13 de janeiro de 2020

As Melhores Novas Séries de 2019

Vimos as melhores personagens introduzidas em séries ao longo de 2019, e continuaremos no campo das novidades com as Melhores Novas Séries do último ano.

    Num ano particularmente forte, com algumas das melhores mini-séries (tendência que acreditamos está para ficar) do passado recente, não pudemos, como ninguém pode, ver tudo.
Não encontrámos o mood certo para ver Too Old to Die Young, e suspeitamos que teríamos gostado de PEN15 e David Makes Man. À porta desta lista de 20 novas séries ficaram coisas como Russian Doll, On Becoming a God in Central Florida, Back to Life, Wayne ou Tuca & Bertie.

    Há um ano atrás destacámos My Brilliant Friend, Sara, Maniac, Barry, Succession, Killing Eve ou The Haunting of Hill House. Desta vez entregamos a novas séries HBO 3 dos 4 primeiros lugares, numa colecção que promove as estreias dos novatos Disney+ e AppleTV+.
    Sem mais demoras seguimos para a justificação das nossas 20 novas séries escolhidas:


1. Watchmen (HBO)
Criado por: Damon Lindelof
Elenco: Regina King, Jeremy Irons, Tim Blake Nelson, Jean Smart, Yahya Abdul-Mateen II
IMDb: 8.0 | Rotten Tomatoes: 96% | Metascore: 85

    A melhor nova série de 2019 para o Barba Por Fazer. É extraordinário como a série da HBO conseguiu captar muito melhor as sensações, a essência e a alma da banda dsenhada de Alan Moore do que o filme de 2009, mesmo sendo o filme de Zack Snyder uma reprodução quase religiosa das inigualáveis vinhetas e pranchas. Mas o fenómeno não é assim tão estranho tratando-se de uma adaptação de Damon Lindelof e de uma espécie de irmão espiritual da sua série anterior, The Leftovers.
    Entre tantas coisas, impressionou-nos em Watchmen o difícil casamento entre o respeito pelo material original e a coragem/ loucura de fazer algo (muito) diferente, construindo uma identidade própria. O risco de apresentar praticamente duas séries lado a lado (o plot principal e o subplot de Jeremy Irons a fazer coisas) é recompensando e de que maneira com episódios como "A God Walks into Abar" e "This Extraordinary Being".
    Incrível reflexão sobre raça e a nossa sociedade, Watchmen é jazz composto com todas as cores disponíveis na pauta e é o tempo a ser todo o tempo ao mesmo tempo. E sim, a banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross ajudou.

2. Chernobyl (HBO, Sky Atlantic)
Criado por: Craig Mazin
Elenco: Jared Harris, Stellan Skarsgard, Emma Watson, Paul Ritter, Jessie Buckley
IMDb: 9.5 | Rotten Tomatoes: 96% | Metascore: 82

    O histórico monumento televisivo que a HBO nos deu este ano está longe de ser a melhor série de sempre, mas é uma mini-série perfeita. Escrita pelo improvável Craig Mazin e realizada pelo sueco Johan Renck, Chernobyl tem tudo para amadurecer com a classe e distinção de Band of Brothers.
    A receita imaculada cozinhou-se em 5 episódios, equiparando-se a excelência do elenco aos restantes vectores. Chernobyl foi terror sonoro e a melhor aula de Química das nossas vidas, foi a tensão de 90 segundos para retirar grafite de um terraço, a ansiedade medida em contadores Geiger e, acima de tudo, uma lição de como lidar com exposição e que perspectiva escolher para estabelecer a máxima empatia com o espectador, sem nunca perder a escala da tragédia.

3. When They See Us (Netflix)
Criado por: Ava DuVernay
Elenco: Jharrel Jerome, Asante Blackk, Caleel Harris, Jovan Adepo, Freddy Miyares, Chris Chalk, Niecy Nash, Michael K. Williams, Vera Farmiga, Felicity Huffman
IMDb: 9.0 | Rotten Tomatoes: 96% | Metascore: 86

    Há grandes filmes e séries que só queremos ver uma vez. When They See Us, a série certa no momento certo sobre um conjunto de rapazes, hoje homens, no local errado à hora errada, é um desses casos. Num ano bastante forte nas mini-séries, a obra de Ava DuVernay revelou-se um bingewatch intenso e custoso, deixando o espectador esgotado emocionalmente, impotente e angustiado. Qual murro no estômago e conto urbano que todos desejaríamos ser ficção quando foi realidade, a mini-série de 4 episódios pode ser vista como uma reflexão sobre justiça, medo e abuso de poder, como terapia de choque e formação cívica.
    Estamos gratos por "Part Four", 1 hora e meia do melhor que se fez este ano em televisão, e jamais nos sairá da memória o portentoso e emocionante retrato de sofrimento e esperança, bondade e dor de Jharrel Jerome como Korey Wise.

