26 de fevereiro de 2017

Óscares Barba Por Fazer 2017

As luzes baixam na audição e Mia fala da tia que costumava viver em Paris, minutos antes de um epílogo que diz "tenho saudades do passado que não tivemos". Lee Chandler, preso ao sofrimento e culpa, faz das linhas de diálogo There's nothing there e I can't beat it das mais profundas e simples do Cinema recente. Os heptapodes dotam uma especialista em linguística e, acima de tudo, uma mãe, da capacidade de ver todo o tempo de modo linear; a mesma Amy Adams, um animal nocturno, perde-se nas páginas e lê sobre uma perseguição de carro enervante. Daniel Blake faz um graffiti, o pacifista Desmond T. Doss procura salvar "só mais um" de cada vez, e a personagem hippie de Viggo Mortensen cede às lágrimas num close-up ao som de Sigur Rós. Dois irmãos assaltam bancos para preservar o património da família, e o traficante de droga Juan ensina o pequeno Chiron a nadar. E assim se passou mais um ano na Sétima Arte.

    Senhoras e senhores, bem-vindos a uma cerimónia digital que certamente não será considerada "sobrevalorizada" por @realDonaldTrump. Aqui não há ninguém a engonhar, não há infinitos intervalos publicitários nem orquestras que convidam os vencedores a encurtar discursos e rumar ao backstage; é a sexta vez que fazemos os nossos Óscares BPF, e abaixo encontrarão os nossos devaneios, opiniões, com vencedores e mesmo nomeados que diferem em muitos casos das escolhas da Academia. Mantemos as nossas 12 categorias, com duas "extra".

    Porém, antes de avançarmos para o que realmente interessa, tivemos que passar pela red carpet, onde nos apresentamos com as indumentárias lindas que vocês podem constatar acima. Tiago traz-nos uma vestimenta muito sui generis. Uma camisa verde vintage emprestada pelo idoso Alcino dos Santos, uma meia da Pé de Meia daquelas mais compridas, umas botas khaki já de algum tempo e uma cueca branca (estilo saco de pão) puxada até ao umbigo. Está confortável. Reparem ainda, não na arma que possui na mão, mas sim no pormenor de meter só metade da camisa para dentro da branca cueca. Nota positiva, pois jogou pelo seguro ao não colocar tudo para dentro. Todos sabem que só Luisão do Benfica o pode fazer sem perder o estilo.
    Já Miguel vem num estilo mais The Wire. Atentem na ousadia de apostar num provocador amarelo mas querendo ao mesmo tempo parecer discreto. Traz uns ténis gastos claramente da DC, umas calças furtadas ao Canina do 7º D da Escola Secundária Padre António Vieira e uma t-shirt preta XXL para acompanhar as calças também elas a atirar para o largo. Tudo respira naquele corpo. O rejubilante casaco amarelo descaído é um claro apoio ao projecto de CeeLo Green que nos Grammys se vestiu de Ferrero Rocher para promover o seu novo trabalho. Quanto às poses, Miguel escolheu estar um pouco de perfil para dar ênfase à sua postura badass até ao fim, enquanto que Tiago preferiu preparar-se para bater um livre à Ronaldo.
    Ok... Não está a resultar. Pedimos desculpa. Tentámos fortemente classificar os nossas trajes (há quem diga que têm influências da melhor série de todos os tempos) para não parecer mal, mas a verdade é que acabámos de chegar do Carnaval de Torres Vedras de maneiras que é isto... Ponto positivo: não trouxemos nenhuma matrafona atrelada, nem nenhuma mulher semi-nua daquelas que aparecem nos telejornais da TVI propícias ao derramamento do bolo alimentar.

    Agora vamos lá a isto. Vamos lá aos Óscares Barba Por Fazer 2017.


MELHOR FILME
Vencedor: La La Land
Outros Nomeados: Moonlight, Manchester by the Sea, Arrival, Nocturnal Animals, Hell or High Water, I, Daniel Blake, Hacksaw Ridge, Captain Fantastic

