Os verdadeiros nomeados foram conhecidos a 12 de Julho, com American Crime Story (9 nomeações), Atlanta e The Handmaid's Tale (ambas com 8) a destacarem-se da concorrência. Já nós revelámos os nossos nomeados, numa cerimónia digital idêntica à que já tínhamos feito o ano passado - à imagem do que fazemos desde há muito para os Óscares -, a 3 de Agosto. Connosco, a nível de nomeações partiam em vantagem Mr. Robot e The Handmaid's Tale no drama, com 7 nomeações, Atlanta em claro destaque na vertente comédia (11 nomeações), assumindo a segunda temporada da mini-série American Crime Story o primeiro posto do pelotão das mini-séries com 10 nomeações.
Há um ano atrás procurámos fazer justiça, na medida do possível, em relação a Michael McKean (Better Call Saul) ou Carrie Coon (The Leftovers), duas interpretações monumentais ignoradas pelos Emmys. Há um ano, Better Call Saul, Master of None, The Night Of e Big Little Lies foram os conteúdos aos quais demos maior destaque, num ano de despedida para séries subvalorizadas como The Leftovers e Rectify.
Respeitando o período considerado, que impede que surjam aqui séries como Sharp Objects ou Bodyguard, destacamos agora aqueles que foram para nós os melhores do ano nas várias categorias, sem esquecer a realização e escrita dos melhores episódios nas 3 vertentes consideradas. No final de 2018 voltaremos a eleger, em jeito de balanço e tendo por base o ano civil, as melhores séries do ano, as melhores novas séries, os melhores episódios e as melhores novas personagens. Para já, os nossos Emmys Barba Por Fazer 2018.
Melhor Série Drama
Mr. Robot
de Sam Esmail
Porquê: A consciencialização do erro, o arrependimento de uma revolução ingénua. Depois de uma segunda temporada que afastou parte do público da série, a terceira etapa do triângulo fsociety, Dark Army e E-Corp elevou Mr. Robot a lenda urbana.
Nenhuma série apresentou no último ano tamanha regularidade (destaque para os episódios _kill-pr0cess-inc, shutdown -r e _runtime-err0r.r00, simplesmente geniais), num perfeito equilíbrio entre ficção e realidade. Sem nunca retirar o pé do acelerador, Sam Esmail mostrou poder sentar-se na mesma mesa que Vince Gilligan e David Simon, e voltou a desafiar e respeitar a audiência, como mais nenhuma série da actualidade consegue fazer.
A épica terceira temporada - que agora sabemos ter sido a penúltima - deu uma masterclass em termos de ritmo, atingiu a perfeição ao dividir o ecrã a preto e vermelho com Elliot e Angela a recordarem o passado separados por uma porta, transmitindo uma ideia de recomeço. De paz interior alcançada entre Elliot e Mr. Robot, desmascarado o 1% do 1%, e proporcionando catarse num simples premir de uma tecla.
Vencedor BPF 2017: Better Call Saul
Porquê: Há um ano atrás a categoria estava mais forte. Demos o nosso Emmy a Aden Young (quase chocante como Rectify foi tão ignorado), mas nos nomeados constavam por exemplo Bob Odenkirk, Tom Hardy e Justin Theroux.
A mais fraca concorrência não retira mérito a mais uma temporada especial para Rami Malek. O seu Elliot Alderson, que agora sabemos só nos acompanhará durante mais uma temporada (quarta e última), é "vítima" de uma série em que o conceito, a escrita e realização de Sam Esmail lhe roubam algum protagonismo.
Mas na locomotiva de adrenalina, acção, nostalgia e imprevisibilidade que foi a 3ª temporada de Mr. Robot, Rami Malek manteve-se o nosso ponto de contacto, a nossa ligação privilegiada ao mundo da série. Malek, que venceu o Emmy em 2016 mas nem foi nomeado para esta edição, conseguiu que o seu Elliot, de capucho colocado e mãos nos bolsos, perdido em si próprio, se vá tornando uma das vozes inspiradoras desta geração e um dos heróis do século XXI.
