13 de agosto de 2021

Antevisão da Premier League 2021/ 22


  Premier League - Passou-se a final da Champions disputada entre duas equipas inglesas, passou-se o Euro 2020, passaram-se os Jogos Olímpicos de Tóquio, e entretanto já está na altura da Liga mais entusiasmante do futebol europeu regressar. Inglaterra viveu o sonho internacional com a sua selecção a disputar o Europeu até ao fim, perdendo apenas nas grandes penalidades frente à campeã Itália, e agora cumpre-se outro sonho: com o fim das restrições e a "libertação total" decretada por Boris Johnson, os adeptos estão de volta aos estádios. O futebol faz bem mais sentido assim.
    A época passada foi a época do Manchester City. Os cityzens conquistaram o 3.º campeonato dos últimos 4, impedindo a instalação do Liverpool (época bizarra, fortemente marcada pela lesão de Virgil van Dijk) no topo do futebol inglês. Foi o ano dos portugueses Rúben Dias e Bruno Fernandes, foi o ano dos golos e das assistências de Harry Kane, e dos jovens Foden e Mount. Foi um ano azul, que só não foi perfeito para os de azul celeste porque o Chelsea levou a melhor na final da Liga dos Campeões.

    Em 2021/ 22 a coisa promete. Manchester City (Pep Guardiola), Chelsea (Thomas Tuchel), Liverpool (Jürgen Klopp) e Manchester United (Ole Gunnar Solskjaer) prometem intensa e frenética luta pelo 1.º lugar numa edição em que apenas 4 equipas têm novo treinador - Nuno Espírito Santo assumiu o Tottenham, Bruno Lage substituiu-o no Wolves, Patrick Vieira foi escolhido para rejuvenescer o Crystal Palace e o Everton reagiu à saída de Ancelotti para o Real Madrid com o recrutamento de Rafa Benítez, outrora treinador do grande rival da cidade.
    Com o mercado a encerrar apenas a 31 de Agosto, fica a sensação que ainda estão para acontecer negócios de peso, capazes de modificar algumas das nossas previsões. Atendendo ao que está consumado e é oficial, o grande destaque vai para o regresso de Romelu Lukaku (115 milhões) ao Chelsea e para a super-transferência de Jack Grealish do Aston Villa para o Manchester City por 117,5 milhões de euros. Os villans canalizaram este dinheiro da melhor maneira (Emi Buendía, Danny Ings e Leon Bailey foram aquisições brilhantes), destacando-se também o ataque ao mercado do Leicester, com Patson Daka e Soumaré. Jadon Sancho está de volta ao seu país para representar o Manchester United, e merecem também uma palavra as transferências entre clubes ingleses de Ben White, Billy Gilmour (empréstimo), Marc Guehi, Michael Olise ou Nathan Collins. Novidades completas nesta realidade são Varane, Konaté, Ajer, Lokonga, Bryan Gil, Onyeka, Perraud, Rashica ou Mwepu.

    Recordamos que desceram Sheffield United, WBA e Fulham, subindo Norwich, Watford e Brentford, que trazem consigo jogadores como Pukki, Todd Cantwell, Ismaïla Sarr ou Ivan Toney.
    A luta pelo Top-4 prevê-se imprópria para cardíacos, com Leicester City, Tottenham, Aston Villa, Arsenal e West Ham a terem ambições muito elevadas, numa Liga em que se espera maior equilíbrio e que, ao contrário das últimas edições, muito dificilmente será um passeio para o campeão.

    Acompanhem-nos então nesta completa Antevisão da Premier League 2021/ 22, numa tentativa de prever a classificação final e destaques individuais, sempre falível considerando várias transferências que ainda devem acontecer até fim de Agosto:


 MANCHESTER CITY (1)

    3 campeonatos conquistados nos últimos 4 anos é suficiente para que este Manchester City reclame o estatuto de principal favorito à conquista da Premier League. Os cityzens mantêm vivo o fantasma da Champions - em 20-21 deram um passo importante, chegando pela primeira vez à final - mas em competições de longa duração, é muito, muito difícil ganhar a uma equipa de Guardiola.
    Pep terá consciência que inventou quando não devia na final da Liga dos Campeões, e no virar de página de 20-21 para 21-22 o técnico espanhol sentiu a necessidade de abanar o plantel, sacrificando vários elementos para garantir Jack Grealish (já oficial) e Harry Kane (aguardam-se cenas dos próximos episódios até 31 de Agosto).
    A equipa que mais gosto dá ver em Inglaterra, com futebol fluido e total, continuará - e continuaria sempre, a não ser que Messi tivesse escolhido Manchester em vez de Paris - a ser "a equipa de Kevin De Bruyne". O médio belga, capitão, é o epicentro de tudo e, desde que consiga manter as lesões longe, parte como principal favorito a MVP. Temos muita curiosidade de ver a evolução de Grealish (camisola 10) ao seu lado, querendo Guardiola modificar um pouco o futebol do britânico, que passará a ser mais médio interior, tendo que trabalhar mais e aprender a usar o seu dom de afectar os tempos do jogo doutra forma, e menos um driblador a insistir em diagonais da esquerda para o centro.
    Confirmando-se Kane, será a cereja no topo do bolo, e Southgate poderá agradecer ao ter Kane, Grealish e Foden juntos todo o ano na mesma equipa; mesmo sem Kane, há Gündogan, há Mahrez (um extremo que sai beneficiado pelo facto de ser diferente de todos os outros) e o diamante Phil Foden poderá continuar a sua imparável explosão em direcção ao olimpo dos melhores do mundo.
    Dez anos depois, não há Kun Agüero, mas o azul celeste de Manchester não deixará de representar golos e mais golos e futebol espectáculo. Temos apenas algumas reticências em relação à posição 6 (ter De Bruyne e Grealish deve obrigar a ter Rodri, ou Fernandinho, nas costas, mas aí Gündo não cabe num 11 base que venha a ter Kane), sendo sempre um bónus a perfeita sintonia da dupla John Stones-Rúben Dias.

