21 de novembro de 2014

Crítica: Nightcrawler

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2015 
Realizador: Dan Gilroy
Argumento: Dan Gilroy
Elenco: Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Riz Ahmed, Bill Paxton
Classificação IMDb: 7.9 | Metascore: 76 | RottenTomatoes: 95%
Classificação Barba Por Fazer: 83

    O valor de uma notícia em 1.ª mão, o backstage de uma estação televisiva e, acima de tudo, uma intensa e inquietante interpretação de Jake Gyllenhaal enquanto Louis 'Lou' Bloom. Este é o sumo de Nightcrawler.
    Realizado e escrito por Dan Gilroy, Nightcrawler (Repórter na Noite, nas salas de cinema portuguesas) traz ao de cima o melhor de Jake Gyllenhaal que, mesmo depois deste filme, ainda continua a ter em Donnie Darko a sua personagem mais emblemática. Nightcrawler arranca com Louis Bloom a obter o relógio de um homem, numa metáfora implícita - Bloom, obstinado, determinado e ambicioso, consegue aquilo que quer. E, durante quase 2 horas, percebemos que não olha a meios para atingir os seus fins.
    Nightcrawler dá-nos Louis Bloom, um homem peculiar e à procura de trabalho, que encontra na noite, de câmara na mão, a resposta para as suas necessidades. Bloom quer subir na vida e, de forma independente como repórter freelancer - embora a dada altura conte com um estagiário, Rick (Riz Ahmed) -, procura ser o 1.º a chegar aos locais de crimes nocturnos, captando as imagens em 1.ª mão e vendendo-as à TV. Na sua escalada para o sucesso, Bloom, o homem que diz entender as pessoas mas apenas não gostar delas, encontra em Nina (Rene Russo) o seu ponto de contacto com o mundo televisivo, numa ambição conjunta que envolverá chantagens e estranhas e perigosas ligações.

    Nightcrawler tem falhas: não é um filme 100% fácil para o espectador, pecando em certa medida na realização e na própria banda sonora e fotografia. Mas o problema até acaba por ser o Argumento - embora o conceito seja excelente, a personagem de Lou Bloom magnificamente bem pensada e estruturada, o argumento parece curto para o potencial que o filme tinha. Fica a ideia que podíamos estar perante um futuro filme de culto, um filme para se bater com Gone Girl como o policial/ thriller do ano, mas fica-se pelo quase. Quase uma obra-prima moderna.
    Não obstante, há várias coisas boas. A ideia de Dan Girloy foi boa (provavelmente o filme merecia um realizador diferente, como Nicolas Winding Refn, Rian Johnson, Denis Villeneuve ou David Fincher, para ser potenciado) e Jake Gyllenhaal aguenta o filme por si só. Gyllenhaal, pouco elogiado pelo seu Donnie Darko quando tinha 21 anos, tem em Louis Bloom o seu 2.º melhor papel. Até aqui, em filmes como Zodiac, Prisoners, End of Watch, Máquina Zero ou Brokeback Mountain, pareceu sempre faltar algo, o papel certo. Este Louis Bloom, que deixa Gyllenhaal pelo menos na tômbola de nomes a considerar para o óscar de melhor actor, é manipulador, impiedoso, muito ambicioso e focado, calculista. Criminoso, na sua própria maneira de ser. O mérito de Gyllenhaal estende-se em várias coisas: no olhar dilatado de Bloom, na sua cena ao espelho, e na forma como conduz vários diálogos em que introduz os conhecimentos que vai obtendo. Parece não ter sentimentos e ter apenas objectivos, e o desempenho de Gyllenhaal prima também na forma subtil como influencia e ameaça - a relação com Rick (o desconhecido Riz Ahmed) funciona bem no grande ecrã, mas a estranha e promiscua relação com Nina soa estranha.

     Sumariamente, críticas e elogios para Dan Gilroy. Só elogios para Jake Gyllenhaal. O primeiro teve o brutal mérito de criar 'Nightcrawler' mas a guitarra que concebeu merecia outros dedos para ser tocada. Fica, aliás, a ideia de que falta uma corda, aquela capaz de fazer o filme emitir o som perfeito e ecoar na eternidade. Já Gyllenhaal, até poderá não constar nos 5 nomeados finais para óscar de melhor actor (quer pela Academia, quer aqui no Barba Por Fazer) mas pelo menos nos 10 mais prováveis estará garantidamente.

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