Porquê: Durante bastante tempo pensámos que esta categoria estaria entregue a Maggie Gyllenhaal, com o melhor trabalho da sua carreira em The Deuce da HBO. No ano em que Tatiana Maslany se despediu de Sarah, Alison, Cosima e Helena, e no qual Claire Foy passou a coroa a Olivia Colman, Gyllenhaal mergulhou num papel exigente e desafiante.
Porém, não foi superior a Elisabeth Moss. Na temporada de estreia de The Handmaid's Tale ficámo-nos apenas pela nomeação para Moss, consequência da arrasadora performance de Carrie Coon na temporada final de The Leftovers, mas desta vez o mais justo é dar à actriz de 36 anos o lugar ao Sol que merece. Como June Osborne ou Offred, Moss brilhou mais do que qualquer outra actriz principal, passando o sofrimento e a angústia, numa das séries mais pesadas do ano.
Capaz inclusive de carregar episódios quase sozinha ("Holly"), recordar a interpretação de Elisabeth Moss na 2ª temporada de The Handmaid's Tale é recordar uma força da natureza.
Vencedora BPF 2017: Carrie Coon (The Leftovers)
Melhor Actor Secundário - Série Drama
Porquê: Muito provavelmente a revelação do ano. No intenso jogo de pingue-pongue entre detectives e serial killers de David Fincher, Cameron Britton teve pouco tempo de ecrã, mas usou o que teve para se tornar o supremo destaque da série da Netflix.
Com o seu 1,96m, o desconhecido actor encarnou Ed Kemper, tornando-se por exemplo a nossa melhor nova personagem de 2017. Verdadeiro íman de atenções, com a sua calma hipnotizante, vocabulário cuidado e instantânea transição entre sereno e aterrador, Cameron Britton merece o reconhecimento do sector.
A Academia nomeou-o como melhor actor convidado numa série dramática, categoria da qual Ron Cephas Jones (This Is Us) saiu vencedor. Para nós, é secundário, e o melhor de todos os secundários.
Vencedor BPF 2017: Michael McKean (Better Call Saul)
Porquê: Hoje podemos afirmar que o casting de Yvonne Strahovski para o papel de Serena Joy em The Handmaid's Tale foi uma decisão de génio, visionária.
Foi dado à bela e elegante actriz australiana o desafio certo no momento certo da carreira. Se formos realistas, jamais quando a víamos ocasionalmente em Chuck pensámos que poderia atingir um nível destes!
Numa série carregada de desempenhos incríveis, Yvonne Strahovski consegue a proeza de estar, pelo menos, ao nível de Elisabeth Moss. E não seremos oposição a quem entender que é ela o principal destaque da segunda temporada. Também por isso nas categorias de Drama, e uma vez que foi nomeada como merecia, será o Emmy pelo qual estaremos a torcer com mais força. Capaz de nos fazer flutuar entre desenvolver empatia pela sua personagem, e repudiá-la momentos depois, tem no episódio "Women's Work" o seu expoente máximo.
Vencedora BPF 2017: Aubrey Plaza (Legion)
Porquê: Num ano muitíssimo forte na comédia (The End of the F***ing World, GLOW, Barry e The Marvelous Mrs. Maisel foram superiores a muitos dos dramas mais cotados do ano), Atlanta torna-se o legítimo sucessor de Master of None aqui no Barba Por Fazer.
Embora muitas vezes a segunda temporada represente o defraudar de expectativas, por dores de crescimento que surjem da incapacidade de ampliar o conceito ou pela invisível perda do encantamento inicial, Atlanta contrariou a tendência e elevou (e bem) a fasquia.
Da fantástica mente de Donald Glover, e com Hiro Murai a afirmar-se como um dos melhores realizadores do actual panorama televisivo, a Robbin' Season ousou, subverteu géneros, e procurou sempre colocar no ecrã algo nunca antes visto, com a honestidade e criatividade que caracterizam um visionário como Glover. "Teddy Perkins" é de longe o alvo a abater na corrida ao título de melhor episódio de 2018.