Treinador: Pep Guardiola
Onze-Base (4-3-3): Ederson; João Cancelo, Stones, Rúben Dias, Zinchenko; Rodri, De Bruyne, Grealish; Mahrez, Foden, Gündogan (G. Jesus)

Atenção a: Kevin De Bruyne, Rúben Dias, Jack Grealish, Phil Foden, Riyad Mahrez

 CHELSEA (2)

    Os vencedores da Liga dos Campeões 20-21 querem bem mais do que o 4.º lugar alcançado na última Premier League. E o nosso palpite é que os blues, magnificamente bem treinados por Thomas Tuchel, poderão ser o principal rival do City na luta pelo título.
    Em 20-21, Tuchel comandou o Chelsea em 19 jornadas (meio campeonato). De finais de Janeiro até ao término da Liga, os londrinos foram a 2.ª melhor equipa, com os 38 pontos somados a serem apenas superados pelos 45 registados pelo Manchester City no mesmo período. Equipa fortíssima em competições a eliminar, o Chelsea impressionou defensivamente com Tuchel - sofreu 13 golos em 19 jogos na Premier, e na Champions sofreu apenas 2 golos nos 7 jogos disputados contra Atlético Madrid, Porto, Real Madrid e Manchester City.
    Tendo desenvolvido o hábito de derrotar Guardiola, Tuchel precisava urgentemente de um grande ponta de lança e tem-no agora: Romelu Lukaku volta a Inglaterra e a Stamford Bridge muito mais jogador, sendo hoje o belga talvez o avançado da actualidade mais versátil para servir qualquer sistema. É forte nos apoios, como referência ou em dupla, e tem passada larga para explorar a profundidade. Um tormento.
    Com a baliza bem entregue a Mendy e uma defesa que ainda pode ganhar um reforço (Koundé?), é um luxo ter Kanté-Jorginho e o 3-4-1-2 está feito para Mason Mount estar como quer. Werner, Ziyech e Pulisic terão que fazer pela vida quando as oportunidades surgirem, e esta pode ser uma temporada decisiva na carreira de Kai Havertz - sem Lukaku, o alemão acabaria por crescer como falso 9, mas o ingresso do portentoso belga tornará Havertz mais jogador, talvez com menos golos mas mais completo.

Treinador: Thomas Tuchel
Onze-Base (3-4-1-2): Mendy; Azpilicueta, Thiago Silva, Rüdiger; R. James, Jorginho, Kanté, Chilwell; Mount; Havertz, Lukaku

Atenção a: Romelu Lukaku, Kai Havertz, Mason Mount, Jorginho, Reece James

 LIVERPOOL (3)

    Em 2020/ 21, o Liverpool comprovou a Lei de Murphy. O departamento clínico teve sempre clientela para recuperar, num role de lesões que teve em Virgil van Dijk (o melhor defesa central do mundo só deu o seu contributo até à jornada 5) a baixa mais significativa. Klopp experimentou mais de 10 duplas de centrais, com muitas adaptações pelo meio, e no final da história o 3.º lugar acabou por ser improvável desfecho, muito contribuindo a subida de nível de Alisson (até marcou!) e Alexander-Arnold na recta final. Diogo Jota foi a boa notícia da época, parecendo desde o 1.º jogo ter jogado em Anfield desde sempre, e Salah fez os seus golos, custando assistir ao decréscimo de forma de Mané e à incapacidade de Thiago Alcântara em encaixar à primeira nas ideias da equipa.
    Quase um ano mais tarde, o Liverpool já não se pode gabar de ter incontestavelmente o melhor quarteto defensivo da Premier League. Talvez ainda o seja, sobretudo atendendo à perspectiva de Konaté formar dupla com VVD, e nas laterais continua muito forte, mas Rúben Dias mudou o City, Varane melhorará o United, e o Chelsea defende bem no seu todo.
    Klopp não perdeu o jeito, e desde que van Dijk esteja bem, o mais certo é as coisas começarem a acontecer novamente. Jota, Mané (essencial que volte ao seu nível de 18-19 e 19-20) e Salah são um terror para qualquer defesa, e assim os principais pontos de interrogação neste Liverpool surgem quando se constata a falta de opções válidas para o ataque no banco, e quando se antevê um meio-campo órfão de Wijnaldum e se percebe que, ou Thiago agarra a 2.ª oportunidade ou terá que ser a época de afirmação de Keita, Curtis Jones ou do miúdo Harvey Elliott. Um problema a ter em consideração: há CAN em Janeiro, o que pode significar ausências dos craques Salah e Mané.

Treinador: Jürgen Klopp
Onze-Base (4-3-3): Alisson; Alexander-Arnold, Konaté, van Dijk, Robertson; Fabinho, Henderson, Thiago (Keita); Salah, Mané, Diogo Jota (Roberto Firmino)

Atenção a: Virgil van Dijk, Sadio Mané, Mohamed Salah, Diogo Jota, Alexander-Arnold

 MANCHESTER UNITED (4)

