidade.



EXTRA: LEICESTER CITY

    Muitas vezes no futebol, mais importante do que entrar algum reforço, é não deixar que ninguém saia. O Leicester City, de Claudio Ranieri, primeiro classificado isolado com 2 pontos de avanço, sabe que o título não é uma miragem, e principalmente a presença no Top-4 e consequente apuramento (directo ou indirecto) para a Champions faz sentido começar a ser realmente um objectivo. É fácil prever que no Verão jogadores como Mahrez, Vardy e Kanté terão muitos clubes dispostos a cometer loucuras por eles, mas é absolutamente sensacional (só na Premier podia acontecer isto, graças à folga financeira dos clubes) que o Leicester tenha conseguido segurar a sua dupla infernal Vardy e Mahrez até final da época.
    A continuidade do electrizante inglês (19 golos e 5 assistências), com uma história de vida que tudo indica irá dar filme em breve, e do mágico argelino (14 golos e 10 assistências) representa o reforço invisível, e o compromisso dos craques em levar este projecto e época de sonho até ao final.
    De resto, a preocupação dos foxes foi a de ampliar o plantel, contratando o ganês Amartey (dará mais músculo ao meio-campo) e a promessa Demarai Gray, uma aposta a longo-prazo. Depois de emprestar o croata Kramaric ao Hoffenheim, só ficou a faltar chegar a acordo com um dos jogadores de ataque desejados - Rémy (Chelsea) e Éder (Sampdoria) terão estado em cima da mesa, mas lamentamos que o clube não tenha conseguido garantir Ahmed Musa como queria.

SUNDERLAND


    O grande rival do Newcastle também fez pela vida, e com Allardyce (muita experiência no futebol inglês) os black cats prometem lutar até ao fim pela manutenção - o Aston Villa parece neste momento condenado, mas entre Sunderland, Newcastle, Norwich, Swansea e Bournemouth devem decidir-se os 2 restantes lugares que ninguém quer. O Sunderland tem conseguido salvar-se graças a desempenhos inesperados nas rectas finais das últimas temporadas. Será assim outra vez?
    Neste mês de Janeiro chegaram ao clube 5 reforços. Em sentido inverso, Coates foi emprestado ao Sporting, e mais questionável terá sido a decisão de abdicar de Steven Fletcher e Jordi Gómez, igualmente cedidos a título de empréstimo. Steve Harper, guardião de 40 anos que serviu o Newcastle durante metade da sua vida, chegou como resposta à venda de Pantilimon ao Watford, e o sector defensivo foi reforçado com Jan Kirchhoff (Bayern) e Lamine Koné (Lorient). Entre ambos, embora Kirchhoff tenha mais nome, acreditamos que Koné poderá ser mais importante nesta segunda metade da época, adaptando-se melhor.
    Mas, sem margem para dúvidas, as duas melhores contratações do clube foram para o ataque. Dame N'Doye, que há um ano atrás deixara boas indicações no Hull City, trará maior poder de fogo e o Sunderland bem precisa, assente quase só no instinto finalizador de Defoe; e a grande contratação foi mesmo o tunisino Wahbi Khazri - foi um dos jogadores que destacámos na nossa rubrica '100 Jogadores que pode marcar 2016', no 93.º lugar, e promete ser uma das figuras da equipa na luta pela manutenção. Na Ligue 1 levava 5 golos e 7 assistências ao serviço do Bordéus e, desde que chegou, bisou nas assistências no empate 2-2 do Sunderland em Anfield, e marcou ao Manchester United. 

