Criado por
Noah Hawley
Elenco
Dan Stevens, Rachel Keller, Aubrey Plaza, Bill Irwin, Jean Smart, Amber Midthunder, Jeremie Harris, Katie Aselton, Mackenzie Gray, Jemaine Clement, Hamish Linklater
Canal: FX
Classificação IMDb: 8.7 | Metascore: 82 | RottenTomatoes: 90%
Classificação Barba Por Fazer: 86
- Abaixo podem encontrar Spoilers -
A História:
Fazer algo novo. Ousar arriscar. Apresentar algo diferente, um puzzle nunca antes visto, feito com as mesmas peças de sempre. Escrever para televisão e cinema deveria ser isso. E é, quando falamos de alguém especial como Noah Hawley. O homem-que-não-deve-dormir reinventou Fargo com duas temporadas geniais, e prepara-se para nos apresentar o riquíssimo mundo de Kurt Vonnegut com Cat's Cradle. Pelo meio, e com o FX a agradecer tudo isto (merece o elogio o canal de Atlanta e The Americans, que confia e dá similar liberdade criativa a Ryan Murphy), nasceu Legion, uma das séries mais revolucionárias - na utilização dos vários elementos com que se contam uma história - dos últimos anos.
Como escrevemos há dias quando fizemos a crítica a Logan, a vida corre bem à Marvel. A despedida de Hugh Jackman como Wolverine foi um exemplo a seguir no Cinema do género, uma vez que na televisão a alta fasquia foi estabelecida quando estreou Daredevil. As séries Marvel-Netflix seguiram-se, com Jessica Jones, Luke Cage e Iron Fist (só Jessica conseguiu estar ao nível do primeiro defender), e de repente surge Legion, uma espécie de super-herói ovelha negra, numa amálgama difícil de descrever, diferente de tudo o que já se fez em séries de heróis, fortíssima do ponto de vista estético, com tanto de surreal como de inteligente e magnético.
A premissa: David Haller (Dan Stevens), diagnosticado como esquizofrénico e institucionalizado, começa a questionar-se se as vozes que ouve e as visões que tem não serão realmente reais, e se ele não será mais do que um simples humano. Com David a ser ajudado por vários mutantes, no abrigo que é Summerland, e perseguido pela Divisão 3, durante 8 episódios Noah Hawley leva-nos numa viagem psicadélica ao interior de uma mente perturbada e assombrada, cheia de armadilhas auto-impostas. Tudo isto guarnecido com uma banda sonora absolutamente perfeita de Jeff Russo (responsável também pela música de Fargo e The Night Of), numa trip de alucinógenos que nos mantém sempre numa ambiência de sonoridades ao estilo de Pink Floyd.
O brilhantismo de Legion está na forma como Noah Hawley nos faz entrar na cabeça de David Haller - há, por isso, algumas semelhanças com Mr. Robot pela fina fronteira entre o que é real e o que é alucinação; embora se distancie com um cunho próprio e muita originalidade -, conseguindo no final desta 1.ª temporada o feito de refazer o novelo depois de o desenrolar sem parar, ficando a dada altura a sensação que tanta complicação e tantos "níveis" (sim, Legion também tem o seu quê de Inception) não teriam um retrocesso ou salvação simples. Mas tiveram, porque Hawley sabe o que faz, sempre com um bom gosto incrível.
Um lote relativamente pequeno mas rico e peculiar de personagens secundárias enriquece o universo deste mutante esquizofrénico, com a série a flutuar constantemente em termos de género (mescla ficção científica com drama com comédia com terror psicológico) e fugindo por isso aos padrões tradicionais do que estamos habituados nas conversões de banda desenhada para televisão ou cinema. Tudo muda na vida de David quando conhece Syd Barrett (mais uma referência a Pink Flyod, numa personagem entregue a Rachel Keller), num boy-meets-girl versão mutant-meets-mutant, e a partir daí desencadeia-se toda a série, com David a tentar garantir controlo sobre si próprio, procurando perceber se está doente, se é sobre-humano, ou ambos.
Cheia de detalhes, inteligente e diferente de tudo o resto, Legion podia ser um patinho feio mas é um cisne. Com bons realizadores (Michael Uppendahl já merece outra notoriedade) a executarem a visão de um brilhante pensador (Hawley), a produção de Legion acertou em cheio nos actores escolhidos e acreditou que era possível fazer a série - do homem que, se não se perdesse em si próprio, poderia ser um Deus - voar sobre um ninho de cucos.
