Benfica
0 - 3
Sporting (T. Gutiérrez 9', Slimani 21', Bryan Ruiz 36')O grande jogo da jornada 8 da Liga NOS teve um desfecho inesperado mas taxativo. O Sporting, beneficiando também do empate entre Porto e Braga, tornou-se líder isolado, e derrotou o grande rival pela 2.ª vez esta época, ganhando num estádio no qual não festejava há 9 anos.
O derby pôs a nu falhas recorrentes do Benfica 2015/ 16, já enunciadas anteriormente mas mascaradas entretanto em jogos mais acessíveis, reforçou o ego de Jorge Jesus, com o seu Sporting a comportar-se como uma verdadeira equipa, primando pela organização, pelo controlo do meio-campo e pela eficácia.
Num estádio com 63.054 espectadores, Rui Vitória repetiu o 11 que defrontou o Galatasaray na Champions, com Sílvio a lateral-direito, André Almeida a acompanhar Samaris e Jiménez ao lado de Jonas; já Jorge Jesus escolheu o onze mais adequado e esperado, equilibrando a equipa com João Mário a interior direito. Começou melhor o Benfica, a assumir o jogo e a pressionar, com Jonas a dar o primeiro aviso, pouco antes de Luisão ter sido puxado dentro da grande área leonina. Na resposta, aos 9 minutos de jogo, chegou o golo do Sporting. Luisão complicou, André Almeida perdeu a bola em zona proibida e mortífera, Adrien colocou a bola à mercê de Teo e o colombiano fez o 1-0 com Júlio César a defender contra ele, com o ressalto a encaminhar a bola para o fundo das redes. Depois do banho de água fria para a equipa da casa, Jonas voltou a não acertar na baliza (Rui Patrício pouco teve que fazer hoje) e o Sporting, eficaz, aproveitou para dilatar a vantagem. Jefferson confirmou porque é que é um dos jogadores que melhor cruza em Portugal e, num gesto técnico perfeito, colocou a bola tensa para Slimani desviar de cabeça para o 2-0. Aos 21 minutos tudo corria bem ao Sporting, com 2 golos em duas oportunidades, e o 2.º golo revelou-se um momento decisivo. O Benfica acusou o golo, abalou animicamente e não teve nem arte nem cabeça nem garra para virar o resultado. A 1.ª parte caracterizou-se por uma brutal incapacidade do Benfica em ligar o seu jogo (em finais de Outubro nunca o Benfica teve ainda em campo um 8 a interpretar a posição como o esquema exige), tremendo defensivamente em inúmeras ocasiões. Aos 36' chegou o 3-0 numa pequena demonstração de "como não defender" por parte da defesa do Benfica. Slimani conduziu o contra-ataque num 2 para 2, pôde testar Júlio César (face à incapacidade dos centrais encarnados em assumirem atempadamente cada um o seu jogador), e na recarga Bryan Ruiz (Samaris e, sobretudo, André Almeida ficaram a olhar para o desempenho dos centrais, deixando o costa-riquenho sozinho) colocou o resultado em números impensáveis à partida.
A 2.ª parte teve muito menos história do que a primeira. O Benfica - com Fejsa a entrar, saindo Eliseu e optando Rui Vitória por colocar André Almeida a lateral-esquerdo - apresentou-se incapaz de mudar o rumo dos acontecimentos, parecendo ter um jogador a menos em vários momentos. O meio-campo foi, sempre, do Sporting, mesmo tendo o Benfica mais bola, e a maior cultura táctica dos verde e brancos verificou-se na constante mobilidade e no desbloqueio constante de linhas de passe, dando por aí a ideia de que os jogadores do Benfica chegavam constantemente atrasados na pressão, só por reacção e não em antecipação. No segundo tempo a melhor oportunidade até terá sido de Jefferson, na cara do guarda-redes, com o Benfica a ameaçar num lance em que o mexicano Jiménez ganhou uma bola a Naldo na linha de fundo, sem saber finalizar da melhor maneira. Nos minutos finais, num lance que traduziu o total desnorte e desacerto do Benfica, o capitão Luisão (em sub-rendimento) quase fez um auto-golo num atraso criminoso salvo in extremis por Júlio César.