    Pode ser injusto prevermos o 4.º lugar para o segundo classificado da última edição, até porque com reforços de luxo o Manchester United está efectivamente mais forte, mas o factor Solskjaer, treinador que consideramos inferior a Guardiola, Tuchel e Klopp, acaba por pesar.
    Old Trafford está apaixonado por Bruno Fernandes (18 golos e 12 assistências no último campeonato) e a chama deve continuar bem acesa, com o craque português a poder render ainda mais com Sancho na equipa, e permitindo Lingard uma melhor gestão física do 18 dos red devils.
    Os vermelhos de Manchester contrataram pouco mas muito bem. E muitas vezes contratar 2 grandes jogadores permite um crescimento superior do que contratar 5 bons jogadores. Com Raphaël Varane (10 anos de Real Madrid mas ainda tem 28 anos) a defesa promete serenar e ser uma das melhores da prova. Maguire merecia um parceiro como Varane, e Luke Shaw há-de estar nas nuvens depois de espalhar qualidade no Euro 2020. Na baliza, caberá a Dean Henderson ganhar o lugar em definitivo e provar que está à altura do restante 11. E se Varane chega para tranquilizar atrás, Jadon Sancho chega de Dortmund para destruir os defesas contrários. Há muito que o United precisava de ter um elemento capaz de rasgar pela direita, e aos 21 anos o extremo britânico procurará replicar neste regresso ao seu país os números brutais que alcançou na Alemanha.
    Um médio defensivo como Declan Rice podia nomeadamente permitir a Paul Pogba ser mais o Pogba da França do que o Pogba que se tem visto na Premier League, e na frente a competição promete entre Cavani, Greenwood e Martial. Seja como for, o facto de Rashford falhar o arranque da temporada permitirá a coexistência de 2 destes, sem esquecer o super-promissor Amad Diallo e Elanga, outro menino.

Treinador: Ole Gunnar Solskjær
Onze-Base (4-3-3): Henderson; Wan-Bissaka, Varane, Maguire, Shaw; Fred, Pogba, Bruno Fernandes; Sancho, Rashford, Greenwood (Cavani, Martial)

Atenção a: Bruno Fernandes, Jadon Sancho, Luke Shaw, Raphaël Varane, Mason Greenwood

 LEICESTER CITY (5)

    Parece maldade, mas uma vez que vemos os mais fortes candidatos ao Top-4 um patamar acima dos restantes clubes, não temos alternativa que não seja apontar o Leicester ao 5.º lugar, "morrendo na praia" bem perto da Champions pela terceira época consecutiva.
    O Leicester é um óptimo exemplo de estratégia, visão de mercado e gestão. Os foxes contam com um bom treinador (vê-se a evolução dos jogadores quando passam pelas mãos de Brendan Rodgers), têm um plantel com alguma profundidade, um 11 muito equilibrado e completo, e a inteligência de ir preparando o futuro e acautelando sistematicamente futuras perdas: veja-se Patson Daka, o príncipe herdeiro de Jamie Vardy no limite do fora-de-jogo, ou Soumaré, que deixa o clube menos preocupado quando surgir a proposta certa por Tielemans ou Ndidi.
    Com um leque de jogadores que permite a Rodgers escalar um 4-4-2, um 4-3-3, um 3-4-1-2 ou um 3-4-3, o Leicester viu-se obrigado a ir ao mercado em SOS para responder à grave lesão de Fofana (só regressa em 2022) garantindo o gigante nórdico Vestergaard. Esperamos muito de Kelechi Iheanacho, jogue o nigeriano no apoio a Vardy ou ao novo amigo Daka, e quem tem Barnes, Maddison, Tielemans, Ricardo Pereira e Castagne entra em todos os jogos com pretensões de os vencer.
    Se algum entre os rivais de Manchester, o Chelsea e o Liverpool escorregar.. o Leicester não deve perdoar.

Treinador: Brendan Rodgers
Onze-Base (4-4-2): Schmeichel; R. Pereira, Evans (Vestergaard), Söyüncü, Castagne; Ndidi, Tielemans, Maddison, H. Barnes; Iheanacho, Vardy (Daka)

Atenção a: Kelechi Iheanacho, Patson Daka, Youri Tielemans, Jamie Vardy, Harvey Barnes

 ASTON VILLA (6)

    A equipa dos Emilianos. Na última época, o 11.º lugar do Aston Villa foi uma classificação bastante enganadora. Os villans chamaram todas as atenções para si quando golearam o então campeão Liverpool por 7-2, e só uma lesão do craque Jack Grealish, que o impediu de dar o seu contributo à equipa entre as jornadas 24 e 36, impediu voos mais altos. Quando Grealish se lesionou, a equipa de Dean Smith estava em 9.º mas o Top-4 distava apenas 5 pontos.
    Falar de Grealish é um lógico ponto de partida para a Antevisão desta época. O camisola 10, craque com pinta de pertencer a outra geração e fã incorrigível de meias curtas, no clube desde os seus 6 anos, rumou ao Manchester City por 117,5 milhões de euros. O clube da cidade de Birmingham tem sabido usar o dinheiro, pagando Grealish as contratações de Emi Buendía (melhor jogador do Championship ao serviço do Norwich, e um craque de todo o tamanho para marcar e sobretudo assistir com fartura), Leon Bailey (extremo potente e entusiasmante) e Danny Ings, um dos melhores avançados em Inglaterra.
    Com este trio, juntando-lhes ainda o experiente Ashley Young e o emprestado Tuanzebe, o Aston Villa apresenta argumentos para crescer e atrever-se a competir olhos nos olhos com alguns dos gigantes ingleses.
    Dean Smith já contava com um super-guarda-redes - Emiliano Martínez foi o melhor na sua posição na Premier em 20-21 e reforçou o seu pedigree com uma enorme Copa América - e a conjugação dos substitutos de Grealish com jogadores como McGinn, Watkins, Mings ou Cash deixa o técnico com obrigação de fazer um brilharete. Olhando para a Academia, quiçá Philogene-Bidace e Chukwuemeka tenham minutos esta temporada.