Vencedor BPF 2017: Master of None
Porquê: Aos 40 anos, o melhor trabalho da carreira de Bill Hader. A dramédia da HBO rodeou aquele que é um dos rostos mais marcantes da História recente do SNL de desempenhos tradicionalmente cómicos (Henry Winkler, Anthony Carrigan, Stephen Root ou Glenn Fleshler), demonstrando depois Hader uma brutal amplitude como actor.
Numa categoria dificílima de decidir face à presença simultânea e Bill Hader e Donald Glover (acreditamos que na realidade o Emmy seja entregue a um deles, e ficaremos satisfeitos com qualquer um dos desfechos), o penúltimo episódio "Chapter Seven: Loud, Fast, and Keep Going" serve de desempate, e de exemplo perfeito do tom de Barry e da panela de pressão emocional desenhada numa série que infelizmente até agora passou ao lado para uma significativa fatia do grande público.
Vencedor BPF 2017: Donald Glover (Atlanta)
Porquê: Há um ano entregámos o nosso Emmy a Alison Brie, e não seria descabido voltar a fazê-lo, mas Rachel Brosnahan foi a actriz do ano na comédia.
Muitíssimo distante da personagem asfixiada e em fuga constante com que ganhou notoriedade em House of Cards, Brosnahan foi uma das principais surpresas deste ano.
Numa pertinente viagem aos anos 50, que serve de porta-estandarte para o papel das mulheres hoje, Rachel Brosnahan brilhou como Midge, a alma do projecto de Amy Sherman-Palladino. Confiante, carismática e eléctrica, uma dona de casa que vira comediante de stand-up, uma voz que merece o seu palco.
Vencedora BPF 2017: Alison Brie (GLOW)
Porquê: Entre todas as categorias, Brian Tyree Henry é o único actor ao qual entregamos o emmy por duas vezes consecutivas.
Depois de ter sido uma das revelações televisivas na temporada de estreia de Atlanta, Paper Boi mostrou que tinha ainda mais para dar, não sendo por isso minimamente surpreendente que tenha entrado entretanto em filmes de Barry Jenkins e Steve McQueen.
Numa série que praticamente só tem quatro personagens - Earn, Paper Boi, Darius e Van -, a câmara e os guiões exigem muitíssimo de Donald Glover, Tyree Henry, Lakeith Stanfield e Zazie Beetz. A honestidade que Glover e Brian Tyree Henry colocam em cada cena, como actores (no sentido mais completo) e não apenas como actores de comédia, é surreal. "Woods" e "Barbershop" foram os principais cartões de visita para garantir a Alfred 'Paper Boi' Miles o 2º emmy consecutivo connosco.
Vencedor BPF 2017: Brian Tyree Henry (Atlanta)
Melhor Actriz Secundária - Série Comédia
Porquê: Quando corre bem, a meta-comunicação de ver uma actriz a interpretar uma actriz costuma dar pontos extra. Lembramo-nos recentemente de Emma Stone em La La Land ou Mackenzie Davis no pouco falado Always Shine.
Em Barry, Sarah Goldberg foi uma agradável surpresa, enchendo de luz as cenas cinzentas, contidas e propositadamente ásperas de Bill Hader.
Se há um ano nos apaixonámos pela femme fatale Alessandra Mastronardi em Master of None, desta vez coube à novata Sarah Goldberg conquistar-nos com uma interpretação que lhe permitiu navegar entre diferentes estados de alma. Foi o suporte perfeito para Bill Hader, com a curiosidade de, em sentido inverso, ter sido Barry (Hader) o suporte de Sally (Goldberg) no clube de teatro e improvisação.
Porquê: Honestamente há um ano atrás o nível das mini-séries era superior. The Night Of e Big Little Lies foram superiores a qualquer um dos produtos desta fornada. Curiosamente, Sharp Objects, da HBO com Amy Adams como protagonista e Jean-Marc Vallée como realizador, "limpava" várias categorias este ano, mas mediante a sua data de estreia só pode ser contabilizado na próxima edição.
Gostámos de Godless, American Crime Story baixou o nível em relação ao ensaio sobre O.J. Simpson mas foi em crescendo ao longo da temporada, e Black Mirror teve, como sempre, episódios memoráveis.
