15 de julho de 2017

Assunto: Pentacampeão?

Quatro vezes campeão nacional. Haja mais bruxos ou menos bruxos, dentro das quatro linhas o Benfica, dois anos entregue a Jorge Jesus e dois anos entregue a Rui Vitória, tem provado ser a melhor equipa em Portugal.
    Os encarnados conseguiram em 2016/ 17 um tetracampeonato nunca antes conquistado, e 2017/ 18 marca por isso novo desafio: alcançar o "penta", algo que só o Porto conseguiu (por uma vez) na História do futebol português.
    De gola abotoada nos novos equipamentos, as águias vivem um período de estabilidade. É mais fácil trabalhar quando se ganha, é mais fácil integrar novos jogadores quando se ganha, e é mais fácil lançar novos valores quando se ganha.
    Tal como nos últimos anos, damos hoje início no Barba Por Fazer à nossa construção especulativa dos plantéis dos 3 grandes na nova temporada. Estes plantéis visam ser um ponto de equilíbrio entre o que achamos provável acontecer neste defeso, e as medidas (ou contratações) que sugeríamos para que cada clube atinja os objectivos a que se propõe. Os plantéis que aqui verão serão - uns mais do que outros - ficcionais, fruto da nossa imaginação, mas construídos com base nos anos de futebol que já levamos, conhecendo as equipas e os seus perfis de contratação/ prospecção tidos em conta na hora de tomar decisões.
    No Benfica, já saíram Ederson, Victor Lindelöf e Nélson Semedo. Há vários jogadores com situação indefinida (casos de Grimaldo, Samaris, Eliseu, Mitroglou e Jiménez), mas na sua maioria das situações o Benfica parece já ter acauteladas as suas perdas com reforços que já moravam no Seixal. É um dado adquirido que Rui Vitória vai ser obrigado a reinventar a sua defesa, órfã de um guarda-redes e de um defesa central que podem muito bem marcar a próxima década no futebol europeu, e de uma locomotiva que se vai passar a divertir em campo ao lado de Messi e Iniesta.
    A pré-época do Benfica ajudará RV a decidir várias coisas, parecendo-nos fundamental preservar a ligação Pizzi-Jonas, e começar a cozinhar uma variante táctica em termos de modelo, para que o Benfica comece a preparar o pós-Jonas, num esquema que permita encaixar os principais talentos da formação.


O Plantel

Guarda-Redes: Júlio César, Predrag Rajković (Maccabi Tel Aviv), Bruno Varela (Vit. Setúbal)

    Mais um ano em que o clube da Luz vê um dos seus guardiões bebés partir. Ederson - o melhor Guarda-Redes da Liga NOS 2016/17 - sai da equipa de Rui Vitória para ser orientado por Pep Guardiola no Manchester City. A lógica diz que este ano, salvo algo anormal, a baliza voltará a ser protegida pelo imperador Júlio César. LFV já resgatou Bruno Varela após boa época no V. Setúbal, mas deve ser gerido como Ederson, debaixo da asa da águia. Para fechar a baliza, apontamos para um guardião promissor e não muito dispendioso. Predrag Rajković, jogador dos quadros do Maccabi Tel Aviv, tem sido apontado como um dos guarda-redes mais promissores mundialmente, muito à imagem do que havia sido Jan Oblak. Gorado o negócio André Moreira, o sérvio desperdiçado no futebol israelita seria a nossa prioridade para garantir a sucessão de Júlio César a médio-prazo.

Defesas: Pedro Pereira, André Almeida; Jardel, Lisandro López, Jardel, Rúben Dias, Branimir Kalaica; Aléx Grimaldo, Ailton (Estoril)

    Esta é talvez a zona mais sensível do clube encarnado, e a pré-época servirá para perceber se as posições de lateral-direito e central precisam ou não de reforços. Nélson Semedo e Lindelöf seguiram para os tubarões Barcelona e Manchester United mas, ao que tudo indica, o clube encarnado vai resolver estes dois "problemas" com a prata da casa. Algo que leva os adeptos a colocar a mão na cabeça. No entanto, se olharmos para trás, estes dois titulares que agora foram vendidos têm carimbo made in Seixal e na altura também se duvidou da sua qualidade para envergar a camisola das águias. Assim sendo, nas próximas semanas veremos se há ou não motivos para alarme. A mentalidade de campeão não se perdeu na Luz, mas pode haver necessidade de ir ao mercado. É necessário trabalho, mas toda a estrutura técnica certificar-se-á de desenvolver os jogadores até atingirem todo o seu potencial.
    Na direita, André Almeida partirá na frente enquanto que o repescado Pedro Pereira terá que fazer pela vida para roubar o lugar ao tetra-campeão. No centro do terreno, Luisão fará o seu último ano como jogador e Jardel parece estar de volta. A melhor notícia deste sector. Lisandro subiu um lugar na hierarquia de centrais, enquanto que Rúben Dias e Kalaica lutarão para integrar a equipa principal. No entanto, admitimos que uma dupla Rúben Dias-Jardel tem boa pinta. No lado esquerdo, Grimaldo será o titular absoluto (os adeptos do clube da Luz bem podem agradecer a sua lesão, caso contrário sairia de certeza). Embora o mais provável é que o plano B continue a ser Eliseu (e o lateral tem cumprido quando chamado), nós apostaríamos em Ailton como alternativa. As negociações parecem estar paradas, mas acreditamos que era uma mais-valia e uma agradável surpresa para o clube encarnado.