Treinador: Dean Smith
Onze-Base (4-2-3-1): E. Martínez; Cash, Konsa, Mings, Targett (A. Young); Douglas Ruiz, McGinn; Bailey, Buendía, Watkins; Ings

Atenção a: Emiliano Buendía, Emiliano Martínez, Danny Ings, Leon Bailey, Ollie Watkins

 TOTTENHAM (7)

    Prever a temporada de 21-22 do Tottenham está obrigatoriamente dependente do dossier Harry Kane. O ponta de lança inglês, jogador com mais golos e mais assistências na última Premier League, está farto de não ganhar nada e aos 28 anos deseja rumar ao Manchester City. Daniel Levy tem resistido, mas o mais provável é que até ao fecho do mercado Kane se junte a Grealish, KDB e Guardiola, o que implica todo um novo cenário: consumando-se a transferência, em que jogadores irá o Tottenham gastar o dinheiro arrecadado com o melhor jogador inglês da actualidade?
    A nova época está já marcada por muitas mudanças. É uma nova Era com Nuno Espírito Santo como treinador, tendo sido NES o escolhido depois dos objectivos Conte, Pochettino, ten Hag, Roberto Martínez e Gattuso (#NoToGattuso) saírem gorados. Os spurs têm também um novo homem forte do futebol, Fabio Paratici, um negociador nato com boas relações com Jorge Mendes e que levou para a Juventus jogadores como Pogba, Pirlo, Vidal, Dybala, Tevez, Coman ou Chiesa.
    Sem Alderweireld, Lamela e Joe Hart, mas com Cristián Romero (o central argentino é uma das melhores novidades desta Premier League), Bryan Gil e Gollini, o Tottenham ainda tem muito para fazer neste mercado caso Kane saia. E de acordo com esses potenciais reforços (adorávamos ver Dusan Vlahovic substituir Kane), mais o clube se poderá ou não aproximar do Top-4.
    Como as coisas estão, a única certeza é que Son Heung-Min - poucas vezes referido como um dos melhores jogadores da Premier embora o seja - vai continuar a brilhar, e na pré-época Dele Alli e Lucas Moura deixaram bons apontamentos.

Treinador: Nuno Espírito Santo
Onze-Base (4-2-3-1): Lloris; Tanganga (Doherty), C. Romero, Dier, Reguilón; Højbjerg, Ndombélé; Lucas Moura, Alli, Son; Kane

Atenção a: Son Heung-Min, Harry Kane, Cristián Romero, Dele Alli, Pierre-Emile Højbjerg

 ARSENAL (8)

    Em 2020/ 21 o Arsenal ficou em oitavo lugar, e é em 8.º lugar que voltamos a colocar os gunners, equipa com um treinador com potencial e com jogadores com potencial, mas que precisa invariavelmente de tempo.
    Com Pierre Aubameyang incapaz de ser um fiável porta-estandarte do projecto, o Arsenal não tem hoje uma figura que ilume o caminho da equipa, alguém como Alexis Sánchez, Mesut Özil ou Robin van Persie, isto para não puxar a cassete mais atrás até aos Henrys e Bergkamps. Num misto entre aposta na formação (Bukayo Saka e Emile Smith Rowe) e bom scouting (Sambi Lokonga), o clube vem construindo um plantel que dá sinais positivos, apesar de estar a anos-luz de vários emblemas com que o Arsenal há alguns anos ombreava.
    Ben White (quase 60 milhões) é a grande novidade. O ex-Brighton não é um central como van Dijk ou Maguire cuja imponente presença deixará todos mais descansados, mas é um defensor moderno e muito consistante, não devendo demorar a tornar-se um dos favoritos dos adeptos e a motivar o debate no país sobre se deveria ser ele ou John Stones a partilhar o centro da defesa da selecção com Harry Maguire.
    O novo clube do português Nuno Tavares deve conceder poderes reforçados ao suiço Granit Xhaka depois de tremendo Euro 2020 e aguardamos com curiosidade a gestão que Arteta fará de Thomas Partey e do reforço Sambi Lokonga (boa aposta). Emile Smith Rowe passou a vestir o número 10 e promete brilhar, sendo importante começar a introduzir Gabriel Martinelli na equipa, com a mesma confiança que Rowe e Saka mereceram.
    No geral, não nos parece que esta equipa consiga mais do que andar na luta com Leicester, Tottenham, Aston Villa e West Ham pela Europa. Auba e Lacazette sabem como marcar golos, mas é de Nicolas Pépé que esperamos um maior boom de rendimento.

Treinador: Mikel Arteta
Onze-Base (3-4-3): Leno; B. White, Gabriel, Holding; Saka, Xhaka, Thomas (Lokonga), Tierney; Pépé, Smith Rowe, Aubameyang

Atenção a: Bukayo Saka, Nicolas Pépé, Emile Smith Rowe, Ben White, Granit Xhaka

 WEST HAM (9)

    Há um ano atrás apontámos o West Ham à descida. Não podíamos estar mais errados: os hammers foram mesmo a equipa sensação da Premier League, terminando num improvável 6.º lugar a apenas 2 pontos do Top-4.
    David Moyes renasceu, recuperando a sua cotação dos tempos de Goodison Park, e o clube londrino parte para esta época com outro estatuto e confiança. No Estádio Olímpico de Londres, a equipa tem estabilizado o seu 4-2-3-1, alicerçado no duplo pivot Declan Rice-Tomas Soucek. Até ver, o titular da selecção inglesa continua no seu clube do coração, o que poderá permitir ao colega checo continuar a aventurar-se na frente e tentar bater os 10 golos da última época.
    O defeso dos hammers tem estado bem mais calmo do que esperávamos - a novidade é apenas o francês Aréola, para competir pela baliza com Fabianski, mas pelo menos um central e dois jogadores de ataque devem assinar até 31 de Agosto. Infelizmente, garantir Jesse Lingard não parece possível. O médio ofensivo emprestado pelo Manchester United brilhou na segunda volta de 20-21, mas o seu papel de protagonista terá que ser entregue a outro jogador, alguém como Fornals ou Lanzini olhando para o presente plantel.
    Claramente equipa para andar entre o 7.º e o 10.º lugares, o West Ham precisa de pequenas afinações para sonhar com mais. Falta banco, e uma lesão grave por parte de um jogador como Said Benrahma (podem esperar muito mais dele), Michail Antonio ou Jarrod Bowen poderia custar caro.

