30 de maio de 2012

Rock in Rio 2012: Dia 26

Rock in Rio 2012: Dia 26
Relativamente ao 2º dia do festival (26 de Maio) podemos falar mais e pormenorizar mais uma vez que estivemos in loco. Este artigo passa portanto não só pela análise musical do dia mas também pelo relato de histórias de tristeza, azar mas também cómicas e por alguns conselhos para quem ainda irá nos 3 dias que faltam do evento ao Parque da Bela Vista escutar outras vozes afinadas.
    O primeiro desafio é estacionar o veículo de transporte, mas com vontade e dedicação a coisa consegue-se. Para quem ainda não tiver bilhete, é garantido que não terá que se deslocar exactamente até à bilheteira porque, escassos metros antes, surgem “outras oportunidades de negócio”. É certo que ao comprarem o bilhete mais barato a alguém é provável que sintam que estão a comprar droga. Pelo menos nós sentimos isso. Passa-se então para uma fase de algum engarrafamento humano supervisionado pelos habitantes da Bela Vista que, do alto dos seus prédios, orgulhosos pela moldura humana que vislumbram, ou são apenas estranhos e ficam a olhar longos minutos ou então estão a tentar contar o número de pessoas. O que faz deles ainda mais estranhos. Entrando no Rock in Rio, nós pelo menos temos sempre a necessidade de fazer um reconhecimento e então iniciámos, ainda que de forma meia desligada e nada desesperada – a caça ao brinde.

    Deslocámo-nos ao Millenium e coleccionámos uns óculos gigantescos. Pensámos, todos fanfarrões, “hm, isto hoje vai ser canja conseguir os brindes todos”. Mal sabíamos nós. Observando em nosso redor, e desvalorizando as perucas cor-de-rosa em forma de crista que toda a gente parecia querer, definimos como brinde-alvo os chapéus de palha da Fnac. 
    Há um brinde que está acima de todos os outros – os sofás da Vodafone – mas relativamente a esse aquilo que se pode dizer é que, quando a fila do Rock in Rio se começa a formar, as pessoas que ocupam os primeiros lugares têm 1 de 2 objectivos: conseguirem fixar-se junto do palco ou conseguirem garantir um sofá da Vodafone. Um amigo nosso conseguiu 2 sofás da Vodafone, mas isso é porque ele é um chico-esperto. Nós não. Somos relativamente inocentes e bem educados e um pouco amadores na caça ao brinde, confessamos. Não temos a ginga necessária para penetrar na fila à "papo-seco".
    Fomos então perto da banca da Fnac e dissemos “Vamos apostar então, já que ainda falta algum tempo para os Limp Bizkit, em conseguir cada um 1 chapéu!”. Nós somos assim, estranhos. E lá ficamos na fila. 10 Minutos. 20 Minutos. 30 Minutos. 40 Minutos. 50 Minutos. 1 Hora. A dada altura, quando estávamos a 1 metro de entrar na cabana da Fnac, comunicaram que os chapéus tinham acabado. Foi um pouco chato, mas não reagimos com violência, acalmámo-nos, pensando no ditado popular “Chapéus há muitos” e deslocámo-nos para a banca ao lado na qual se tinha que comprar algo da Fnac para conseguir um chapéu. Aonde o desespero e a frustração de não conseguirmos o Rei dos Brindes nos levou… Estávamos a ver quanto custavam umas pilhas só para comprar algo e ter um chapéu (constatámos que as pilhas eram mais caras que um CD dos Coldplay... "normal..."), chegámos à caixa e a mulher diz “Acabaram os chapéus”. Achámos que o nosso azar não poderia ir mais longe, mas foi. 
    Esfomeados e a querer procurar algum consolo na comida, vimos várias pessoas com grandes caixas da Telepizza todas cheias de satisfação a deitar a caixa no lixo... Como a nível gastronómico deixamo-nos corromper facilmente pela inveja, também tínhamos que conseguir uma pizza. Nós no fundo somos uns guaxinins glutões, atraídos por comidas sistematicamente. Chegámos à Telepizza e dissemos “Queremos uma Carbonara grande”. Porém, não havia. Só há dois tipos de pizzas na Telepizza do Rock in Rio “Chouriço e Queijo” ou “Fiambre e Queijo” e, meus caros amigos, por 22€ conseguem nada mais nada menos do que a pior pizza de sempre. E 3 bebidas, já agora. Uma pizza má demais para se conseguir comer toda que nos deixou a olhar em lágrimas para a Portugália, o KFC ou os sítios onde se vendem hambúrgueres e cachorros – podíamos ter comido em todos pagando menos do que pagámos. Depois disto percebemos o porquê da felicidade dos seres que deitavam a caixa para o lixo... Não era por estarem satisfeitos com o que comeram, mas sim por se terem livrado dum enorme fardo. O azar ficou completo quando, após o concerto dos Linkin Park, um de nós foi pedir cerveja a um dos distribuidores da Heineken e eis que, no preciso momento em que chegou a nossa vez, a cerveja acabou. Há dias assim…