4. Euphoria (HBO)
Criado por: Sam Levinson
Elenco: Zendaya, Hunter Schafer, Jacob Elordi, Alexa Demie, Barbie Ferreira, Sydney Sweeney, Angus Cloud, Maude Apatow
IMDb: 8.4 | Rotten Tomatoes: 82% | Metascore: 68

    Polémica e ousada, a série da HBO sobre adolescentes embora não necessariamente para eles aqueceu o Verão. Com Zendaya (deixou-nos sem palavras) a surpreender, Euphoria revelou-se uma droga e uma espiral estonteante e tecnicamente ambiciosa (só Mr. Robot superou a série de Sam Levinson nos movimentos de câmara) sobre a Geração Z, com personagens egoístas e hedonistas, num trajecto de autodescoberta e constante ansiedade.
    Mais uma prova de como a HBO não sente medo da diferença, vivendo sim apaixonada por ela, é uma fotografia de uma geração que consegue ser simultaneamente sinónimo de liberdade e claustrofobia. Cada plano com Hunter Schafer é um quadro, e se pensarmos em Jules, Rue, Fezco, Nate, Cassie, Maddy, Kat e Lexi percebemos que Euphoria é fonte de algumas das melhores novas personagens do ano.

5. What We Do in the Shadows (FX)
Criado por: Jemaine Clement
Elenco: Kayvan Novak, Matt Berry, Natasia Demetriou, Harvey Guillén, Mark Proksch
IMDb: 8.4 | Rotten Tomatoes: 94% | Metascore: 80

    What We Do in the Shadows é a nova comédia do ano. Aliás, avaliando em exclusivo a capacidade de fazer rir, a adaptação do filme de Jemaine Clement e Taika Waititi até se revelou mais eficaz que comédias mais completas como Fleabag, Barry e Catastrophe.
    Um concílio de vampiros famosos e uma noitada de um vampiro ancestral tornaram-se os pontos altos de uma aposta do FX que promete deixar-nos a rir alto e a sorrir com cara de parvos durante as próximas temporadas.

6. Sul (RTP 1)
Criado por: Edgar Medina, Guilherme Mendonça e Rui Cardoso Martins
Elenco: Adriano Luz, Jani Zhao, Afonso Pimentel, Margarida Vila-Nova, Ivo Canelas
IMDb: 8.1

    Há um ano atrás tivemos uma série portuguesa (Sara) em 2.º lugar; na edição de 2019 Sul é a produção nacional em melhor posição. Produzida pela Arquipélago Filmes, a criação de Edgar Medina, Guilherme Mendonça e Rui Cardoso Martins é um policial de respeito e uma sensível homenagem à cidade de Lisboa, que se sente como personagem através da banda sonora dos Dead Combo.
    Desde o genérico à progressiva interligação das personagens, tudo em Sul é coeso, pensado e executado com a inteligência e dedicação de quem (Ivo M. Ferreira e todos os envolvidos) sabe que nenhuma cena deve ser desperdiçada e que todas devem ter algo para dizer. 

7. Undone (Amazon)
Criado por: Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg
Elenco: Rosa Salazar, Bob Odenkirk, Daveed Diggs, Angelique Cabral, Constance Marie
IMDb: 8.3 | Rotten Tomatoes: 100% | Metascore: 86

    Raphael Bob-Waksberg, o criador da melhor série de animação desta década, BoJack Horseman, mudou-se para a Amazon com uma das suas colaboradoras habituais (Kate Purdy) e juntos desenharam um rotoscópio fantástico a quebrar regras, estonteante a vasculhar o ontem e a desdobrar todos os seus pontos de interrogação. Depois de Alita e Undone, Rosa Salazar já é mais corpo animado que corpo de carne e osso.

8. State of the Union (SundanceTV)
Criado por: Nick Hornby
Elenco: Rosamund Pike, Chris O'Dowd
IMDb: 7.9 | Rotten Tomatoes: 96% | Metascore: 81

    Durante 10 episódios, a série acompanha os cerca de 10 minutos de Louise (Rosamund Pike) e Tom (Chris O'Dowd) no bar onde fazem tempo antes de entrarem em mais uma sessão de terapia de casais. Alguns dos pedaços de melhor diálogo do ano estão aqui.

