31 de janeiro de 2024

As Melhores Novas Séries de 2023

Identificados os melhores episódios do ano, prosseguimos a nossa análise a 2023 com aquelas que foram para nós as Melhores Novas Séries.

    Em 2023, verificaram-se sobretudo dois novos super-fenómenos que num ápice se tornaram consumo obrigatório para os aficionados de séries: o encontro semanal com o pós-pandemia de The Last Of Us e o bingewatch compulsivo de Beef na Netflix. No geral, e com muitas produções em águas de bacalhau devido aos protestos no setor nos EUA, acabámos por descobrir menos séries novas, o que nos faz optar por apenas 10 e não 17 como no ano anterior.
    Há um ano atrás tínhamos aqui The Bear, Severance (uma das séries adiada pela greve), Andor ou The House of Dragon, bem como uma série de Nathan Fielder, que um ano depois marca novamente presença como autor/ criador... mas com um bebé diferente.
    I'm A Virgo, A Murder at the End of the World e Dear Child foram alguns dos exemplos de novas séries que vimos mas sem as achar suficientemente marcantes para aqui constar, e temos consciência que uma das 10 séries abaixo apresentadas é uma escolha (muito) polémica. No pódio, duas séries HBO e uma Netflix. 

    Justificamos desta maneira as nossas 10 Melhores Novas Séries de 2023:


1. Scavengers Reign (HBO Max)
Criado por: Joseph Bennett Charles Huettner
Elenco: Sunita Mani, Wunmi Mosaku, Bob Stephenson, Ted Travelstead, Alia Shawkat
IMDb: 8.7 | Rotten Tomatoes: 100% | Metascore: 84

    A série que sucede a The Bear como a nossa Nova Série preferida do ano é uma autêntica obra-prima de animação, um tesourinho por descobrir para grande parte do público. Scavengers Reign provoca inicialmente uma intencional sensação de estranheza, mas não demora a afirmar-se como uma série de consumo obrigatório para todos os fãs de boa televisão, hábil no entendimento da Natureza, da humanidade e da arte de contar uma boa história.
    Alguém escreveu online que é uma fusão entre Annihilation com o maravilhoso mundo visual do nipónico Hayao Miyazaki, uma descrição sem dúvida acertada.
    Nenhuma série valorizou e respeitou tanto o espectador este ano como Scavengers Reign, apresentando paulatinamente um planeta do zero e introduzindo-nos à sua diferenciada Biologia. Ficção científica ao mais alto nível, inteligente, viciante e belíssima em todos os planos.

2. The Last Of Us (HBO)
Criado por: Neil Druckmann, Craig Mazin
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Anna Torv, Nick Offerman, Murray Bartlett
IMDb: 8.8 | Rotten Tomatoes: 96% | Metascore: 84

    Parece já tão distante (esteve no ar entre Janeiro e Março de 2023), mas ainda nos lembramos da pica que todas as segundas-feiras passaram a ter por haver novo episódio de The Last Of Us para ver, sensação que só teve par na sempre aguardada despedida de Succession.
    A nova grande série da HBO não tinha vida fácil à priori, mas convenceu tudo e todos de forma consensual. Craig Mazin manteve o nível alto depois de Chernobyl e Neil Druckmann provou a sua capacidade multi-plataforma, semeando pormenores para os fãs do jogo, mas sabendo como e quando fazer crescer o universo da história. sem nunca desrespeitar o material original.
    A história de Bill e Frank foi um dos pontos altos de 2023, Pedro Pascal esteve soberbo (um trabalho incrível, maioritariamente em pequenos apontamentos) e Bella Ramsey deu uma chapada de luva branca a todos aqueles que torceram o nariz ao seu casting.