No entanto, Patrick Melrose sobressaiu por ser uma obra mais refinada. Com Benedict Cumberbatch num dos seus melhores papéis, e um elenco de excelência com especial destaque para Hugo Weaving e Jennifer Jason Leigh, o drama familiar pintou em apenas cinco episódios uma moldura requintada, plena de excessos, duros silêncios e passados por resolver.
Vencedor BPF 2017: The Night Of
Porquê: É indiscutível que The People v. O.J. Simpson foi bastante superior a The Assassination of Gianni Versace, mas tal como Sarah Paulson e Sterling K. Brown brilharam na primeira vez da antologia criminal, Darren Criss terá aberto muitas portas com um desempenho do outro mundo.
O peso e a responsabilidade sobre os seus ombros eram gigantes. Ao contrário da primeira temporada, a estrutura menos linear, invertida até certo ponto, e a total centralização de Andrew Cunanan na narrativa, entregou a Criss uma oportunidade única, um quase one-man-show.
Do primeiro ao último episódio, a máscara de um sedutor, mentiroso, dissimulado e obcecado com o status foi assumida pelo antigo actor de Glee. Sem margem para dúvidas, um dos desempenhos televisivos do ano, um daqueles trabalhos que ajuda a reescrever uma carreira e que ao fim de dois episódios já tornava fácil a qualquer um antever que Darren Criss estaria, no mínimo, nomeado para um rol de prémios.
Vencedor BPF 2017: Riz Ahmed (The Night Of)
Melhor Actriz - Mini-Série/ Filme TV
O Episódio: "Part I"
Porquê: Mais logo deve ganhar Laura Dern, uma vitória que não nos faz qualquer comichão, mas entre todas as surpresas do último ano (Bill Hader e Rachel Brosnahan, por exemplo), nenhuma se comparou à transformação de Jessica Biel.
A mulher de Justin Timberlake, embora sem nunca se desligar por completo do meio, não tinha há muito os holofotes sobre si, assumindo-se como figura central num projecto de qualidade.
A actriz de 36 anos, produtora executiva de The Sinner, mostrou predicados que muitos talvez até pensassem que ela não tinha de todo, numa personagem cujo olhar nos convenceu ao fim de poucos minutos, e que permitiu a Biel reinventar-se, numa metamorfose que em alguns momentos nos trouxe à memória Jennifer Aniston em Cake ou Sarah Silverman em I Smile Back.
Vencedora BPF 2017: Nicole Kidman (Big Little Lies)
Melhor Actor Secundário - Mini-Série/ Filme TV
Figura paternal execrável e rígida, dono e senhor de todas as cenas em que surgiu, o camaleão Weaving elevou a fasquia da mini-série em termos de tensão, contribuindo para nos períodos em que Patrick Melrose se passa no passado, carregar a bagagem emocional que nos permite empatizar com a personagem de Cumberbatch à posteriori.
Vencedor BPF 2017: Alexander Skarsgård (Big Little Lies)
Melhor Actriz Secundária - Mini-Série/ Filme TV
Porquê: Naquela que será porventura a categoria de interpretação mais fraca das 12 apresentadas, Jennifer Jason Leigh ganha tangencialmente a Merritt Wever.
O peso de Penélope Cruz e Judith Light não chega para nos fazer render perante os seus desempenhos satisfatórios em American Crime Story, e Merritt Wever teve em Godless a melhor personagem das nossas seis nomeadas, mas não o melhor papel.
Actriz multifacetada e que nunca desilude (as suas participações recentes em The Hateful Eight, Anomalisa e Good Time servem para mostrar a versatilidade de Jason Leigh), enfrentou o desafio de envelhecer ao longo de Patrick Melrose, conseguindo por isso contracenar tanto com Benedict Cumberbatch como com Hugo Weaving. A Academia não a nomeou, à semelhança do que fez com Weaving.
Outras nomeadas: Merritt Wever, Elizabeth Debicki, Joanna Adler, Penélope Cruz, Judith Light
Vencedora BPF 2017: Shailene Woodley (Big Little Lies)