Médios: Ljubomir Fejsa, Pedro Rodrigues, Pizzi, André Horta, João Carvalho, Filip Krovinović (Rio Ave)

    Quem tem medo, compra um cão. Quem quer ser campeão, compra um Fejsa. O trinco sérvio do Benfica é um jogador sem igual e, caso esteja disponível durante pelo menos 80% da época, será muito complicado os rivais roubarem o título ao Benfica. Aos 28 anos, Fejsa ainda pode servir o Benfica durante algum tempo, mas não é a Samaris ou Filipe Augusto (jogadores que, no nosso entender, devem ser vendidos) que deveria estar entregue a missão de poupar o sérvio. Pedro "Pêpê" Rodrigues demonstrou ao serviço do Benfica B que está mais do que pronto para dar o salto para a equipa principal, oferecendo à posição 6 valências diferentes. Da formação, Florentino é o jogador mais parecido com Fejsa, mas é Pêpê que vemos ter já capacidade para cumprir bastantes minutos na nova época.
    É indiscutível que o 4-4-2 do Benfica pede um box-to-box como Enzo Pérez ou Renato Sanches (Gedson Fernandes é o jogador nos quadros dos encarnados mais próximo desse perfil), mas é também indiscutível que Pizzi foi o Melhor Jogador do último campeonato. Justamente distinguido, aliás, pela Liga. Mediante o máximo rendimento em terrenos interiores, Rui Vitória não deverá abdicar do seu maestro a 8, e essa é uma opção que apoiamos. No entanto, se em muitos jogos da Liga NOS Pizzi pode continuar a jogar num meio-campo a dois, esperamos ver em 2017/ 18 um Benfica a surgir em campo com 3 médios, podendo Pizzi ser o médio de ligação ou o jogador mais adiantado. Praticamente esquecido no final da época, fazemos votos para que André Horta volte a ser frequentemente utilizado pelo treinador, podendo ser um dos jogadores a beneficiar mais com a passagem para um 4-2-3-1 ou 4-3-3.
    Esta nova solução poderá abrir espaço para uma maior competitividade no sector intermédio, e João Carvalho terá uma palavra a dizer na pré-época. O criativo, que marcou um golo importantíssimo no último campeonato ao serviço do Vit. Setúbal, tem técnica e classe para dar e vender, mas precisa de mostrar que consegue ser regular e estar sempre presente e vivo no jogo. Quem não duvidamos minimamente que conseguirá ser tudo isso é o reforço Filip Krovinović. O croata ex-Rio Ave tem o que é preciso para deliciar o Estádio da Luz. Acreditem, vai crescer muito e surpreender de águia ao peito.

Extremos: Andrija Živković, Diogo Gonçalves, André Carrillo, Rafa, Franco Cervi

    Sabemos que é bastante provável que Salvio continue no plantel, mas à imagem da gestão do dossier Samaris, vemos o argentino como um activo transferível. Rui Vitória adora-o, mas a conjugação de 2 factores (oferecer soluções limitadas ao ataque e o facto de estar a "tapar" a evolução de outros elementos) leva-nos a priorizar outros craques.
    Por diversas razões, os extremos do Benfica desiludiram em 2016/ 17. Cervi terá sido o mais competente, mas nem ele esteve particularmente incrível. No entanto, 2017/ 18 tem tudo para ser o ano de Zivkovic e Rafa. É a eles que o Benfica deveria entregar a direita e a esquerda, respectivamente. No fundo, são quase reforços.
    Depois, há ainda Carrillo e Cervi e, da equipa B, Diogo Gonçalves merece fazer parte dos quadros sendo um jogador objectivo, goleador, e que pode também jogar como segundo avançado. Em suma, Diogo Gonçalves junta-se a 4 extremos que esperamos que se exibam todos a um nível superior à época anterior.