Explicar este derby não é difícil. O Sporting foi uma equipa (boa resposta em campo às palavras de Rui Vitória na antevisão), teve a sorte do jogo porque a procurou, e foi eficaz a explorar as várias falhas defensivas do rival. A arbitragem de Carlos Xistra foi medíocre, em prejuízo da equipa da casa mas não se podendo explicar por aí o resultado. O árbitro do jogo teve um conjunto de decisões - técnicas e disciplinares - impossíveis de entender (decisões ao contrário, Slimani sem ser expulso), com uma grotesca dualidade de critérios, porventura condicionado pela "campanha" de Bruno de Carvalho.O jogo foi ganho pelo trio William, Adrien, João Mário (MVP, que jogo). Os três jogadores formados em Alvalade foram senhores do meio-campo, sabendo ler o jogo, posicionando-se e movimentando-se com inteligência e qualidade. A defesa (grande jogo de Paulo Oliveira) foi incomparável ao nível apresentado do lado oposto do campo, e na frente os avançados foram eficazes. Um conjunto homogéneo, bem preparado, a que tudo correu bem, mas citando o título de um livro de Ferran Soriano, A Bola não entra por acaso.
Analisando o Benfica, o nível de jogo foi fraco, a defesa medíocre e os Ases (Gaitán e Jonas) não estiveram em dia sim. À 8.ª jornada os encarnados ocupam o oitavo lugar, a 8 pontos do 1.º lugar, embora com 1 jogo a menos (com +3pts o Benfica estaria na última posição do pódio). No entanto, o raio-X que se faz a este Benfica 2015/ 16 mantém-se igual àquele que já fazíamos em Agosto, acrescentando alguns pormenores específicos de hoje:
- Sílvio, Eliseu e André Almeida (a médio) não são jogadores com nível para um Clássico, ou para titulares do Benfica em jogos grandes;
- Gaitán passou a maior parte do tempo deste derby no flanco direito (clara opção e ordem de Rui Vitória), quando tem sido o principal desequilibrador sempre na sua posição de raíz, e tendo o adversário no seu lateral-direito um dos pontos mais permeáveis. Difícil de compreender;
- Gaitán passou a maior parte do tempo deste derby no flanco direito (clara opção e ordem de Rui Vitória), quando tem sido o principal desequilibrador sempre na sua posição de raíz, e tendo o adversário no seu lateral-direito um dos pontos mais permeáveis. Difícil de compreender;
- O 4-4-2 deste Benfica - que ganhou a Atlético Madrid, mas perdeu com Sporting (2x) e Porto - exige um médio capaz de "queimar" linhas (só Renato Sanches tem esse perfil na Luz). O modelo e a ideia de jogo (qual? Bola no Gaitán e logo se vê?) resultavam com Jonas-Lima, mas faz alguma confusão ver o duo Almeida-Samaris a ser dominado por William-Adrien-J.Mário, tendo o Benfica jogadores como Cristante, Renato Sanches, Pizzi (nunca jogou como 3.º médio ou como interior direito, as posições em que de facto rende) e podendo há muito trabalhar alternativas inteligentes para melhor potenciar as características do plantel actual e também de vários elementos que serão lançados a médio-longo prazo;
- Rui Vitória lançou Fejsa, depois Pizzi (tirando Fejsa, diminuído fisicamente) e finalmente Mitroglou. Curioso que com a entrada de Fejsa tenha sido André Almeida o lateral-esquerdo, mantendo-se Sílvio na direita, quando Almeida é o melhor DD depois de Semedo, e Sílvio rende mais na esquerda do que na direita.
