7 de fevereiro de 2020

Previsões Vencedores Óscares 2020

Está quase. Na madrugada (portuguesa) de domingo para segunda-feira, Hollywood veste-se de dourado e o mundo pára para assistir a um conjunto de problemas de primeiro mundo: quem vai conquistar cada uma das 24 categorias da 92.ª edição dos Óscares da Academia?
    Novamente sem um anfitrião clássico, a cerimónia fará passar pelo palco para apresentar nomeados e entregar estatuetas Diane Keaton, Gal Gadot, Keanu Reeves, Will Ferrell, Kristen Wiig, Salma Hayek, Tom Hanks, Chris Rock ou os últimos 4 vencedores das categorias de interpretação (Rami Malek, Olivia Colman, Mahershala Ali e Regina King). As 5 canções nomeadas terão também os seus intérpretes originais a dar voz (Elton John, Cynthia Erivo, Idina Menzel/ Aurora, Chrissy Metz e Randy Newman), estando ainda anunciadas actuações de Janelle Monáe e Bille Eilish, uma das quais provavelmente no momento in memoriam.
    Joker parte na frente como filme mais nomeado (11 nomeações), seguido de perto por 1917The Irishman e Once Upon a Time in Hollywood (10). Se há um ano atrás Roma representou uma mudança de paradigma com a Netflix a conseguir finalmente ser levada a sério pela Academia, a 92.ª edição deve ser vista como uma confirmação - 2 dos 9 nomeados para melhor filme são produções Netflix.

    O épico de guerra em plano-sequência de Sam Mendes parte como favorito, mas é inequívoca a sucessiva quebra de horizontes do sul-coreano Parasite. O vencedor da Palma de Ouro em Cannes com voto unânime tem-se tornado o "primeiro de sempre" em muita coisa ao longo da época de prémios: nunca antes um filme sul-coreano tinha sido nomeado para qualquer categoria dos óscares (Parasite compete em 6), tornou-se não só o segundo filme estrangeiro a ser nomeado para melhor elenco pelo sindicato dos actores - o anterior fora o italiano La vita è bella, em 1997 - como o primeiro a arrecadar essa categoria. É o filme favorito da crítica e uma das potenciais surpresas agradáveis numa noite em que também 1917Once Upon a Time in Hollywood e Joker devem fazer boa figura, subindo todos ao palco em mais do que uma ocasião.
    A tendência recente da Academia dividir o bem pelas aldeias - nos últimos 5 anos o máximo que assistimos foi um filme vencer 6 categorias - deve continuar, e quando analisados os "sinais" dados pelo circuito alguns consensos começam a ganhar forma. 1917 foi o grande vencedor dos Globos e dos BAFTA, vencendo ainda nos PGA (Producers Guild Awards), os Writers Guild Awards premiaram Parasite e Jojo Rabbit, Sam Mendes (distinguido pelos seus pares nos DGA) tem-se fartado de acumular prémios, e em quase todas as ocasiões têm sido os mesmos quatro actores a vencer, num constante apelo à criatividade para produzir novos discursos. No entanto, um pormenor, entre as duas actrizes e os dois actores expectáveis vencedores, o óscar só será uma repetição para um elemento do quarteto.

    Em breve publicaremos os nossos Óscares Barba Por Fazer 2020, uma cerimónia digital da qual nunca abdicamos e que normalmente se afasta um pouco dos nomeados e vencedores da Academia. Por agora, estas são as nossas previsões para a realidade:

Melhor Filme: 1917 | Parasite (Once Upon a Time in Hollywood)
Melhor Realizador: Sam Mendes
Melhor Actor: Joaquin Phoenix
Melhor Actriz: Renée Zellweger
Melhor Actor Secundário: Brad Pitt
Melhor Actriz Secundária: Laura Dern
Melhor Argumento Original: Parasite (Once Upon a Time in Hollywood)
Melhor Argumento Adaptado: Jojo Rabbit
Melhor Design de Produção: Once Upon a Time in Hollywood
Melhor Fotografia: 1917
Melhor Guarda-Roupa: Little Women
Melhor Edição/ Montagem: Parasite | Ford v Ferrari
Melhor Caracterização: Bombshell
Melhor Banda Sonora: Joker
Melhor Mixagem de Som: 1917 | Ford v Ferrari
Melhor Edição/ Montagem de Som: 1917 | Ford v Ferrari
Melhores Efeitos Visuais: 1917 (The Lion King, Avengers: Endgame)
Melhor Música: "I'm Gonna Love Me Again", Rocketman
Melhor Filme de Animação: Klaus (Toy Story 4)
Melhor Filme Estrangeiro: Parasite
Melhor Documentário: American Factory
Melhor Curta-Metragem: The Neighbor's Window (Brotherhood)
Melhor Documentário (Curta): Learning to Skateboard in a War Zone
Melhor Curta de Animação: Hair Love (Kitbull)