Conteúdos musicais (e pormenores):

    Se havia algo que nos fez escolher o dia 26 de Maio foi o facto do cartaz ser homogéneo, nenhuma das 4 bandas nos desagradava à priori e não queríamos perder a oportunidade de ver os Smashing Pumpkins pela 1ª vez.

    O cartaz abriu com Fred Durst e os Limp Bizkit. Uma daquelas bandas que já não pensávamos poder ver em Portugal e que, com a energia contagiante de Fred Durst acabou por ser, a par com os Linkin Park, a banda que melhor soube interagir com o público. Vimos a actuação dos Limp Bizkit ao longe porque tínhamos medo do guitarrista deles e, não menos importante, porque estávamos desanimados e enjoados com a pizza de chouriço e queijo, pior que as pizzas pré-congeladas do mini-preço. Só para verem bem, demos por nós a comer só a parte exterior da pizza e o chouriço porque eram as partes toleráveis e porque continuávamos com imensa fome. E tristeza. Afinal de contas, os brindes que sistematicamente quase conseguimos, ainda estavam a ser recalcados. Voltando aos Limp Bizkit, abriram com um “My Generation”, tocaram a “Nookie” e “Rollin’” mas o momento alto deles, e um dos momentos altos do dia foi claramente “Behind Blue Eyes”. Valeu bem a pena. Foi bom ver Fred Durst “babado” com o público português. “You have a beautiful voice” disse ele, nada que não soubéssemos. Mas fica-lhe sempre bem. Também pudemos reparar que o público português é muito patriota e, por cada intervalo sem sonoridade, começa a gritar "Portugal allez, Portugal allez". Somos assim nós, como o Fred nos chamou, uns "strange motherfuckers". Na verdade, chamou-nos "motherfuckers" bastantes vezes que nem um Stifler. Mas era um "motherfuckers" nada ofensivo. No fundo, era com o mesmo intuito que os pais chamam, por vezes, aos filhos pequeninos "este sacana, pá...". O Fred, e o seu carinho.


    Depois, os The Offspring. Liderados por Dexter Holland (com um ar mais jovem e com o ar cuidado a que nos acostumou e não com o ar de Denis o Pimentinha muuito velho que apresentou em 2008 na Bela Vista) não desiludiram, estiveram ao seu nível, não descurando os seus mais conhecidos temas (vários deles propícios para os “moches”) como “Why Don’t You Get a Job?”, “The Kids Aren’t Alright” e “Self Esteem”, todos estes deixados para a fase final da actuação, dando-nos a conhecer ainda uma música mais calma que desconhecíamos – “Kristy, Are You Doing Okay”. Um concerto sólido, os The Offspring nunca primam propriamente pela interacção com o público mas sim pelo que conseguem provocar no público (nuns concertos com um funcionamento parecido com os dos Xutos e Pontapés) cativando e contagiando tudo e todos com os temas de sempre. Nós estávamos situados perto de um moche e sentíamos algum receio. Não nos julguem mariquinhas pede salsa. Não era o moche que nos assustava. Era o facto de estarmos ao lado de um gordalhão extremamente suado e com sua boca algo suja. Não conseguimos decifrar do que se tratava a sujidade, mas coisa boa não era. E o facto de estarmos ao pé deste indivíduo que parecia ser um esquilo obeso e estarmos situados ao pé do moche, alertou-nos. Tentámo-nos desviar pouco a pouco e lá conseguimos sair da área de perigo.