Treinador: David Moyes
Onze-Base (4-2-3-1): Fabianski; Coufal, Diop, Ogbonna, Cresswell; Rice, Soucek; Bowen, Fornals (Lanzini), Benrahma; M. Antonio

Atenção a: Declan Rice, Michail Antonio, Said Benrahma, Tomas Soucek, Vladimir Coufal

 LEEDS UNITED (10)

    Em Marcelo Bielsa nós confiamos. O argentino de 65 anos é uma das personalidades e uma das mentes mais fascinantes actualmente no futebol inglês. Homem do leme no Leeds desde 2018, recolocou os whites na Premier League e conseguiu guiar os seus jogadores até um notável 9.º lugar na temporada de regresso.
    O Leeds sprinta como mais ninguém, e resiste mais tempo a correr do que todos os outros. No futebol, correr muito é diferente de correr bem, mas a capacidade de sacrifício deste elenco jamais será posta em causa, até porque só entra no Bielsa ball quem está disposto a dar tudo pelas ideias do treinador, quase matando o seu ego individual de jogador.
    Apontamos o Leeds United a uma posição algures entre o 8.º e o 11.º lugares. A equipa é basicamente a mesma: Meslier (um dos jovens guarda-redes com maior futuro do mundo) prossegue de luvas calçadas, a defesa tem como novidade Júnior Firpo à esquerda, e no meio-campo a preservação de Kalvin Phillips, jogador mais importante na filosofia da equipa, parece quase um milagre depois do seu fantástico Euro 2020. Na temporada passada Bamford calou-nos e provou ser um dos Most Improved Players do ano, Jack Harrison (estava emprestado) assinou em definitivo até 2024 e Raphinha tem sobre si o peso de castigar adversários e inventar.
    O entretenimento está garantido, mas caso o Leeds ambicione superar a sua 9.ª posição da época passada parece-nos que terão que chegar a Elland Road mais 1 ou 2 jogadores capazes de desequilibrar, na linha de Raphinha, e possivelmente um todo-o-terreno para fazer companhia a Stuart Dallas.

Treinador: Marcelo Bielsa
Onze-Base (4-1-4-1): Meslier; Ayling, Llorente, Struijk, Júnior Firpo; K. Phillips; Raphinha, Dallas, Klich, Harrison; Bamford

Atenção a: Kalvin Phillips, Raphinha, Patrick Bamford, Stuart Dallas, Illan Meslier

 EVERTON (11)

   A história de amor dos adeptos do Everton com Rafa Benítez tem vivido difíceis primeiras páginas. Após a inesperada saída de Carlo Ancelotti para o Real Madrid, o clube da cidade de Liverpool hesitou entre vários nomes mas acabou por optar pelo técnico espanhol, homem que liderou os vizinhos em Anfield entre 2005 e 2010. Muitas trocas de acusações ainda estão frescas na memória, bem como aquela mítica final de Istambul, noite mágica do Liverpool diante do AC Milan na Liga dos Campeões.
    O Everton é o 4.º clube de Rafa em Inglaterra (já orientou os reds, o Chelsea e o Newcastle) e em boa verdade o hispânico fartou-se de fazer omeletes sem ovos em St. James' Park.
    Mas o Everton quer o Top-4 ou o Top-6, meta muito ambiciosa para um clube que tem sido ultrapassado por Leicester City, West Ham e Aston Villa, e que parece estar a ter dificuldades em atrair os alvos que gostaria.
    Nos moldes actuais, espera-se um Everton frequentemente em 4-2-3-1, com Allan e Doucouré a segurarem a equipa e Lucas Digne a fazer a diferença pela esquerda. Tendo Calvert-Lewin (um dos pontas de lança mais fortes do mundo no jogo aéreo), Benítez deve pedir muitos cruzamentos a Digne e aos reforços Townsend e Demarai Gray, podendo esta ser uma época decisiva para Richarlison, melhor marcador dos Jogos Olímpicos com 5 golos. Duvidamos que James Rodríguez fique.
    Prevemos que a época não corresponderá às ambiciosas aspirações do treinador e da direcção, mas o calendário acessível no arranque pode atenuar a relação crispada e preconceituosa entre o treinador e a massa adepta.

Treinador: Rafa Benítez
Onze-Base (4-2-3-1): Pickford; Coleman, M. Keane, Mina, Digne; Allan, Doucouré; Townsend, Richarlison, James (D. Gray); Calvert-Lewin

Atenção a: Dominic Calvert-Lewin, Richarlison, Lucas Digne, Jordan Pickford, Allan

 BRIGHTON (12)

    A estatística caracteriza o Brighton como uma equipa que joga como uma equipa grande, mas que pontua como equipa pequena sobretudo devido à sua ineficácia ofensiva. Em 2020/ 21, o Brighton foi a 7.ª melhor defesa do campeonato, impressionando outro dado: com uma média de 9,4 remates concedidos por jogo, os seagulls foram a quarta melhor equipa nesse capítulo, apenas atrás de Manchester City, Liverpool e Chelsea. Números que não deveriam resultar num 16.º lugar.
    Se tudo correr bem, o Brighton pode atravessar esta temporada longe das contas da descida. Graham Potter é um dos treinadores que vale a pena acompanhar em Inglaterra e a valorização de jogadores (Lamptey, Trossard e sobretudo Bissouma cresceram todos em 20-21) deve continuar, podendo resultar em transferências avultadas como a de Ben White para o Arsenal.
    Desta vez, Tariq Lamptey e Solly March podem continuar a destacar-se nos corredores, e um miolo povoado com Bissouma e o reforço Mwepu (o zambiano actuava no Red Bull Salzburgo) será sinónimo de muita energia. Com quase 60 milhões em caixa depois de negociar White, é fácil adivinhar que o Brighton gaste bastante num avançado centro.
    Está aqui uma equipa bem treinada, em que fica a dúvida sobre o centro da defesa (será o holandês Veltman o novo White ou vão ao mercado?) e em que a tendência é o belga Leandro Trossard ser cada vez mais figura.

