Os óscares vão-se aproximando e aqui no Barba Por Fazer vamos continuando a dar cheirinhos dos filmes que serão nomeados para alguma categoria. Há filmes que já imaginemos que serão nomeados (Lincoln, Zero Dark Thirty, Silver Linings Playbook, entre outros) mas que naturalmente ainda não podemos fazer as apreciações e crónicas porque ainda não temos acesso a vê-los.
Para já, directamente para o nosso leitor lá vai um grande papel de Denzel Washington – Flight -, que lhe valerá a nomeação para Melhor Actor Principal, e um filme de contrastes, que dividirá opiniões e que talvez reúna uma ou duas nomeações no máximo – Beasts of the Southern Wild – também com boas prestações de dois rostos desconhecidos, um deles uma rapariga de 9 anos.
Flight
Realizador: Robert Zemeckis
Argumento: John Gatins
Elenco: Denzel Washington, Don Cheadle, Kelly Reilly, John Goodman
Classificação IMDb: 7.5
O senhor Denzel Washington é um daqueles actores de Hollywood que todos achamos inconfundivelmente um grande actor, sempre com personagens que defendem a sua família e que se regem por valores muito coerentes, mas que quando paramos para pensar percebemos que não teve até agora uma carreira que espelhe assim tanto (do ponto de vista do reconhecimento e prémios) o real valor que tem. Pois bem, a Academia terá este ano uma boa oportunidade de repensar a história.
Em Flight, Washington é Whip Whitaker, piloto de aviões, mas que passa mais tempo nas nuvens graças ao álcool que não consegue largar. Após uma noite de sexo, drogas e álcool com uma hospedeira, Washington assume funções num voo que resultará numa vertiginosa queda e aterragem forçada. De herói anunciado (por conseguir salvar 96 dos 102 tripulantes), o capitão Whitaker passa a vilão quando surgem suspeitas de que teria estado alcoolizado e drogado aquando do voo. O filme, embora sempre à volta do caso da queda, onde o real problema foi técnico e durante a qual o alcoolizado e drogado Whitaker conseguiu demonstrar sangue frio para controlar a situação com enorme clarividência, explora sobretudo a mente dum alcoólico que não assume o seu vício. Mais do que a trama central da história, o filme é sim a evolução e o acompanhamento de um alcoólico que o nega ser.
Robert Zemeckis consegue juntar mais um bom filme à sua lista (onde Forrest Gump é o maior destaque) e, embora não seja expectável que o filme seja nomeado para vários óscares, Denzel Washington será certamente distinguido com a nomeação para melhor actor principal. Flight pode aspirar ainda à nomeação para Melhor Argumento Original, mas é claramente “filme de actor” – Washington faz um papel que em qualquer ano normal mereceria e merecerá a nomeação. Veremos depois como se safa com a concorrência de, provavelmente, Daniel Day-Lewis, John Hawkes, Joaquin Phoenix e Bradley Cooper ou Hugh Jackman.
Já agora um pormenor. O gordinho John Goodman apareceu ultimamente em The Artist, este ano aparece em Argo e Flight… Portanto começa-se a notar um padrão. O Fred Flinstone escolhe a dedo. Bom argumento de John Gatins (co-argumentista, por exemplo, em Coach Carter), mas mais uma vez reforço que o filme vale pelo papel de Denzel Washington.
Beasts of the Southern Wild
Realizador: Benh Zeitlin
Argumento: Lucy Alibar, Benh Zeitlin,
Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry
Classificação IMDb: 7.6
No ano passado, na antevisão dos filmes para óscares (e filmes acessórios, muitas vezes melhores) adormeci por 2 vezes a tentar ver o filme em que o Tom Hanks era pai duma criança que tinha uma chave – Extremely Loud and Incredibly Close. Sempre gostei de resumir filmes numa frase. Pois bem, este ano adormeci 2 vezes e só à 3ª consegui ver “Beasts of the Southern Wild”. Filmes, o problema não são vocês. Sou eu. Eu começo a ler o nome do filme e adormeço a meio. Portanto, neste filme de Benh Zeitlin, mostram-se contrastes.
A pequena Hushpuppy (não, ela não é uma PowerPuff Girl) vive com o seu pai na Banheira, uma comunidade separada dos EUA por um dique. Estão neste momento a ver porque é que eu adormeci…
O filme não é mau, mas também não é óptimo. Explora bem o contraste e o isolamento de certas comunidades, e como as crianças crescem descontextualizadas e com um universo imaginário muito próprio, mas tinha potencial para mais. Mas aí já me caberia falar com a senhora Lucy Alibar, autora do livro que inspirou o filme. Uma senhora que é uma fusão do Ali Babá com o elefante Babar. Embora pareça difícil face às últimas frases, eu vou agora defender o filme – Beasts of the Southern Wild não é um filme de óscar, mas dependendo do número de Filmes nomeados para Melhor Filme, na volta ainda pode ambicionar algo.
Mais fácil será conseguir a nomeação supostamente para Melhor Argumento Adaptado. Pessoalmente, acho que dava para mais. Há pormenores bons no filme, e embora não deslumbre, a relação pai-filha entre os actores Dwight Henry e a pequena Quvenzhané Wallis é merecedora de claro destaque. A actriz de 9 anos ainda pode sonhar com uma nomeação, que não seria disparatada. Já Dwight Henry, que talvez para mim (dependendo do que ainda vier a ver, logo saberei com certezas) pudesse ser nomeado para Melhor Actor Secundário, não o deverá ser.
Filme curioso, nada mainstream pelo menos, que pode facilmente agradar a uns e não a outros, mas no qual se deve enaltecer os papéis de Dwight Henry e a pequena Hushpuppy. MP