23 de fevereiro de 2019

Previsões Vencedores Óscares 2019

É amanhã. Madrugada fora em Portugal, a Academia revelará aqueles que irão colocar o seu nome a dourado na História do Cinema, sendo distinguidos os melhores do ano na 7ª Arte através de 24 categorias. 
    Los Angeles recebe a 91ª edição dos Óscares, uma edição em que tudo indica se fará história a vários níveis, embora igualmente demonstrativa de que Hollywood cada vez mais ignora a justiça artística e o mérito em prol do consenso de não ofender ninguém, do politicamente correcto, da mensagem social e das "campanhas" dos grandes estúdios.
    Numa edição em que quase houve muita coisa, o anfitrião esteve para ser Kevin Hart, mas o comediante acabou por renunciar ao cargo depois de terem sido denunciados comentários homofóbicos seus no Twitter entre 2009 e 2011. Conclusão: não haverá anfitirão, algo que não se verificava desde 1989. Nesta edição, também quase foram atirados para os intervalos publicitários os anúncios de algumas categorias: Fotografia, Montagem, Caracterização e Curta-metragem. Numa carta aberta, nomes de peso do sector como Scorsese, Tarantino, Nolan ou De Niro vincaram o seu desagrado e a medida deixou de ter efeito. E ainda bem. No ano do "Quase", também a 25ª categoria de Melhor Filme Popular chegou a ser anunciada; porém, a sua implementação foi adiada, podendo mesmo nunca chegar a ver a luz do dia. Em boa verdade, a acrescentar novas categorias, há prioridades (melhor coordenação de duplos, melhor 1º filme, revelação do ano, melhor voice acting, melhor director de casting e melhor elenco).

    Para compensar a ausência de um anfitrião clássico, maior importância na condução da cerimónia terão os já habituais apresentadores pontuais. Pelo palco passarão por exemplo Charlize Theron, Daniel Craig, Emilia Clarke, Whoopi Goldberg, Samuel L. Jackson, Michael Keaton, Helen Mirren, Sam Rockwell, Frances McDormand, Allison Janney e Gary Oldman.
    Quanto aos nomeados, Roma The Favourite lideram a corrida com 10 nomeações cada. Perto ficou A Star is Born e Vice (8), com Black Panther (7) e BlacKkKlansman (6) ligeiramente abaixo. O filme de Alfonso Cuarón representa por si só uma mudança de paradigma, com a Academia a abrir finalmente a porta de sua casa para a Netflix. O filme mexicano promete ser um dos vencedores da noite (pela importância das estatuetas que pode receber, não pelo número), tendo já coleccionado vários recordes: igualou O Tigre e o Dragão como filme estrangeiro com mais nomeações de sempre, tornou-se apenas o 11º filme estrangeiro a ser nomeado também para a categoria máxima, e permitiu ao canivete suiço Cuarón destacar-se por estar nomeado como realizador, produtor, director de fotografia e argumentista. Ele que é assim a primeira pessoa a receber, no mesmo ano e pelo mesmo filme, nomeações nas categorias de Melhor Realização e Melhor Fotografia. Em ambas é favorito.

    Ao contrário de outros anos, os "sinais" dados pelo circuito de prémios dos vários sindicatos baralharam bastante as contas. Green Book venceu nos PGA (Producers Guild Awards), frequentemente o sindicato que apresenta maior correlação com os vencedores do óscar de melhor filme, Black Panther festejou o prémio mais importante nos SAG, e Roma permitiu a Cuarón vencer entre os realizadores. Destaque ainda para os Writers Guild Awards que premiaram Eighth Grade (original) e Can You Ever Forgive Me? (adaptado), devendo-se atentar o pormenor do argumento de Bo Burnham não estar (injustamente, diga-se) a competir ao óscar.
    A tudo isto há ainda a acrescentar uma cerimónia dos BAFTA que entregou 7 distinções a The Favourite (o factor casa terá ajudado, também) e apenas 4 a Roma, embora uma das quatro tenha sido Melhor Filme.

    Parece-nos que a lógica será a Academia dividir o bem pelas aldeias, mas tudo indica que RomaBlack Panther Bohemian Rhapsody devem ter motivos para subir ao palco em mais do que uma ocasião, surgindo Green Book (se juntar Melhor Filme e Melhor Arg. Original ao óscar que deve ir parar às mãos do secundário Ali) ou The Favourite (se a Academia privilegiar Colman e Weisz a Close e King, rendendo-se também do ponto de vista técnico ao filme de Lanthimos no duelo com Black Panther) como os potenciais "agitadores". 