Treinador: Graham Potter
Onze-Base (3-4-1-2): R. Sánchez; Veltman, Dunk, Webster; Lamptey, Bissouma, Mwepu, March; Trossard; Welbeck, Maupay

Atenção a: Yves Bissouma, Leandro Trossard, Tariq Lamptey, Adam Webster, Solly March

 SOUTHAMPTON (13)

    A não ser que até ao fecho do mercado o Southampton consiga uns 2 reforços de luxo, tudo indica que os saints repitam o sofrimento da extenuante luta pela permanência, distantes da saúde desportiva que o clube apresentou entre 2014 e 2017.
    Tímido no mercado, e bem longe da visão de outrora (van Dijk, Mané, Tadic, etc), o Southampton não fez qualquer grande contratação em 20-21 (o central Salisu não deslumbrou como esperávamos) e mesmo esta época, as melhores compras - Adam Armstrong e Romain Perraud - foram somente em resposta às saídas de Danny Ings e Bertrand.
    Hasenhüttl é bom treinador (se não fosse ele talvez colocássemos a equipa umas 2 ou 3 posições abaixo) e na defesa Bednarek é de betão, mas a saída de Vestergaard forçará Salisu a dar um passo em frente. Seja mantendo o actual 4-4-2 (na verdade mais um 4-2-2-2) seja regressando aos 3 centrais, e caso os saints queiram recuperar a competitividade de antigamente, é muito importante que sejam rejeitadas todas as abordagens pelo capitão James Ward-Prowse, o melhor cobrador de bolas paradas da Premier League.
    Sem Ings, pedir-se-á mais a Ché Adams, que promete fantástica parceria na frente com Adam Armstrong (29 golos ao serviço do Blackburn na época passada).

Treinador: Ralph Hasenhüttl
Onze-Base (4-4-2): McCarthy; Walker-Peters (Livramento), Bednarek, Salisu, Perraud; S. Armstrong (Walcott), Diallo (Romeu), Ward-Prowse, Redmond (Djenepo); C. Adams, A. Armstrong

Atenção a: Adam Armstrong, James Ward-Prowse, Ché Adams, Romain Perraud, Jan Bednarek

 WOLVES (14)

    Sai Nuno, entra Bruno. Os Wolves, a equipa de emigrantes portugueses na Premier League, continuam com treinador português e reforços portugueses. Tudo parece estar idêntico, mas tudo pode estar também bem diferente.
    Nos 4 anos de Nuno Espírito Santo (novo treinador do Tottenham) no clube, e avaliando em especial os 3 que foram na Premier League, o Wolves cimentou-se enquanto equipa compacta, algo conservadora na sua abordagem, eficaz ao atacar com poucos elementos e usualmente transcendente nos jogos contra os candidatos ao título. A alternância entre 3-4-3 e 3-5-2 marcou a gerência de NES.
    Bruno Lage brilhou no Benfica em 18-19 mas defraudou as expectativas em 19-20. O protagonista de "Dia de Treino" do Canal 11 regressa a Inglaterra, onde já trabalhou como adjunto de Carlos Carvalhal no Sheffield Wednesday e no Swansea, e esperamos ver a sua melhor versão. Com Lage, os 3 centrais não devem ser completamente abandonados mas o 4-4-2 deve surgir muitas vezes.
    Olhando para o plantel, Rui Patrício foi ter com Mourinho a Roma e José Sá (igualmente um jogador Gestifute) foi o escolhido, precisando de provar que não é um downgrade em relação ao titular da baliza da nossa Selecção. É muito bom ver Raúl Jiménez de volta aos relvados, agora com uma protecção na cabeça depois da horrenda lesão que o deixou KO em finais de Novembro de 2020 contra o Arsenal; e com BL diríamos que Pedro Neto e Trincão (emprestado pelo Barcelona) são fortes candidatos a Jogador do Ano do clube. Um desafio: Trincão e Adama Traoré (se ficar) pisam os mesmos terrenos, e pode fazer sentido Lage tentar converter Pedro Nota ou mesmo o musculado Traoré num novo Diogo Jota do ponto de vista de ocupação dos espaços.

Treinador: Bruno Lage
Onze-Base (4-4-2): José Sá; Nélson Semedo, Coady, Boly, Aït-Nouri; Trincão, Rúben Neves, João Moutinho, Pedro Neto; A. Traoré, Jiménez

Atenção a: Pedro Neto, Francisco Trincão, Raúl Jiménez, Rúben Neves, Nélson Semedo 

 BRENTFORD (15)