3. Beef (Netflix)
Criado por: Lee Sung Jin
Elenco: Steven Yeun, Ali Wong, Joseph Lee, Young Mazino, David Choe
IMDb: 8.0 | Rotten Tomatoes: 98% | Metascore: 86

    Já todos sabemos como é. Quase todos os anos uma série Netflix (seja Squid Game ou The Hunting of Hill House) emerge súbita e instantemente, protagonizando sucessivos tópicos do Reddit, tornando-se a série que todos os amigos nos recomendam e quase obrigando a que a devoremos em três tempos.
    Beef foi o fenómeno da Netflix em 2023. Estilisticamente rica e com ótimos papéis de Steven Yeun (nunca desilude) e Ali Wong (boa surpresa neste registo), a rixa ou desaguisado entre dois condutores de classes sociais bem diferentes, escalada imparável de competição e vingança, foi uma excelente fotografia de uma sociedade em panela de pressão, de ambição sem propósito e infelicidade reprimida. Danny e Amy desafiaram o espectador a empatizar com os dois lados, e num buzinão desmedido agitaram a televisão em 2023.
    Não faz sentido a Netflix renovar Beef, exceto se optar por transformá-la numa série de antologia.

4. The Curse (Showtime)
Criado por: Nathan Fielder, Benny Safdie
Elenco: Emma Stone, Nathan Fielder, Benny Safdie, Barkhad Abdi
IMDb: 7.1 | Rotten Tomatoes: 94% | Metascore: 76

    Uma parceria de Nathan Fielder (The Rehearsal, uma das séries que destacámos em 2022) e Benny Safdie (Good Time, Uncut Gems) ter-nos-ia sempre como ávidos espectadores em primeira fila, mais ainda com Emma Stone no papel principal. E correspondeu às expectativas.
    A série com o final mais surreal de 2023 apostou no realismo, nos silêncios desconfortáveis e nos contrastes da sociedade para mergulhar no mundo dos bastidores da Reality TV, iludindo com uma ideia de paródia para ir bem mais além, em ousadia e altitude.
    The Curse é uma série de nicho, para um público paciente e que não precisa de estímulos constantes; é das que pede digestão entre episódios, ora descarada ora subtil, diferente de tudo o que há e porventura influenciadora para próximas gerações.
    Que Fielder e Safdie voltem a colaborar, e que Emma Stone abrace mais projetos televisivos.

5. Swarm (Amazon Prime Video)
Criado por: Janine Nabers, Donald Glover 
Elenco: Dominique Fishback, Chloe Bailey, Damson Idris, Billie Eilish, Rory Culkin
IMDb: 7.2 | Rotten Tomatoes: 87% | Metascore: 66

    Com o sempre brilhante Donald Glover a apoiar a visão de Janine Babers (produtora de Atlanta ou Watchmen), Swarm é uma daquelas mini-séries que pode envelhecer como série de culto. Com um tema interessante - a obsessão de uma fã com uma estrela pop, numa evidente alusão aos fãs de Beyoncé - e uma abordagem psicadélica e gore, Swarm provou que Dominique Fishback é uma atriz destinada aos mais altos voos, mostrando ainda a versatilidade artística de Billie Eilish.

6. Jury Duty (Amazon Freevee)
Criado por: Lee Eisenberg, Gene Stupnitsky
Elenco: Ronald Gladden, James Marsden, Cassandra Blair, Trisha LaFache, Kirk Fox, Mekki Leeper
IMDb: 8.2 | Rotten Tomatoes: 82% | Metascore: 51

    Jury Duty terá sido a série genuinamente mais cómica de 2023. Simples e absurda, executou o seu conceito com o espectador como cúmplice num julgamento de fachada - a série da Amazon acompanhou um caso falso, sempre levado ao limite, com 12 jurados a deliberar, sendo 11 deles atores contratados (e sim, um deles James Marsden, de X-Men ou Westworld) e 1 um inocente participante (foco a 100% da série) que pensa que tudo é real.

7. Shrinking (Apple TV+)
Criado por: Bill Lawrence, Jason Segel, Brett Goldstein
Elenco: Jason Segel, Jessica Williams, Harrison Ford, Luke Tennie, Lukita Maxwell, Christa Miller
IMDb: 8.0 | Rotten Tomatoes: 91% | Metascore: 68

    No ano do aparente Adeus de Ted Lasso, Bill Lawrence e Brett Goldstein (hoje em dia mais conhecido como Roy Kent) transferiram-se para o escritório de um psicólogo a fazer o seu luto e que decide começar a dizer a todos os seus pacientes tudo aquilo que realmente pensa. Com Jason Segel como o protagonista perfeito para esta amálgama de humor, sofrimento contido e imprevisibilidade leve, Shrinking revelou-se um adequado herdeiro de Ted Lasso na capacidade de oferecer 30 minutos semanais reconfortantes, sem se levar demasiado a sério. E sim, Harrison Ford roubou todas as cenas em que entrou.