9. The Virtues (Channel 4)
Criado por: Shane Meadows
Elenco: Stephen Graham, Helen Behan, Niamh Algar, Mark O'Halloran
IMDb: 8.3 | Rotten Tomatoes: 100% | Metascore: --

    A mini-série britânica - das séries estrangeiras presentes nesta lista, provavelmente a que foi vista por menor audiência - marcou o reencontro de Shane Meadows e Stephen Graham. É um sôfrego e emocionante mergulho num passado recalcado e não é exagero colocar Graham no pódio de performances masculinas este ano na TV junto de Rami Malek e Jharrel Jerome. 

10. Love, Death & Robots (Netflix)
Criado por: Tim Miller
Elenco: Henry Douthwaite, Madeleine Knight, Samira Wiley, Kevin Michael Richardson
IMDb: 8.6 | Rotten Tomatoes: 79% | Metascore: 65

    O compêndio cool de animação NSFW é uma aposta ganha da Netflix e promete ser uma das antologias de sucesso dos próximos anos, e recorrente série candidata a conter alguns dos episódios do ano. Love, Death & Robots é um orgasmo visual e criativo, que experimentou vários estilos e géneros, flutuando no tom e sendo ora madura ora infantil, ora trágica ora cómica, ora profunda ora superficial. Mesmo tendo privilegiado quantidade e estética sobre qualidade e substância, e com um gore, violência e sexualidade por vezes gratuitos, a colectânea de contos futuristas e digitais tem um potencial tremendo. "Zima Blue" é uma obra-prima.

11. Ramy (Hulu)
Criado por: Ramy Youssef
Elenco: Ramy Youssef, Hiam Abbass, Amr Waked, May Calamawy
IMDb: 8.0 | Rotten Tomatoes: 97% | Metascore: 87

    Aquilo que Ramy é, também Master of None ou Louie já foram. Mas se o conceito não é novo, a voz do protagonista é - Ramy Youssef oferece-nos a perspectiva de um muçulmano americano. A série do Hulu é sobretudo uma reflexão sobre fé e identidade, e tem em "Strawberries", um flashback para a infância de Ramy durante o 11 de Setembro, um dos episódios do ano. Contem connosco para as próximas temporadas.

12. Unbelievable (Netflix)
Criado por: Susannah Grant, Michael Gabon e Ayelet Waldman
Elenco: Kaitlyn Dever, Toni Collette, Merritt Wever, Eric Lange, Danielle Macdonald
IMDb: 8.5 | Rotten Tomatoes: 97% | Metascore: 83

    Uma das mini-séries do ano, Unbelievable são duas séries numa só. A asfixiante vida de Marie (excelente ano de Kaitlyn Dever, juntando a isto Booksmart) depois de ser acusada de mentir sobre ter sido violada, e a paralela colaboração de duas detectives - Toni Collette e Merritt Wever - para investigar o que ganha forma como um potencial caso de violações em série. Distinguiu-se pela calma a introduzir as personagens principais e por não ser uma obra com descobertas Sherlock. Unbelievable é investigação à séria, com deduções alcançadas através do tempo perdido e trabalho incessante.

13. Frágil (RTP Play)
Criado por: Filipa Amaro
Elenco: Catarina Secca Cruz, Rita Rocha Silva, Matilde Jalles
IMDb: 7.7

    Um dos tesourinhos por descobrir desta lista para muitos, Frágil é uma pequena produção portuguesa que tinha qualidade de sobra para ter a sua transmissão semanal na RTP1, mas acabou apenas disponível na plataforma RTP Play. Na mesma casa, uma actriz sem trabalho, uma pintora (Rita Rocha Silva promete!) num bloqueio criativo e uma prima afastada acolhida para as rendas ficarem em dia e o senhorio não chatear. Filipa Amaro capta com tremenda naturalidade a intimidade entre amigas e as dúvidas existenciais de uma geração. Elas não sabem bem para onde vão, mas sabem que vão juntas. Patrocinaríamos uma segunda temporada.

14. Sex Education (Netflix)
Criado por: Laurie Nunn
Elenco: Asa Butterfield, Gillian Anderson, Ncuti Gatwa, Emma Mackey, Connor Swindells
IMDb: 8.3 | Rotten Tomatoes: 91% | Metascore: 79

    No começo de 2019, Sex Education tornou-se a série da Netflix que toda a gente andava a ver. Facílima de devorar, a comédia equilibrada e juvenil de Laurie Nunn ofereceu-nos tudo o que é preciso: boas personagens, momentos memoráveis e Gillian Anderson. Nunca antes "This is my vagina" tinha sido dito tantas vezes seguidas.