    Finalmente! O Brentford não fazia parte das contas do 1.º escalão do futebol inglês desde a longínqua época de 46-47, ou seja, pouco depois da II Guerra Mundial. Os bees, recordistas de tentativas falhadas de acesso à Premier através dos play-offs, chegam aonde estava escrito que acabariam por chegar, infelizmente numa fase em que já não contam nas suas fileiras com jogadores como Benrahma, Ollie Watkins ou Maupay.
    O sucesso do Brentford é fruto do método, de muita análise, de uma prospecção de excelência apoiada num Moneyball futebolístico. Rasmus Ankersen, um dinamarquês de 37 anos que divide o seu tempo entre a presidência do Midtjylland e o papel de director de futebol do Brentford (desde 2015), tem sido decisivo no crescimento dos dois clubes, apoiado na sua boa relação com Matthew Benham. Desde 2015 os negócios do outro mundo do Brentford são incontáveis: Maupay por 2 milhões para depois sair por 22, Watkins por 7 milhões para sair por 34, Benrahama por 1,7 milhões para sair por 23, e Ivan Toney assinou no começo da temporada passada por 5 milhões e 600 mil euros. O retorno? 33 golos no Championship, um novo recorde da competição.
    Quando olhamos para o Brentford identificamos o tipo de brilhantismo nos bastidores de clubes como o Leicester, Leeds, Aston Villa ou Brighton. Sob a orientação do arrogante mas carismático Thomas Frank, o Brentford promete ser uma das equipas onde mais jogadores se irão valorizar ao longo de 2021/ 22: aos 25 anos Ivan Toney enfrenta o desafio pelo qual passam vários avançados que brilham nos escalões secundários e desaparecem na Premier, e apostamos que continuará a apresentar números bem interessantes; o norueguês Ajer (Celtic) foi a grande contratação do clube, Yoane Wissa por 10 milhões poderá revelar-se uma "pechincha"; e Frank Onyeka vai-se dar a conhecer, enchendo o campo com a sua capacidade de recuperação e transporte. Mbeumo, Jansson, Canós e Rico Henry têm o perfil certo para não acusar a transição para a Premier.

Treinador: Thomas Frank
Onze-Base (3-5-2): Raya; Ajer, Jansson, Pinnock; Canós, Norgaard, Janelt, Onyeka, R. Henry; Toney, Mbeumo (Wissa)

Atenção a: Ivan Toney, Kristoffer Ajer, Frank Onyeka, Bryan Mbeumo, Rico Henry

 CRYSTAL PALACE (16)

    O Crystal Palace é uma das 4 equipas que mudou de treinador: saiu o veterano Rody Hodgson e chegou Patrick Vieira, lendário médio do Arsenal com um CV curto como treinador (New York City e Nice). A chegada do francês de 45 anos coincide com a intenção de rejuvenescer o plantel, tendo o Palace já contratado o médio ofensivo Michael Olise (19 anos, uma das revelações da II Liga no Reading), o central Marc Guehi (21 anos, boa época no Swansea e toda a formação no Chelsea), chegando ainda por empréstimo Conor Gallagher (21) e melhorando a defesa com o ingresso do dinamarquês Joachim Andersen, um dos destaques do relegado Fulham.
    O balneário poderá sentir a falta de muitos jogadores que marcaram os últimos anos do clube - van Aanholt, Scott Dann, Townsend e Sakho, entre outros - mas as difíceis decisões parecem ir no sentido certo, se bem que foram tomadas todas de uma vez só e não distribuídas no tempo. Continuam em Londres figuras experientes como Guaita, Tomkins, Benteke, McArthur ou Milivojevic, isto numa fase em que Wilfried Zaha já deve estar em paz com a ideia de que o eternamente adiado salto para uma equipa do Top-6 inglês não acontecerá, mais valendo dar tudo pelo seu clube. A irreverência do desconcertante Zaha e o futebol de rua de Eberechi Eze (pode brilhar com outra intensidade neste 2.º ano) podem ser ingredientes-chave para a versão Vieira deste Crystal Palace.

Treinador: Patrick Vieira
Onze-Base (4-3-3): Guaita; J. Ward, J. Andersen, Guehi, Mitchell; Milivojevic (Riedewald), Gallagher, Olise; Eze, Zaha, Benteke (Mateta)

Atenção a: Wilfried Zaha, Eberechi Eze, Michael Olise, Joachim Andersen, Marc Guehi

 BURNLEY (17)

    O mundo vai mudando, aparece uma pandemia e há-de desaparecer, e o Burnley continua basicamente inalterado. Sempre com Sean Dyche (inicia a 10.ª temporada como treinador do clube), os clarets têm repetido até à exaustão a mesma fórmula, mantendo os mesmos jogadores e a mesma ideia de 4-4-2 com muito jogo directo, um bloco baixo e obrigando todas as equipas a sujar os calções quando se deslocam ao Turf Moor.
    É indiscutível que o Burnley tem a sua identidade, e é como um todo uma personagem distinta (clássica, outros dirão ultrapassada, agarrada ao velho futebol inglês) na actual colecção de cromos, mas mais cedo ou mais tarde a falta de reforços e de ambição acabará por condenar o clube ao Championship.
    Prever que o Burnley se safa in extremis é no entanto mais razoável. A equipa continua a ter um dos melhores guardiões da Premier League (Nick Pope) e a dupla Tarkowski-Mee é uma das mais afinadas em Inglaterra, convidando uma eventual e merecida transferência de Tarkowski à aposta em Nathan Collins, que caso contrário talvez até actue como lateral direito; à frente, como tem sido apanágio, Dwight McNeil é um animal diferente neste ecossistema, puxando para si todas as responsabilidades na hora de criar com magia, e entre o trio Chris Wood, Jay Rodriguez e Ashley Barnes, o técnico fará a sua rotação.

