24 de dezembro de 2016

Crítica: Hell or High Water

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2017
Realizador: David Mackenzie
Argumento: Taylor Sheridan
Elenco: Chris Pine, Ben Foster, Jeff Bridges, Gil Birmingham, Marin Ireland
Classificação IMDb: 7.7 | Metascore: 88 | RottenTomatoes: 98%
Classificação Barba Por Fazer: 82


    Há filmes que fazem da simplicidade a sua principal arma. É o caso deste western moderno e empático, em que David Mackenzie se aproxima do clássico de 2007, No Country Old Men.
    O realizador escocês - que há 3 anos atrás pegou em Jack O'Connell e Ben Mendelsohn e conseguiu com Starred Up um grande filme (pai e filho numa prisão) - deu vida ao argumento do actor-convertido-em-guionista Taylor Sheridan (Sicario) e o resultado foi um dos melhores filmes de 2016. 'Hell or High Water' tem personagens bem construídas, ligadas de forma genuína e que não precisam de uma longa e detalhada exposição - o segredo estará talvez na ode do anti-herói, os 2 irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) fazem o errado por motivos certos, e à medida que a acção evolui e percebemos o que os faz assaltar bancos, torcer por eles torna-se inevitável.
    Nos primeiros oito minutos de filme, até surgir o working title acompanhado pela excelente banda sonora de Nick Cave e Warren Ellis, os irmãos fora-da-lei não pedem licença a ninguém e 'Hell or High Water' abre logo em modo assalto matinal. Aqui não há máscaras de palhaço e um Joker no fim, há dois maninhos inexperientes, que no final do assalto agradecem a colaboração e pedem desculpa pelo incómodo aos presentes.
    De um lado, Mackenzie e Sheridan colocaram os Howard, do outro dois rangers texanos, Marcus (Jeff Bridges) e o seu companheiro Alberto (Gil Birmingham). E tudo é pautado por equilíbrios e desequilíbrios bem pensados. Toby e Tanner têm um objectivo comum - fazer justiça pelas próprias mãos, pagando a hipoteca do rancho da mãe falecida ao assaltar várias sucursais do Banco que lhes quer retirar a terra. O Toby de Chris Pine, a dar ares de Josh Brolin, é o cérebro e a razão, contraposto com o irmão Tanner, um ex-presidiário imprevisível e imprudente, mas devoto ao plano do irmão, magnificamente interpretado pelo sempre subvalorizado Ben Foster.
    Irónico e pertinente, 'Hell or High Water' é muito mais do que um simples filme do gato e do rato, muito mais do que um western ou heist movie. O que o destaca - soma 3 nomeações nos Globos de Ouro, e há-de acumular um número semelhante para os Óscares - é mesmo a noção de família e a relação dos irmãos, e a inexistência de limites traçados na preservação e procura de garantir o futuro e o património.
    Mackenzie e Sheridan são claramente criativos para acompanhar nos próximos anos de Hollywood, e o trio de actores é muito forte - Chris Pine tem que garantir mais papéis assim, conseguindo com esta personagem "suja" o melhor papel da sua carreira até agora; Jeff Bridges é um íman de carisma e altivez, com linhas de diálogo poderosas e um encontro final com a personagem de Pine que irradia tensão por todos os lados; e Ben Foster é, mesmo depois de tudo isto, o destaque principal do filme. No entanto, é provável que a Academia, a votar só num, escolha só Bridges e não Foster.
    É o tipo de filme que tenderá a envelhecer bem, e desde que a Academia opte por identificar pelo menos 8 candidatos a Melhor Filme, este tem tudo para ser um deles.
     

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