Conclusões finais:

    Nada na vida é certo, mas se Parasite não vencer melhor filme estrangeiro podem pegar em nós e atirar-nos em movimento da Ponte 25 de Abril abaixo. Bem, vamos lá assumir uma postura séria de acordo com a ocasião.
    Há uns meses atrás tínhamos a desconfiança que Adam Driver poderia estragar uma eventual noite de glória de Phoenix, mas nesta fase as categorias de interpretação parecem certezas - Joaquin Phoenix, Renée Zellweger, Brad Pitt e Laura Dern têm ganho tudo. É difícil imaginar algo que fuja ao guião esperado, podendo ser este o 1.º óscar para Phoenix (quarta nomeação), Brad Pitt (quarta nomeação como actor; já ganhou mas na qualidade de produtor) e Laura Dern (3.ª nomeação). A nossa principal curiosidade vai para o discurso do actor que deu corpo e alma a Joker, que deve fugir ao politicamente correcto e quiçá mencionar o seu irmão River.
    Temos (como sempre) algumas dúvidas nas curtas-metragens, embora um documentário intitulado Learning to Skateboard in a War Zone (If You're a Girl) pareça um vencedor à nascença só pelo nome.
    A vitória de Joker na banda sonora (mérito da islandesa Hildur Guðnadóttir, igualmente compositora da série Chernobyl), Roger Deakins na Fotografia (irónico que depois de 13 nomeações sem vencer, Deakins, que ganhou com Blade Runner 2049 possa conquistar 2 óscares em 3 anos), Bombshell na caracterização e Rocketman (Elton John) na canção original parecem apostas seguras, embora no último caso a "Stand Up" de Cynthia Erivo seja um tema bem mais épico. Sam Mendes terá o discurso bem ensaiado - uma vitória de Bong Joon-Ho não é impossível mas seria um dos choques da noite -, e na animação espera-se duelo entre o vencedor do Annie, Klaus, e algo familiar como Toy Story 4.
    Os Writers Guild Awards distinguiram Jojo Rabbit como argumento adaptado e Parasite como argumento original mas o "factor Tarantino" pode baralhar as contas. Por mais que Parasite mereça, parece-nos que muitos votos podem revelar incapacidade de fugir à associação Tarantino - Argumento original. Finalmente a nível técnico há pequenas questões a ter em conta: nas duas categorias de som 1917 e Ford v Ferrari apresentam fortes argumentos; nos efeitos visuais veremos se pesam mais os efeitos práticos de 1917 ou a inovação tecnológica de coisas como The Lion KingThe Irishman e Avengers: Endgame; e no Design de Produção (categoria modesta que até pode servir para ajudar a desempatar quando avaliado o todo) não descartamos 1917 Parasite mas cheira-nos que Once Upon a Time in Hollywood sorrirá. Por fim, dia 9 saberemos se a Academia privilegia a edição subtil de Parasite ou mais descarada de Ford v Ferrari (ambos transmitem diferentes noções de ritmo, uma das palavras mais importantes para quem avalia a montagem, embora há um ano atrás tenha ganho Bohemian Rhapsody, um dos filmes com pior edição desse ano).

    Ao longo da noite, todos os caminhos irão dar à categoria de Melhor Filme. 1917 é o efectivo favorito, mas não nos sai da cabeça a possibilidade de Parasite surpreender; mesmo Once Upon a Time in Hollywood e, no limite Jojo Rabbit, têm uma palavra a dizer.
    Em suma, 1917 deve ser o filme mais galardoado nesta 92.ª edição (2020), podendo acumular algo entre 3 e 7 óscares. Melhor taxa de óscares por nomeação pode ter Parasite, um filme de qualidade consensual que pode servir de bandeira de uma Hollywood que se quer mais inclusiva.


Boas apostas e boas pipocas.
Miguel Pontares e Tiago Moreira

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