Avançados: Jonas, Raúl Jiménez, Haris Seferović (Eintracht Frankfurt)

    O ataque está bem composto. Contudo, com maior quantidade/qualidade no meio-campo, é provável que um dos avançados saia até ao fecho do mercado. Jonas é a estrela da equipa e a saída, a ser consumada, será de Raúl ou Mitroglou. Com a pouca sorte de Raúl no que toca a lesões (indispensável, ainda assim, para a consagração do tetra), quem terá mais procura no mercado será o grego. A entrada de Seferovic convida a que um dos dois saia (o próprio estilo de jogo do suíço é mais parecido ao grego, embora seja quase um híbrido entre ambos) e se Vieira quer rebentar o recorde de vendas com Jiménez, esta não é a altura ideal para a sua venda. Raúl ainda não explodiu de águia ao peito. Com estes 3 os encarnados podem estar mais do que tranquilos no que a golos diz respeito. Seferovic já fez o gosto ao pé no primeiro teste da pré-época e mostrou bons apontamentos.


O que muda? Sem Ederson, Lindelöf e Nélson Semedo, terá que mudar a defesa. De Ederson-Semedo-Luisão-Lindelöf-Grimaldo, os campeões nacionais passarão em teoria para Júlio César-A.Almeida-Luisão-Jardel-Grimaldo. O guardião veterano leva vantagem sobre a concorrência, na direita o faz-tudo André Almeida só não será titular se Pedro Pereira subir muito o seu nível actual, e no centro da defesa o regresso da dupla Luisão-Jardel é um cenário que vemos com bons olhos. Para nós, sem Lindelöf, Jardel é o central nº 1 deste Benfica, esteja ele em condições físicas. Luisão (bem melhor na segunda metade de 2016/ 17 do que na primeira, na qual esteve mal) é o capitão, mas veremos que impacto tem a sua lesão nas contas desta pré-época.
    De resto, o Benfica deverá continuar muito dependente das suas (valiosas) individualidades, sendo Rui Vitória um técnico que dá bastante liberdade no processo ofensivo, notando-se bastante mais "dedo" do treinador na defesa do que no ataque, e um excelente líder de homens, contagiando o balneário com a sua tranquilidade e confiança.
    Como já dissemos, é obrigatório que o Benfica comece a trabalhar uma alternativa ao estanque 4-4-2. A passagem para um 4-3-3 ou 4-2-3-1 pode estar no horizonte, que permita no futuro integrar talentos como Florentino, Gedson, João Félix ou Tiago Dantas e mais cedo do que isso Pêpê, João Carvalho e Krovinović. Jonas já tem 33 anos, e importa por isso identificar soluções para que as águias não sofram tanto quando o craque brasileiro disser adeus.
    Para além dos cinco projectos que destacamos no capítulo abaixo A Formação, temos particular curiosidade para ver como Heriberto aproveitará a oportunidade de se mostrar na pré-época, fase essencial também para perceber o que podem dar Chrien, Arango e Willock


A Formação: Respeitando a lógica de minutos disputados pela equipa B vigente no Seixal, Pêpê, Diogo Gonçalves e Rúben Dias estão preparados para 1) integrar o plantel ou 2) "rodarem" na I Liga. No entanto, acreditamos que os três agarrem a oportunidade na equipa principal, podendo essa política de empréstimos beneficiar por exemplo Heriberto, Ferro ou Guga (não tivesse este tanto azar com as lesões).
    João Carvalho e Kalaica também podem fazer parte deste Benfica versão 2017/ 18, surgindo o central croata em competição com Rúben Dias por uma vaga. O português é nesta fase mais jogador, mas caso nenhum sobressaia na pré-temporada, estamos convencidos que Rúben Dias aproveitaria melhor um empréstimo do que Kalaica.
   De olhos postos no futuro, Hélder deverá ter no Benfica B um esqueleto com 5 jogadores-chave - Florentino e Gedson no miolo, jogadores que não tarda nada estão a dar o salto, João Félix (um dez que tem agora à sua frente Krovinovic e João Carvalho), o sempre imprevisível Jota e o matador Zé Gomes. Menção especial para o goleador: Zé Gomes desiludiu em 2016/ 17, mas aos 18 anos o que o avançado encarnado mais precisa é aceitar que o seu patamar neste momento é a equipa B, provando com muitos golos na II Liga que merece ser promovido.
    Deixemos pois crescer outros talentos como Úmaro Embaló, Tiago Dantas, Pedro Álvaro, Nuno Cunha e Filipe Soares. A atenção à concorrência pode compensar a médio-prazo - Alex Pinto foi resgatado ao Vit. Guimarães, e o juvenil Tiago Gouveia roubado ao rival Sporting.

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