    Amanhã poderão ver os nossos Óscares Barba Por Fazer 2019, uma cerimónia digital da qual nunca abdicamos e que normalmente se afasta bastante dos nomeados e vencedores da Academia. Mas por agora, estas são as nossas previsões para a realidade:

Melhor Filme: Roma (Green Book)
Melhor Realizador: Alfonso Cuarón
Melhor Actor: Rami Malek
Melhor Actriz: Glenn Close (Olivia Colman)
Melhor Actor Secundário: Mahershala Ali
Melhor Actriz Secundária: Regina King | Rachel Weisz
Melhor Argumento Original: The Favourite (Green Book)
Melhor Argumento Adaptado: BlacKkKlansman
Melhor Design de Produção: Black Panther | The Favourite
Melhor Fotografia: Roma
Melhor Guarda-Roupa: Black Panther | The Favourite
Melhor Edição/ Montagem: Vice | Bohemian Rhapsody
Melhor Caracterização: Vice
Melhor Banda Sonora: If Beale Street Could Talk
Melhor Mixagem de Som: Bohemian Rhapsody
Melhor Edição/ Montagem de Som: Bohemian Rhapsody (First Man, A Quiet Place)
Melhores Efeitos Visuais: Avengers: Infinity War
Melhor Música: "Shallow", A Star is Born
Melhor Filme de Animação: Spider-Man: Into the Spider-Verse
Melhor Filme Estrangeiro: Roma
Melhor Documentário: Free Solo (RBG)
Melhor Curta-Metragem: Marguerite
Melhor Documentário (Curta): Period. End of Sentence | End Game
Melhor Curta de Animação: Bao (Weekends)


Conclusões finais:

    Se "Shallow" não vencer Melhor Canção, podem decapitar-nos. A música interpretada por Lady Gaga e Bradley Cooper, que entretanto já todos ouvimos 70 mil vezes, será porventura o vencedor mais certo da noite. Mas adiante.
    No subconsciente dos membros da Academia nesta fase estão três preocupações: o muro que Trump pretende construir na fronteira com o México, o empowerment feminino e a maior representatividade das minorias. Na dúvida, estes três factores podem pesar.
    Ora bem, Roma é a nossa aposta para Melhor Filme. O filme a preto e branco em que Cuarón abriu o seu coração e nos fotografou o seu passado, fazendo uma homenagem às mulheres da sua vida, parece colocar o visto em todas as caixinhas. Só Green Book (filme simpático, pode ser favorecido pelo sistema de voto) pode fazer tremer o marco histórico da Netflix, sem excluir por completo uma surpresa chamada Black Panther. Se chegou até aqui, porque não continuar a chocar?
    Nas 4 categorias de interpretação, Rami Malek e Mahershala Ali parecem-nos apostas seguras. Temos depois dúvidas entre Glenn Close e Olivia Colman (pessoalmente, achámos Colman absurdamente superior, mas o tipo de personagem e o facto de nunca ter ganho nas 6 ocasiões anteriores em que esteve nomeada deve beneficiar a actriz de The Wife). Posto isto, a nossa maior dúvida é mesmo entre Regina King e Rachel Weisz. Mas talvez a actriz britânica possa ficar prejudicada se os amantes de The Favourite dividirem os votos entre ela e Emma Stone.
    BlacKkKlansman deve atribuir a Spike Lee o 1º óscar (sem contar com o honorário) da sua carreira, podendo ainda assim Can You Ever Forgive Me? manter legítimas esperanças nesta altura, surgindo mais pontos de interrogação no argumento original: atiramos o nome de The Favourite em primeiro lugar, mas por exemplo se Green Book vencer Melhor Filme, será sinal que antes disso venceu também nesta categoria.
    Nas categorias técnicas, só Cold War pode ameaçar a Fotografia de Roma no duelo dos filmes estrangeiros a preto e branco; Black Panther e The Favourite medem forças em várias categorias, podendo esta fase da cerimónia permitir a Bohemian Rhapsody e Vice amealharem motivos para sorrir. Seria muitíssimo estranho Roma não ganhar Melhor Filme Estrangeiro, Spider-Man: Into the Spider-Verse deve "limpar" (e bem) a categoria de Melhor Filme de Animação, sendo RBG (o retrato de Ruth Bader Ginsburg, figura do sistema judicial norte-americano) a única razão para fazer palpitar de nervoso o coração dos criadores do colossal documentário Free Solo.

    A banda sonora de Nicholas Brittel para If Beale Street Could Talk é a mais elegante da amostra, mas não estamos assim tão certos da sua vitória, Avengers: Infinity War deve vencer pelos efeitos a não ser que a Academia atribua grande peso aos efeitos práticos de First Man, ou até a Ready Player One; e nas curtas, MargueriteEnd Game e Bao são os favoritos, mas temos um feeling (ou então estamos só a deixar-nos influenciar pelo gosto pessoal) que Weekends pode sorrir na curta de animação.


Boas apostas e boas pipocas.
Miguel Pontares e Tiago Moreira

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