Como escrevemos há dias quando fizemos a crítica a Logan, a vida corre bem à Marvel. A despedida de Hugh Jackman como Wolverine foi um exemplo a seguir no Cinema do género, uma vez que na televisão a alta fasquia foi estabelecida quando estreou Daredevil. As séries Marvel-Netflix seguiram-se, com Jessica Jones, Luke Cage e Iron Fist (só Jessica conseguiu estar ao nível do primeiro defender), e de repente surge Legion, uma espécie de super-herói ovelha negra, numa amálgama difícil de descrever, diferente de tudo o que já se fez em séries de heróis, fortíssima do ponto de vista estético, com tanto de surreal como de inteligente e magnético.
A premissa: David Haller (Dan Stevens), diagnosticado como esquizofrénico e institucionalizado, começa a questionar-se se as vozes que ouve e as visões que tem não serão realmente reais, e se ele não será mais do que um simples humano. Com David a ser ajudado por vários mutantes, no abrigo que é Summerland, e perseguido pela Divisão 3, durante 8 episódios Noah Hawley leva-nos numa viagem psicadélica ao interior de uma mente perturbada e assombrada, cheia de armadilhas auto-impostas. Tudo isto guarnecido com uma banda sonora absolutamente perfeita de Jeff Russo (responsável também pela música de Fargo e The Night Of), numa trip de alucinógenos que nos mantém sempre numa ambiência de sonoridades ao estilo de Pink Floyd.
O brilhantismo de Legion está na forma como Noah Hawley nos faz entrar na cabeça de David Haller - há, por isso, algumas semelhanças com Mr. Robot pela fina fronteira entre o que é real e o que é alucinação; embora se distancie com um cunho próprio e muita originalidade -, conseguindo no final desta 1.ª temporada o feito de refazer o novelo depois de o desenrolar sem parar, ficando a dada altura a sensação que tanta complicação e tantos "níveis" (sim, Legion também tem o seu quê de Inception) não teriam um retrocesso ou salvação simples. Mas tiveram, porque Hawley sabe o que faz, sempre com um bom gosto incrível.
Um lote relativamente pequeno mas rico e peculiar de personagens secundárias enriquece o universo deste mutante esquizofrénico, com a série a flutuar constantemente em termos de género (mescla ficção científica com drama com comédia com terror psicológico) e fugindo por isso aos padrões tradicionais do que estamos habituados nas conversões de banda desenhada para televisão ou cinema. Tudo muda na vida de David quando conhece Syd Barrett (mais uma referência a Pink Flyod, numa personagem entregue a Rachel Keller), num boy-meets-girl versão mutant-meets-mutant, e a partir daí desencadeia-se toda a série, com David a tentar garantir controlo sobre si próprio, procurando perceber se está doente, se é sobre-humano, ou ambos.
Cheia de detalhes, inteligente e diferente de tudo o resto, Legion podia ser um patinho feio mas é um cisne. Com bons realizadores (Michael Uppendahl já merece outra notoriedade) a executarem a visão de um brilhante pensador (Hawley), a produção de Legion acertou em cheio nos actores escolhidos e acreditou que era possível fazer a série - do homem que, se não se perdesse em si próprio, poderia ser um Deus - voar sobre um ninho de cucos.
Não estejamos com rodeios. Na nossa iniciativa anual de eleger as Melhores Novas Personagens de Séries do ano, Lenny é, para já, o alvo a abater. Bem isolada no 1.º lugar.
A amiga louca de David em Clockworks que afinal é a amiga drogada de David no exterior, que afinal não é nada disto e é apenas um parasita, um mutante disfarçado, um antagonista infiltrado na mente do protagonista. E quantos de nós não gostaríamos de ter Aubrey Plaza como parasita?! A actriz, normalmente associada a Parks and Recreation, foi um exemplo clássico de "calem-se que eu vou entrar em cena e roubar as atenções todas. Sempre" e, num papel que lhe terá aberto (ou escancarado, mesmo) muitas portas, soube entrar no tom pretendido - ela e Dan Stevens souberam captar o que Noah Hawley viu primeiro que todos nós - oscilando entre ser louca, sedutora (até montagens à 007 há em Legion) e aterradora.
Plaza está tão genial que consegue mesmo superar Dan Stevens (belo começo de 2017, hã?), tão bom a sofrer na pele de David, confuso e desesperado mas apaixonado e carismático. Depois de Legion, não ficam muitas dúvidas de quão brutal Stevens é como actor, e da carreira que pode ter. Depois há ainda Syd, Cary e Kerry e principalmente Oliver, este último a elevar a série para outro plano... astral.
