Série: Hannibal
Actor: Hugh Dancy, Mads Mikkelsen
por Miguel Pontares
Não fazia sentido separar o que Bryan Fuller juntou na NBC. 'Hannibal' foi sempre, ao longo de três temporadas, sobre a relação de Will Graham e Hannibal Lecter. O fascínio de um pelo outro, a relação amor/ ódio, e o desejo de Hannibal de transformar Will.
O mérito de 'Hannibal' foi a sua capacidade de reinventar um universo literário já visitado em vários filmes, com um elenco de luxo, e uma realização e fotografia como poucas séries tiveram nos últimos anos. No centro, uma das duplas que revelaram maior química no pequeno ecrã (o retrato de uma relação perturbadora mas ao mesmo tempo quase erótica entre duas mentes brilhantes).
Will Graham (Hugh Dancy) traça o perfil de serial killers para o FBI, revelando-se capaz de pensar como um, e vive por isso num constante tormento, sofrendo com os demónios que o fazem duvidar de si próprio, e com uma encefalite escondida pelo seu psiquiatra e confidente Hannibal Lecter.
Se Hugh Dancy conseguiu passar a ser "o Will Graham", beneficiando da sua exploração mais profunda e de mais tempo para criar empatia com o espectador, comparativamente com Edward Norton, Mads Mikkelsen teve o condão de (quase) rivalizar com a interpretação lendária de Sir Anthony Hopkins. A versão de Mikkelsen do canibal respeitou naturalmente os traços da personagem criada por Thomas Harris, desde o seu carisma hipnotizante e manipulador à eloquência, inteligência e sofisticação. O requinte do canibal, na série, vê-se sobretudo na preparação de várias iguarias.. cuja carne não podemos ignorar o que (quem) é. Segundo Fuller, Mikkelsen preocupou-se não só em afastar-se das interpretações já conhecidas de Hopkins e Brian Cox, mas também em "ler" e construir Hannibal como uma espécie de Satanás, oferecendo assim um subtexto de criatura determinada em tentar os que o rodeiam. Uma espécie de come to the dark side, Will.
Foram só três temporadas quando havia material para 4 ou 5, mas a cena final foi das melhores coisas que a Televisão teve nos últimos anos - a música "Love Crime" a acompanhar o momento de partilha de Hannibal e Will, desde o homicídio conjunto ao abraço, à queda, terminando depois naquele plano final ambíguo mas suficientemente conclusivo. Poderoso, intenso, como 'Hannibal' e a ligação dos seus dois protagonistas.
← Anterior (59)
Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Lorena Wildering, Nuno Cunha, Cê e SWP.
Foram tidos em consideração séries com pelo menos 1 temporada, concluída a 1 de Outubro de 2015. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou às séries que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.