    Pior do que 2014, melhor do que 2015. A fornada de 2016, avaliada agora já neste ano, teve muitos filmes num nível Bom- (Swiss Army Man, 20th Century Women, Green Room, The Nice Guys, Morris from America, Jackie, Toni ErdmannAmerican Honey, Little Men ou The Witch) mas dessa gama, na sua maioria indie, escolhemos Captain Fantastic para constar no nosso Top-9. Fora da caixa, leve mas profundo, levanta questões ao assumir-se em certa medida como uma caricatura, carregado pelo magnífico Aragorn. Hacksaw Ridge faz-nos dizer "Bem-vindo de volta, Mel Gibson", I, Daniel Blake olha para a sociedade britânica sem medos e Hell or High Water é simples e universal, não sendo provavelmente o Filme do Ano para muitos, mas revelando-se impossível deixá-lo da lista de finalistas. Já Nocturnal Animals (a Academia nomeou Fences, Hidden Figures e Lion, vagas que entregamos a Captain Fantastic, I, Daniel Blake e ao filme de Tom Ford) tem o mérito de carregar bastante subtexto e algumas linhas de interpretação, destacando-se na sua execução pelo carácter enervante e envolvente, e pela inteligência com que navega entre a realidade e a ficção.
    No entanto, há um quarteto acima dos restantes: Arrival, Manchester by the Sea, Moonlight e La La Land. Falam alto os argumentos dos dois primeiros, com Arrival a revelar-se um daqueles filmes que à segunda e com todo o conhecimento é lido doutro modo, e Manchester um drama com pinceladas de humor que é basicamente uma aula de acting de Casey Affleck.
    Entre La La Land e Moonlight, escolhemos à justa o filme de Damien Chazelle, essencialmente porque Moonlight, depois de dois terços sublimes, vacila na resolução. E é precisamente a resolução que faz de La La Land um clássico instantâneo. E nós nem gostamos de musicais...

MELHOR REALIZADOR
Vencedor: Damien Chazelle (La La Land)
Outros Nomeados: Barry Jenkins (Moonlight), Denis Villeneuve (Arrival), Mel Gibson (Hacksaw Ridge), Tom Ford (Nocturnal Animals)

    Não lhe demos o Óscar em 2015 (mas nomeámo-lo por Whiplash, ao contrário da Academia) mas damos desta vez! Damien Chazelle é um visionário, um dos poucos casos em que a palavra prodígio pode ser aplicada. Se La La Land é consistente nos seus vários elementos, o mérito é indiscutivelmente do condutor da orquestra, ambicioso, respeitador da História do Cinema, mas determinado em criar algo novo, algo seu. O enérgico trabalho de câmara em La La Land, conjugado com longos planos nos números musicais, é apenas um de vários pontos fortes, demarcando-se de muitos outros pela forma surpreendente e genial como volta (em Whiplash ainda foi melhor) a rematar um filme. Impossível ficar indiferente àquele epílogo. Chazelle começa a criar "fama" de saber escrever e realizar um bom e marcante Fim, colocando a fasquia bem alta para os seus próximos trabalhos.
    Barry Jenkins surge logo a seguir, com influências orientais na Realização de Moonlight, que não consideramos pretensioso como alguma Crítica e espectadores. Depois de vários trabalhos fortíssimos como Incendies, Prisoners e Sicario, Denis Villeneuve surge finalmente nas nossas escolhas com um Arrival que é tudo o que podíamos pedir e mais ainda, provando que é o realizador certo para Blade Runner 2049. Depois, um regresso em grande para Mel Gibson, com tudo aquilo que o caracteriza, e num último lugar que poderia ser de Pablo Larraín (depois de Jackie, estaremos atentos a futuros trabalhos do chileno) ou Kenneth Lonergan, escolhemos Tom Ford.

MELHOR ACTOR
Vencedor: Casey Affleck (Manchester by the Sea)
Outros Nomeados: Denzel Washington (Fences), Viggo Mortensen (Captain Fantastic), Andrew Garfield (Hacksaw Ridge), James McAvoy (Split)

    Ok, Ryan Gosling teve um ano soberbo e poucos trabalharam tanto como ele nos preparativos de La La Land, mas analisando apenas o filme, deixámo-lo pelas menções honrosas, juntamente com Jesse Plemons (o ataque de pânico de Lucas Hedges em Manchester by the Sea com peitos de frango congelados foi marcante, mas o melhor ataque de pânico deste ano foi de Plemons num supermercado em Other People) e Jake Gyllenhaal, não em Nocturnal Animals mas sim em Demolition.
    Até porque relativamente à Academia só temos uma diferença, a ausência de Gosling abre espaço para James McAvoy, que em Split se dividiu em várias personalidades saltando entre elas de forma fantástica. Andrew Garfield soube canalizar as emoções de Hacksaw Ridge no clímax do filme de Mel Gibson, Viggo Mortensen vestiu uma das melhores personagens deste ano e desarmou-nos quando cedeu às lágrimas num longo take próximo do seu rosto, e Denzel Washington gritou muito mas demonstrou que como actor ainda preserva a fome de outros tempos.
    Independentemente de tudo isto, e apesar de ser possível a Academia preferir Denzel a Affleck, para nós Casey Affleck deixou a concorrência a anos-luz. A parte boa do trabalho de Affleck em Manchester by the Sea é o facto de fugir às tendências tradicionais daquilo que é um "papel de óscar" - não é uma transformação física, nem uma personagem icónica, mas é brilhante. O irmão mais novo de Ben Affleck afundou-se na apatia e no sofrimento, e será difícil esquecer as suas cenas na esquadra, alguns momentos com o sobrinho e a conversa com a ex-mulher no fim. Porque nem sempre é preciso dizer ou vociferar, às vezes o abstracto e o silêncio comunicam mais. Desde que seja bem interpretado.