    A 3ª banda a actuar era a mais esperada pela maioria das pessoas presentes no Parque da Bela Vista. Muitos consideraram que deviam ter sido cabeças de cartaz. O que nós achamos é o seguinte: a carreira dos Smashing Pumpkins, a influência que já foram para muita gente e o Historial que já têm fazem deles os justos cabeças de cartaz musicalmente. No entanto, considerando a receptividade do público, mais habituados a uma banda mais massificada como LP, poderia ter feito com que as coisas fossem conjugadas doutra forma. Os Linkin Park acabaram por dar, no nosso entender, o concerto da noite. Foram quem tocou mais, conciliando músicas mais recentes como “Waiting for the End” ou “The Catalyst” com as indissociáveis e sempre grandes “In the End”, “Numb”, “Crawling”, tendo ainda um momento mais acústico num medley de “Leave Out All the Rest”, “Shadow of the Day” e “Iridescent”. Faltou apenas uma “Pushing Me Away” acústica. Chester Bennington é sem dúvida uma grande voz, Mike Shinoda está ao nível, não tendo a mesma voz claro. Boa interacção com o público, alinhamento muito bem escolhido e um momento curioso envolvendo um cachecol do Futebol Clube do Porto. Shinoda perguntou o que Chester tinha ao pescoço porque sabia que não era coisa boa, Chester mostrou o cachecol, o público vaiou, e Chester atirou para o chão. Foi um momento cómico.

    Por fim foram os Smashing Pumpkins. Os episódios que tivéramos com os brindes (ou a ausência deles) e com a pizza deixaram-nos mentalmente num “All In” – se os Smashing tocassem a “Disarm” e a “Tonight, Tonight” compensava. Se não o fizessem, lamuriávamo-nos para a eternidade. O Billy (Corgan) chegou, sem avisar ninguém e começou a tocar. Notava-se que o público não conhecia assim tão bem uma banda que, estando longe do seu auge, terá sempre um lugar especial na música. Acompanhado, entre outros elementos, pela “interessante” baixista Nicole Fiorentino, o Billy lá foi fazendo a cena dele. Nas primeiras músicas parecia um menino autista, sem contactar com o público, mas mostrando que o tempo o fez dominar a guitarra como poucos. O "tio careca" Billy foi-se libertando e mostrando temas como “Today”, “Tonight, Tonight”, “1979”, convencendo-nos com uma “Starla” que desconhecíamos e deixando-nos interessados em ouvir o álbum que sai no próximo mês depois de ouvir “Oceania”. Em todo o caso, o auge foi, ao iniciar o Encore, a “Disarm”. Foi aquele momento em que não termos conseguido nenhum brinde deixou de importar. 
    No meio de todo este último concerto houve um momento curioso – estava próximo de nós um ser que tinha a fisionomia dum porco-da-índia com uma cara muito parecida com o André (da banda pimba Miguel e André). Este ser, para além de ser muito esquisito foi o ser que nos fez chorar no Rock in Rio. Porquê? Porque, a meio do concerto dos Smashing Pumpkins optou a dada altura por parar no tempo e ficar a olhar fixamente para algures ou para o vazio. Mas não foi uma paragem de 5 ou 10 segundos. Foi cerca de 1 minuto, com pausas. Sem exageros. Tempo esse que deu para olharmos para ele, repararmos que ele estava parado no tempo. Comentarmos. Rir. Olhar para ele, vermos que continuava parado. Rir. Olhar para ele. Constatarmos que continuava tudo igual. Começar a chorar a rir. Ao fim de cerca de 35 segundos ele “veio ao mundo”, mas isso durou cerca de 2 segundos, olhou para o Billy e voltou a parar no tempo. E a fazer-nos desmanchar a rir. As coisas com que nós nos rimos… Porcos da India com cara dum do Miguel e André que ficam parados no tempo durante um minuto. Assim somos nós…

    E este foi o nosso resumo detalhado do dia 26 de Maio do Rock in Rio. Nenhum será tão detalhado porque só a este é que pudemos assistir na 1ª pessoa. Os restantes serão sempre na 3ª pessoa. Já sabem, não se fiem no “chapéus há muitos” porque não são assim tantos e não vão à telepizza. E agora num momento extremamente gay dizemos: para nós o verdadeiro brinde foi a música.

MP. TM.

1 comentários:

  1. OK! Na próxima vez que estiver com vocês, já sei qual será a comida: pizza de chouriço e queijo da Telepizza!!!! Com o hábito, vão acabar por gostar! Até vão ouvir música a comer.....
    JP

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