31 de agosto de 2015

Revisão: 'Hannibal' (3.ª Temporada)

Criado por
Bryan Fuller

Elenco
Mads Mikkelsen, Hugh Dancy, Laurence Fishburne, Caroline Dhavernas, Gillian Anderson, Richard Armitage, Rutina Wesley, Joe Anderson

Canal: NBC

Classificação IMDb: 8.6 | Metascore: 84 | RottenTomatoes: 97%
Classificação Barba Por Fazer: 83


- Abaixo podem encontrar Spoilers - 
A História: 
    E acabou. Uma das melhores séries de 2013 para cá conheceu há dias o seu último capítulo, numa finale mais-que-perfeita e que simbolizou tudo o que as 3 temporadas (não houve mais porque a NBC cortou as pernas ao grande plano de Bryan Fuller) tiveram: brilhante desempenho do elenco, um grafismo sangrento e poético como pouco se vê, e a dinâmica Hannibal Lecter/ Will Graham no centro de tudo.
    Depois de uma season finale emocionante na 2.ª temporada, na qual ficaram em suspenso os sinais de vida de Will Graham, Jack Crawford, Alana Bloom e Abigail Hobbs, todos eles voltaram, mas nenhum regressou igual. Alana Bloom transformada (que diferença desta temporada para as duas anteriores), Jack obcecado em capturar Hannibal, e Abigail foi a única vítima mortal, visitando esta temporada apenas como alucinação de Will Graham.
    Pode-se dividir esta season em duas partes distintas, claramente. Há uma primeira metade mais fraca, com Hannibal em Itália, ainda com Mason Verger (Joe Anderson substituiu o actor Michael Pitt) envolvido a história. E uma segunda, que se desenrola do oitavo ao derradeiro episódio, com um nível de excelência e com o antagonista Francis Dolarhyde aka The Great Red Dragon, interpretado de forma surpreendente por Richard Armitage, o Thorin de Peter Jackson.
    Bryan Fuller manteve uma narrativa chamativa, apoiada na mesma direcção artística e qualidade de realização que sempre caracterizou 'Hannibal', mas os primeiros 7 destes 13 episódios são, em parte, morosos. Acontece pouco e a acção evolui devagar, enquanto Hannibal serve as suas refeições sempre com a companhia de Bedelia (Gillian Anderson, mais presente nesta temporada, felizmente), Jack e Will procuram encontrar o canibal preferido do Cinema e da Televisão, e com Alana Bloom a ajudar Mason Verger na procura de vingança. Nessa Parte I, chamemos-lhe assim, o episódio 7 ('Digestivo') é claramente o destaque.
    É possível que muitos espectadores tenham até desistido da série na sua primeira metade, mas o valor apresentado antes, o percurso das personagens e o facto de o fim estar próximo, eram motivos mais do que suficientes para, quase por respeito ao passado de Hannibal e Will, permanecer com fé na história. O episódio 8 é uma metamorfose completa, à semelhança daquela que Francis Dolarhyde opera em si mesmo e, com o Dragão Vermelho à solta e Hannibal detido, tudo se torna espectacular. Os últimos 6 episódios parecem uma mini-série de topo, com o já referido Richard Armitage e a actriz Rutina Wesley a acrescentarem qualidade ao elenco. É impressionante como Dolarhyde é apresentado de um modo tão magnético, sem que a personagem tenha que dizer uma palavra no seu primeiro episódio, e o facto de voltarmos a ter Hannibal e Will frente-a-frente, na tentativa de travar o Dragão Vermelho, serve por si só para elevar a série ao patamar a que nos habituou.
    
A Personagem: Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen) + Will Graham (Hugh Dancy).
    Não tenham dúvidas que a adição de Francis Dolarhyde é o bónus desta temporada. O actor Richard Armitage foi uma muito boa surpresa, e analisando isoladamente foi o destaque individual da 3.ª vez que o coração de 'Hannibal' bateu. Mas, por se tratar de uma despedida, é impossível não referir a importância da dinâmica Hannibal Lecter e Will Graham. A série foi sempre sobre eles. O fascínio de um pelo outro, a relação amor/ ódio, o desejo de Hannibal de transformar Will. O criador e argumentista Bryan Fuller conseguiu ainda um final adequado e perfeito para um dueto que brilhou sempre que partilhou o ecrã - quer nas sessões do psicólogo Hannibal no seu escritório, quer no asilo psiquiátrico quer agora com um vidro a separar o predador e a presa (?).
    Os actores Mads Mikkelsen e Hugh Dancy fizeram da série uma das melhores dos últimos anos, participando activamente junto de Fuller na definição e construção dos caminhos das suas personagens. E é muito raro encontrar-se a química que existiu e se intensificou entre os dois actores, numa relação perturbadora mas ao mesmo tempo quase erótica.

O Episódio: 13 'The Wrath of the Lamb'.
    A series finale de 'Hannibal' é oficialmente um dos melhores pontos finais que alguma série teve. Não se podia pedir mais. Resulta muitíssimo bem se nunca mais ouvirmos falar de 'Hannibal', mas resulta igualmente bem se outra cadeia televisiva quiser prolongar a série, ou se Fuller criar um filme, uma ideia em relação à qual Mikkelsen e Dancy já manifestaram interesse.
    A ira do cordeiro dita o fim do Grande Dragão, e os 10 minutos finais da série são surreais. A partilha de Hannibal e Will simbolizada com mestria, e quando se inicia a música "Love Crime" de Siouxsie Sioux e Brian Reitzell, criada propositadamente para a série, começa o adeus: o abraço, a queda e aquele plano final perfeito. Como se não bastasse ainda há aquela cena pós-créditos genial e aquela imagem de Dolarhyde deitado com o sangue a desenhar as suas asas. 

O Futuro: 
    Foram três temporadas do melhor que há em termos de evolução da história, performance dos actores e realização. Bryan Fuller disse um dia que tinha um plano de 8 temporadas para 'Hannibal' (um número exagerado, porque 4 ou 5 chegariam para explorar de forma rica e condensada o universo de personagens de Thomas Harris), mas a NBC ditou que seriam apenas 3. Ficaram a faltar figuras como Clarice Starling (circulou o rumor que Fuller queria Ellen Page para o papel) e "Buffalo Bill" e a cena pós-créditos do episódio 13 serve de teaser e de possível ponte para uma nova oportunidade, seja na concorrência - a Netflix e Amazon já rejeitaram a possibilidade - ou num filme, quer seja para o grande ecrã ou um filme televisivo.
    'Hannibal' deixou-nos de barriga cheia, e esta última temporada só não alcançou um estatuto superior pela menor qualidade da primeira metade. Mas uma coisa é certa: vai deixar saudades.
  

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