MELHOR ACTRIZ
Vencedora: Emma Stone (La La Land)
Outras Nomeadas: Natalie Portman (Jackie), Rebecca Hall (Christine), Amy Adams (Arrival), Krisha Fairchild (Krisha)

    A categoria de interpretação mais forte do ano. Para ficarem com uma ideia, não só as nossas 3 menções honrosas (Isabelle Huppert, Ruth Negga e Sandra Hüller) surgiriam num Top-5 num ano normal, como ainda houve outras actrizes a brilhar: Annette Bening, Hailee Steinfeld e Sasha Lane.
    Mas Stone, Portman, Hall, Adams e Krisha foram as cinco que não conseguimos por nada retirar da equação. Na estreia do promissor realizador Trey Edward Shults, Krisha Fairchild deu corpo ao clima perturbador e instável do filme; Amy Adams, estrela de Arrival e Nocturnal Animals, cabe nas nossas nomeadas graças ao filme de Villeneuve, mediante a sua inigualável expressividade (sem uma actriz como ela, as emoções que o filme procura não seriam activadas). Impressionante como a Academia a deixou de fora...
    Rebeca Hall foi uma das ausências mais graves da lista da Academia, embora isso se explique pelo pouco buzz e difusão que Christine teve. Extraordinária transformação da actriz, a mergulhar numa personagem rumo à depressão e ao desespero.
    E assim, a nossa dúvida final foi Emma Stone vs. Natalie Portman. Como Jackie Kennedy, Portman conseguiu uma reconstrução perfeita (genial aproximação na dicção e modulação da voz), funcionando em sintonia perfeita com o realizador Pablo Larraín, que soube "puxar" o melhor da actriz de Black Swan, Léon ou Closer. Mas, com Emma Stone a "carregar" La La Land, este é o ano dela. A actriz que convenceu os pais a deixarem-na seguir o seu sonho com uma apresentação de PowerPoint, recuperou o charme e confiança das grandes estrelas do Cinema antigo, mantendo uma vulnerabilidade pronta a ser activada nos momentos certos. Os seus vários castings (as luzes baixam e naquela Audição é o momento em que Stone agarra o óscar, qual Anne Hathaway) foram a montra perfeita para o talento da ruiva que é ruiva por sugestão de Judd Apatow.

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
Vencedor: Mahershala Ali (Moonlight)
Outros Nomeados: Aaron Taylor-Johnson (Nocturnal Animals), Ben Foster (Hell or High Water), John Goodman (10 Cloverfield Lane), Ralph Fiennes (A Bigger Splash)

    E nos secundários temos apenas 1 actor em comum com a Academia: Mahershala Ali. Deixámos de fora Michael Shannon, Jeff Bridges, Lucas Hedges e Dev Patel, entendendo que seria mais justo colocar qualquer um dos homens acima apresentados.
    Se a Academia preferiu Shannon e Bridges, nós damos mais valor aos underdogs Aaron Taylor-Johnson (bem capaz de ser o actor cujo papel mais nos surpreendeu este ano) e Ben Foster. Ambos como personificação da imprevisibilidade nos seus filmes.
    10 Cloverfield Lane estreou há muito, mas não nos esquecemos do brilhante desempenho de John Goodman, com uma personagem que faz o espectador oscilar entre desconfiar, empatizar, confiar e temê-lo; Ralph Fiennes irradia carisma em A Bigger Splash, roubando todas as cenas em que entrou e marcando este ano com uma dança sua; nas menções honrosas deixámos o novato Lucas Hedges e o excelente e exigente trabalho de Daniel Radcliffe como cadáver-bebedouro com alta flatulência e erecções. Que bela descrição de personagem.
    Mas todos os caminhos vão dar a Mahershala Ali. O actor de House of Cards e Luke Cage foi, em termos de papéis, a melhor parte de Moonlight e a prova viva que se pode marcar um filme e a vida de alguém com uma presença relativamente fugaz. O carisma de Ali como Juan é inquestionável, mas o principal destaque deste exemplo que não é exemplo foi mesmo a capacidade de representar vergonha quando uma criança lhe faz a pergunta que queria evitar a todo o custo ouvir.