Treinador: Sean Dyche
Onze-Base (4-4-2): Pope; Lowton, Tarkowski (Collins), Mee, C. Taylor; Gudmundsson, Westwood, Brownhill (Cork), McNeil; J. Rodriguez, C. Wood

Atenção a: Dwight McNeil, Nick Pope, James Tarkowski, Chris Wood, Jay Rodriguez

 NORWICH (18)

    Há que elogiar a Direcção do Norwich. Os canários venceram o Championship em 2019, no regresso à Premier League acusaram a subida de nível e ficaram em último, mas em 2021 voltaram a ficar em primeiro no Championship. Tudo isto com Daniel Farke no comando, técnico alemão em que o clube confia (renovou recentemente até 2025).
    O Norwich arrasou a concorrência na época passada com 97 pontos. Mas na Premier League o patamar qualitativo de treinadores e jogadores é bem diferente. Mais importante: o melhor jogador do último Championship, o argentino Emiliano Buendía (15 golos e 16 assistências), deixou o Norwich para se juntar ao fantástico projecto do Aston Villa. Deixará saudades em Carrow Road.
    Daniel Farke tem o dom de colocar este Norwich a praticar um futebol positivo e bastante ofensivo, e quem consegue jogar bem estará sempre mais perto de triunfar, mas este elenco parece insuficiente para o desafio que é a Premier. Billy Gilmour, emprestado pelo Chelsea, pode crescer muito este ano e ser um dos candidatos a Jovem do Ano, e o finlandês Pukki (nos últimos 3 anos marcou 30 e 26 golos no Championship, e 11 quando o clube subiu à Premier) será destinatário de cruzamentos e passes nas costas.
    Ben Gibson e Giannoulis foram garantidos em definitivo, Gunn chegou para competir com Krul pela baliza, e além de ser obrigatório segurar os promissores Todd Cantwell (caso saia, Tzolis será obrigado a adaptar-se mais rápido) e Max Aarons, continuam a faltar 1 ou 2 jogadores para deixar os adeptos mais confiantes. O kosovar Milot Rashica e o norte-americano Josh Sargent foram bons reforços, mas não são Buendía, e o que o Norwich ganhou em verticalidade perdeu em visão, temporização e futebol cerebral.

Treinador: Daniel Farke
Onze-Base (4-3-3): Krul; Aarons, Hanley, Gibson, Giannoulis; Gilmour, Rupp, Melou (Dowell); Rashica, Cantwell (Tzolis), Pukki

Atenção a: Billy Gilmour, Todd Cantwell, Temu Pukki, Christos Tzolis, Milot Rashica

 NEWCASTLE (19)

    O Newcastle vinha de 16 épocas consecutivas na Premier League quando enfrentou o inferno de descer ao Championship em 08-09. Neste século, por duas vezes os magpies desceram como 18.º classificados (08-09 e 15-16) e em ambos os casos subiram logo no ano seguinte, sagrando-se campeões do segundo escalão à primeira oportunidade. O fraco investimento e a falta de visão a longo-prazo no clube leva-nos a suspeitar que este ioiô entre a Premier e o Championship poderá acontecer algumas vezes mais nos próximos anos.
    Houve um tempo em que o Newcastle tinha Demba Ba e Papiss Cissé; houve um tempo em que o Newcastle contratava Wijnaldum, Mitrovic e Thauvin no mesmo Verão; mas tudo isso é passado, e desta vez Steve Bruce apenas recebeu como reforço Joe Willock - o grande destaque do clube na recta final de 20-21, quando estava emprestado pelo Arsenal, assinou em definitivo.
    Fiel ao 3-5-2 com que o Newcastle se tem apresentado ultimamente, Bruce poderá retirar bastante mais esta época de Jacob Murphy como ala e é expectável que a equipa continue a viver dos dribles de Saint-Maximin e dos golos de Callum Wilson.
    Os manos Longstaff e o criativo mas irregular Miguel Almirón terão um papel a desempenhar num clube que ainda não conseguiu retirar de Ryan Fraser o aproveitamento que tinha no Bournemouth e que, tendo Joelinton e Dwight Gayle, pode sempre recorrer a um Plano B na hora de eleger a companhia de Wilson.
    O Newcastle pode até não descer. Mas, caso resista, não se deve livrar de um valente susto. Ir buscar um treinador como Eddie Howe a meio da época podia mudar o destino.

Treinador: Steve Bruce
Onze-Base (3-5-2): Dubravka; F. Fernández, Lascelles, Schär; J. Murphy, Longstaff, Hayden, Willock, Ritchie; Saint-Maximin, C. Wilson

Atenção a: Callum Wilson, Joe Willock, Jacob Murphy, Saint-Maximin, Martin Dubravka

 WATFORD (20)

    Desde 2000 o Watford passou 15 temporadas no Championship e 6 na Premier League. O clube gerido pelo italiano Gino Pozzo tem por hábito coleccionar treinadores (nos últimos 7 anos teve 14 treinadores) e, de acordo com a média, a última época fez-se a meias entre Vladimir Ivic e o actual técnico, o espanhol Xisco Muñoz. Vicarage Road volta a ter Premier League ao fim-de-semana depois de ter sido a melhor defesa do Championship, destacando-se o senegalês Ismaïla Sarr como melhor jogador da equipa.
    Honestamente, embora Xisco conte com vários jogadores que sabem bem o que é preciso fazer para sobreviver na Premier League (Deeney, Cleverley, Gosling, Will Hughes, Danny Rose ou Ben Foster), o plantel continua a parecer um "plantel de Championship". Acreditamos que possa ocorrer o que aconteceu em 06-07, época em que o Watford desceu logo após festejar a subida, sendo que uma boa época dos hornets pedirá sempre grandes desempenhos do chileno Francisco Sierralta no centro da defesa, confiando os colegas na ousadia de Sarr (continuará por certo a carregar a equipa às costas) e sendo bastante provável que, numa lógica de 4-4-2, o treinador (ou treinadores, especulando que Xisco não durará até 2022) serão experimentados vários parceiros para Deeney na frente, não faltando nesta altura candidatos - Joshua King, João Pedro, Ashley Fletcher, Emmanuel Dennis, Cucho e Success.

Treinador: Xisco Muñoz
Onze-Base (4-4-2): Bachmann; Kiko Femenía, Sierralta, Troost-Ekong, Rose (Masina); Sarr, Etebo, Cleverley, Sema; Deeney, King (Fletcher, João Pedro)

Atenção a: Ismaïla Sarr, Francisco Sierralta, Troy Deeney, Kiko Femenía, João Pedro




por Miguel Pontares e Tiago Moreira

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