A amiga louca de David em Clockworks que afinal é a amiga drogada de David no exterior, que afinal não é nada disto e é apenas um parasita, um mutante disfarçado, um antagonista infiltrado na mente do protagonista. E quantos de nós não gostaríamos de ter Aubrey Plaza como parasita?! A actriz, normalmente associada a Parks and Recreation, foi um exemplo clássico de "calem-se que eu vou entrar em cena e roubar as atenções todas. Sempre" e, num papel que lhe terá aberto (ou escancarado, mesmo) muitas portas, soube entrar no tom pretendido - ela e Dan Stevens souberam captar o que Noah Hawley viu primeiro que todos nós - oscilando entre ser louca, sedutora (até montagens à 007 há em Legion) e aterradora.
Plaza está tão genial que consegue mesmo superar Dan Stevens (belo começo de 2017, hã?), tão bom a sofrer na pele de David, confuso e desesperado mas apaixonado e carismático. Depois de Legion, não ficam muitas dúvidas de quão brutal Stevens é como actor, e da carreira que pode ter. Depois há ainda Syd, Cary e Kerry e principalmente Oliver, este último a elevar a série para outro plano... astral.
O Episódio: 07 'Chapter 7'.
É normal o clímax ser o penúltimo episódio da temporada. E assim foi em Legion. Embora o último episódio seja bom (e aquela cena pós-créditos? Muito pokémon), é entre os capítulos 5 e 7 que a série dispara em termos de qualidade. No quinto episódio o terror começa-se a sentir a sério - não é fácil ser-se um super-herói quando temos no cérebro um monstro de olhos amarelos e uma criança furiosa com ares de Hitler - mas o Chapter 7 ganha a todos os outros.
Naquele que podemos, já em Abril, garantir que será um dos melhores episódios no balanço final de 2017, há várias sequências que traduzem o que é Legion. Criatividade na exposição e no discurso interior de uma personagem recorrendo a uma ardósia e a animação, e uma lição de como criar tensão numa sequência muda com o "Bolero" de Maurice Ravel a deixar Aubrey Plaza, Dan Stevens, Jemaine Clement, Rachel Keller e Amber Midthunder brilharem. Com muito trabalho de equipa nas várias dimensões de alucinação, ora a preto e branco ora de giz na mão, é uma explicação ou confirmação teórica, mas com adrenalina a verter por todos os lados. Só visto.
Naquele que podemos, já em Abril, garantir que será um dos melhores episódios no balanço final de 2017, há várias sequências que traduzem o que é Legion. Criatividade na exposição e no discurso interior de uma personagem recorrendo a uma ardósia e a animação, e uma lição de como criar tensão numa sequência muda com o "Bolero" de Maurice Ravel a deixar Aubrey Plaza, Dan Stevens, Jemaine Clement, Rachel Keller e Amber Midthunder brilharem. Com muito trabalho de equipa nas várias dimensões de alucinação, ora a preto e branco ora de giz na mão, é uma explicação ou confirmação teórica, mas com adrenalina a verter por todos os lados. Só visto.
O Futuro:
Altas expectativas para o futuro, e já sabemos que com Noah Hawley estaremos bem entregues. Saiba ele, qual Legion do mundo real, coordenar-se entre os vários projectos que tem/ terá, mantendo o nível a que nos habituou.
Relativamente ao enredo, não fazemos ideia para onde a coisa vai. O que faz sentido, numa série assim, tão pouco linear. Esperamos mais do mesmo, com a mesma dose de surrealismo, terror psicológico e a continuidade do trabalho de excelência na realização e direcção artística.
Potencialmente, teremos novas personagens, David Haller mais controlado no começo até se perder novamente em si mesmo, e só poderão nascer coisas boas da dinâmica Aubrey Plaza/ Jemaine Clement. Em 2018 há mais.
Altas expectativas para o futuro, e já sabemos que com Noah Hawley estaremos bem entregues. Saiba ele, qual Legion do mundo real, coordenar-se entre os vários projectos que tem/ terá, mantendo o nível a que nos habituou.
Relativamente ao enredo, não fazemos ideia para onde a coisa vai. O que faz sentido, numa série assim, tão pouco linear. Esperamos mais do mesmo, com a mesma dose de surrealismo, terror psicológico e a continuidade do trabalho de excelência na realização e direcção artística.
Potencialmente, teremos novas personagens, David Haller mais controlado no começo até se perder novamente em si mesmo, e só poderão nascer coisas boas da dinâmica Aubrey Plaza/ Jemaine Clement. Em 2018 há mais.