BOURNEMOUTH

    Se na época 2014-15 nunca escondemos que torcíamos para que o Leicester City fizesse um bom campeonato, também nunca o fizemos nesta temporada em relação ao Bournemouth. Quer isto dizer que a equipa de Eddie Howe será candidata ao título em 2016-17? Não.
    Com um plantel inferior em termos de nomes e de valor de mercado comparativamente com a esmagadora maioria na Premier League, mas uma identidade muito própria e uma ideia de jogo ambiciosa (Eddie Howe é uma espécie de Marco Silva inglês), o Bournemouth está neste momento em 15.º lugar, mas ainda terá que lutar durante várias jornadas para poder respirar de alívio em Maio.
    Castigados por algumas arbitragens polémicas - contra Liverpool e Swansea, pelo menos - e principalmente pelas lesões (num plantel tão curto paga-se caro ficar sem Callum Wilson e Gradel), os cherries preocuparam-se em reforçar sobretudo o ataque. E fizeram-no bem. Para a defesa chegou o lateral Wiggins, enquanto que para a linha fronteiriça chegaram 3 jogadores. Grabban, figura secundária no Norwich, regressou a uma casa onde já foi bastante feliz, embora num patamar competitivo inferior; e o argentino Iturbe, emprestado pela Roma com opção de compra, tanto se pode revelar uma aquisição brutal, como uma aposta falhada. Poucas dúvidas há em relação a Benik Afobe, o novo ponta de lança do clube - faltava ao Bournemouth a capacidade de fazer golos, Charlie Austin rumou ao Southampton porque o clube teve capacidade de lhe oferecer um salário incomportável para o Bournemouth, e os números têm dito o suficiente do impacto de Afobe. É indiscutível que Afobe será fundamental no que falta da época, mas muita atenção porque o Bournemouth tem uma sequência final de jogos terrível.

NORWICH


    Se da parte do Aston Villa houve uma espécie de hastear da bandeira branca, numa rendição de quem parece consciente que o seu destino é o Championship, uma vez que o clube não contratou ninguém (e também não seria fácil atrair jogadores nas actuais circunstâncias, conscientes de que entrariam num barco a afundar-se), do Norwich viu-se alguma capacidade de lutar e arranjar novos argumentos.
    A equipa amarela e verde agiu bem ao vender Grabban ao Bournemouth, e vendeu também Gary Hooper ao Sheffield Wednesday de Carlos Carvalhal, um jogador que podia ser peça importante no Norwich, mas que será verdadeiramente valorizado no plantel do técnico português. O alemão Timm Klose chegou para o coração da defesa, a troco de 12 milhões, e também para o sector mais recuado foi contratado o português Ivo Pinto, lateral-direito ex-Dínamo Zagreb. Patrick Bamford foi emprestado pelo Chelsea, depois de passar ao lado na sua estadia no Crystal Palace, o que nos leva ao reforço da temporada para o clube - Steven Naismith. O escocês, que marcou logo na estreia naquele jogo de loucos (4-5!) contra o Liverpool, passou de jogador utilitário no Everton para estrela da equipa no Norwich e, embora nos continue a parecer que a equipa é forte candidata à descida, passará muito pelo rendimento de Naismith o destino da equipa de Alex Neil.



NOTAS:
- Charlie Austin (5,2 milhões) foi uma contratação absolutamente sensacional por parte do Southampton;
- Temos grandes expectativas para o que Oumar Niasse irá fazer no Everton, ele que foi o nosso 81.º jogador nos '100 Jogadores que podem marcar 2016';
- O Swansea errou ao vender Shelvey, ainda para mais a um rival directo, mas à partida terá escolhido bem os reforços Fer e Paloschi;
- Giannelli Imbula (24 milhões) tornou-se o jogador mais caro da História do Stoke City. Esperávamos muito mais dele na sua passagem pelo Porto, mas estamos convictos de que se afirmará em Inglaterra (de resto, já conta com um golo marcado na última jornada);
- Amrabat e, principalmente, o duo Mario Suárez e Doucouré foram boas contratações do Watford;
- As equipas de Manchester ficaram a ver. O Chelsea garantiu Alexandre Pato por empréstimo. O Liverpool juntou Caulker à sua defesa e garantiu o sérvio Grujic para a próxima época;
- O papa-grandes West Ham contratou Byram e Emenike, enquanto que o Crystal Palace (uma das equipas que mais caiu nos últimos tempos) apostou no esquecido Adebayor;
- Num ano em que o título é possível, pedia-se mais uma ou duas contratações aos gunners, mas o Arsenal contratou apenas o egípcio Mohamed Elneny aos suiços do Basel.

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