15. Fosse/Verdon (FX)
Criado por: Thomas Kail e Steven Levenson
Elenco: Michelle Williams, Sam Rockwell, Margaret Qualley, Norbert Leo Butz, Aya Cash
IMDb: 7.9 | Rotten Tomatoes: 81% | Metascore: 68

    Não nos viciou como muitas das séries aqui presentes, mas Fosse/Verdon é um daqueles casos de absoluta elite televisiva. A fotografia da relação de Gwen Verdon (Michelle Williams) e Bob Fosse (Sam Rockwell) representou provavelmente o melhor papel da carreira da actriz.

16. Years and Years (BBC One)
Criado por: Russell T Davies
Elenco: Rory Kinnear, Jessica Hynes, Anne Reid, Russell Tovey, Ruth Madeley, Emma Thompson
IMDb: 8.4 | Rotten Tomatoes: 89% | Metascore: 78

    Num Reino Unido e mundo ainda pré-Brexit, nada como assistir a um Reino Unido pós-Brexit. Years and Years (não confundir com a banda de Olly Alexander) é um aviso e - oxalá que não - uma perturbadora previsão ou antecipação. O galês Russell T Davies deixou-nos acompanhar a família Lyons ao longo de 6 episódios, mesclando os vectores político, económico e tecnológico sem nunca se esquecer da simplicidade dos laços familiares como prioridade narrativa.

17. O Resto da Tua Vida (Youtube)
Criado por: Carlos Coutinho Vilhena e João André
Elenco: João André, Carlos Coutinho Vilhena
IMDb: 8.8

    Fenómeno de sucesso no Youtube nacional, O Resto da Tua Vida foi uma "brincadeira" a que começámos a assistir com curiosidade, acabando rendidos após aquele solo de bateria final. Carlos Coutinho Vilhena fez o que quis da imprensa nacional numa obra pertinente, audaz na desconstrução do seu objecto de estudo (a metacomunicação bebe muito do que Bruno Nogueira tem criado como autor) e capaz de reinventar João André. O Kiko dos Morangos é passado.

18. The Morning Show (Apple TV+)
Criado por: Jay Carson e Kerry Ehrin
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Whiterspoon, Steve Carell, Billy Crudup, Mark Duplass, Gugu Mbatha-Raw, Bel Powley
IMDb: 8.4 | Rotten Tomatoes: 63% | Metascore: 61

    Das 20 novas séries que escolhemos, The Morning Show foi a última a estrear. As séries Apple ficaram prontamente rotuladas como flops, mas esta bandeira do movimento #MeToo é mais oportuna do que oportunista. Todo o super-elenco brilha, a tensão na season finale é impressionante, e nos seus melhores momentos, The Morning Show conseguiu recriar o que The Newsroom, de Aaron Sorkin, tão bem conseguiu há uns anos atrás: apresentar o conflito entre valor-notícia (o que interessa) e valor-audiência (o que vende) e as dinâmicas, egos e problemáticas dos bastidores de um local de trabalho.

19. The Mandalorian (Disney+)
Criado por: Jon Favreau
Elenco: Pedro Pascal, Carl Weathers, Werner Herzog, Gina Carano, Nick Nolte, Giancarlo Esposito
IMDb: 8.8 | Rotten Tomatoes: 94% | Metascore: 69

    Escolhido como porta-estandarte do novo player no mercado (Disney+), The Mandalorian está bastante longe de ser a nova série do ano, mas é sem dúvida um produto Star Wars superior às prequelas (I, II e III) e à nova trilogia (VII, VIII e IX).
    Jon Favreau sabe deixar a sua marca, e neste caso não fez a coisa por menos ao oferecer aos fãs o Baby Yoda. Mais importante que isso, a jornada de Mando/ Din Djarin convenceu-nos pelo ritmo que decidiu assumir (uma espécie de western numa galáxia muito, muito distante) e pelos efeitos práticos. Ninguém esperava quando The Mandalorian foi anunciado que esta se tornasse a história de um babysitter.

20. The Act (Hulu)
Criado por: Nick Antosca e Michelle Dean
Elenco: Joey King, Patricia Arquette, Chloë Sevigny, AnnaSophia Robb, Calum Worthy
IMDb: 8.0 | Rotten Tomatoes: 89% | Metascore: 73

    Surgiu em 2017 Mommy Dead and Dearest, um documentário sobre Gipsy Rose e a sua mãe, Dee Dee. Dois anos mais tarde, o Hulu recontou a história da tóxica e invulgar relação mãe-filha com duas performances extraordinárias das protagonistas. Patricia Arquette começa a tornar-se um habitué nas metamorfoses em mini-séries, mas os maiores elogios têm mesmo que ir para Joey King (20 anos) num daqueles papéis que tem que ter aberto muitas portas e atraído muitas atenções.

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