8. Vai Correr Tudo Bem (Youtube)
Criado por: Guilherme Geirinhas
Elenco: Guilherme Geirinhas, Sofia Vilar, Diogo Batáguas
IMDb: 8.1 | Rotten Tomatoes: -- | Metascore: --

    2024 já tem Matilha, spin-off de Sul na RTP 1, mas em 2023 a melhor e mais criativa produção nacional morou no Youtube. Em Novembro e Dezembro (o quinto e último episódio, "Um Conto de Natal", foi disponibilizado a 25/12), o humorista e autor Guilherme Geirinhas desabafou em 5 capítulos o que lhe vai na alma, numa desconstrução hiperconsciente - a tal "auto-referencialidade e meta-ficção" - da fina linha entre o sujeito e o seu objeto, o eu público e o eu privado, a pressão das redes sociais e a descompressão de criar com uma voz original.
    Geirinhas (não Duarte nem Fonseca) "matou" Ricardo Araújo Pereira, numa série pontuada com participações especiais inesperadas e que confirma que todos os membros originais dos Bumerangue têm coisas para deitar cá para fora, com bom gosto na forma e no conteúdo.

9. Strange Planet (Apple TV+)
Criado por: Nathan W. Pyle, Dan Harmon
Elenco: Tunde Adebimpe, Demi Adejuyigbe, Hannah Einbinder, Danny Pudi
IMDb: 6.4 | Rotten Tomatoes: 81% | Metascore: 68

    As deliciosas vinhetas de Strange Planet, super populares no Instagram, ganharam vida no pequeno ecrã este ano, com o autor Nathan W. Pyle a colaborar com Dan Harmon (Rick and Morty). Captar a essência da BD e o carácter enigmático e existencialista dos educados seres azuis não era fácil, e a série da Apple TV+ não foi brilhante nem de consumo obrigatório, mas foi um bom analgésico, sorridente e sempre de copo meio cheio, num mundo tantas vezes cinzento.

10. The Idol (HBO)
Criado por: Sam Levinson, Abel Tesfaye, Reza Fahim
Elenco: Lily-Rose Depp, The Weeknd, Suzanna Son, Troye Sivan, Rachel Sennott, Moses Sumney, Da'Vine Joy Randolph, Hank Azaria
IMDb: 4.4 | Rotten Tomatoes: 19% | Metascore: 27

    O que é que faz uma das séries com pior avaliação de 2023 no nosso Top 10 de Novas Séries?! Vamos por partes. The Idol foi efetivamente uma desprezível plataforma para Sam Levinson e The Weeknd explorarem as suas fantasias pessoais numa mega-produção; foi uma das séries mais cringe do ano com uma das piores performances dos últimos anos (The Weeknd) e é fácil perceber o porquê de ter virado chacota do público, originando apreciações destrutivas da Crítica e levando muitos espectadores a saltarem do barco a meio.
    No entanto, a série de Verão da HBO deixou marcas (banda sonora eficaz, fotografia cuidada e um incrível desempenho de Lily-Rose Depp no meio do caos), custando assistir a tanto potencial frustrado e desperdiçado. The Weeknd devia ter-se cingido à sua especialidade, não sujando uma boa premissa com o seu input tóxico e autocentrado, Sam Levinson devia ter inibido o seu ego machista e percebido que a série pedia uma realizadora, e nada foi mais nojento e desrespeitoso nas séries em 2023 do que assistir no fim de "Jocelyn Forever" ao nome de Abel Tesfaye a surgir no créditos primeiro do que Lily-Rose Depp.
    Numa realidade paralela, The Idol podia ter sido sem esforço uma das 3 séries do ano, caso abraçasse um verdadeiro arco de libertação para a protagonista ou explorasse melhor o subplot do trauma de uma estrela pop "espremida" e condicionada desde criança. Na realidade que temos, foi uma série muitas vezes ridícula e quase sempre desconfortável, (quase) salva pelo brilho de uma atriz a transcender-se.


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