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Vencedora: Mackenzie Davis (Always Shine)
Outras Nomeadas: Naomie Harris (Moonlight), Viola Davis (Fences), Greta Gerwig (20th Century Women), Hayley Squires (I, Daniel Blake)

    Sim, a nossa Melhor Actriz Secundária não foi sequer nomeada pela Academia. É certo que temos uma certa "pancada" por Mackenzie Davis (essencialmente graças a Halt and Catch Fire e Black Mirror), mas não é por acaso que a actriz canadiana entrará em 2017 em Blade Runner 2049 e numa comédia de Jason Reitman ao lado de Charlize Theron. Poucas terão sido as pessoas que viram Always Shine, o filme de baixo orçamento de Sophia Takal, mas embora o thriller fique por um nível decente globalmente, Davis rouba as atenções da protagonista (interpretada por Caitlin FitzGerald) com uma audição-que-afinal-não-é-audição e uma intensa leitura/ treino de um guião. Talvez o mais correcto fosse considerar FitzGerald e Davis ambas protagonistas e nenhuma secundária, e se assim for esta é a nossa batota do ano, mas não deixa de ser curioso que entreguemos os óscares femininos (Emma Stone e Mackenzie Davis) a duas actrizes cujas personagens são também elas actrizes.
    Posto isto, Naomie Harris (tão brutal aquele quebrar da quarta parede, Barry Jenkins) é o denominador comum das 3 partes de Moonlight; Viola Davis, entre babas e ranhos, é o apoio cúmplice de Denzel Washington em Fences; e enquanto que a Academia optou por nomes como Octavia Spencer, Michelle Williams (soou-nos a overacting) e Nicole Kidman, as nossas escolhas recaíram na sempre vulnerável e magnética Greta Gerwig (outra actriz pela qual desenvolvemos uma certa predilecção) e numa boa surpresa chamada Hayley Squires.
    Houvesse mais lugares e teria havido espaço para as nossas menções honrosas - Julianne Moore cheia de sotaque em Maggie's Plan e duas jovens actrizes que não páram de orbitar os filmes e projectos certos, Riley Keough e Elle Fanning.


MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
Vencedor: Kenneth Lonergan (Manchester by the Sea)
Outros Nomeados: Damien Chazelle (La La Land), Taylor Sheridan (Hell or High Water), Paul Laverty (I, Daniel Blake), Jim Jarmusch (Paterson)

    Manchester by the Sea ou La La Land? Foi a nossa dúvida, e será também a dúvida da Academia. Mas já lá chegamos. Os Óscares não quiseram nada com eles, mas I, Daniel Blake e Paterson surgem entre o nosso quinteto de nomeados. O argumento de Paul Laverty é uma escalada emocional numa visita brilhante à burocracia governamental, enquanto que Paterson revelou ser capaz de colocar poesia no grande ecrã.
    Depois, Hell or High Water. A simplicidade de Taylor Sheridan, o guionista de Sicario que abomina exposição nos seus trabalhos, é magistral: tudo numa base show, don't tell, com as personagens a terem objectivos e obstáculos bem projectados, e a relacionarem-se de modo lógico e consequente. Em La La Land Damien Chazelle voltou a insistir num ponto abordado em Whiplash, a ideia de sacrificar tudo em prol do foco em ser brilhante em algo; e a verdade é que, se para muitos é estranho ver-se um Musical nomeado para Melhor Argumento, o que é certo é que La La Land não é definitivamente um musical convencional. No entanto, Manchester by the Sea leva a taça. Pautado pela capacidade de flutuar entre o humor e o drama (exagerado e desnecessário apenas no momento em que a maca de Michelle Williams está a ser colocada na ambulância), o filme consegue transparecer a noção de Família, e tendo Casey Affleck como veículo de comunicação perfeito, Lonergan dá-nos duas linhas de diálogo simples e parcialmente abstractas mas que são também por isso as duas melhores deste ano: There's nothing there e I can't beat it.
    20th Century Women merecia maior publicidade, e Swiss Army Man, tendo as suas imperfeições, não deixa de ser um exercício ousado e original.

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Vencedor: Eric Heisserer (Arrival)
Outros Nomeados: Barry Jenkins (Moonlight), Tom Ford (Nocturnal Animals), August Wilson (Fences), Luke Davies (Lion)

    A sensibilidade e inteligência com que Eric Heisserer adaptou o conto de Ted Chiang, Story of Your Life, conseguindo o foco certo (a comunicação, a língua) chega-nos para bater a concorrência. Heisserer preservou a mensagem e a alma - a relação mãe-filha - da história original, foi pioneiro na edificação da escrita alienígena e desenhou a planta e ponto de partida adequados para Denis Villeneuve, Bradford Young e Amy Adams trabalharem.
    Moonlight é porventura o filme do Ano que melhor construiu, trabalhou e desenvolveu personagens, sentindo nós apenas falta de algo mais na 3.ª e última parte; Tom Ford dotou Nocturnal Animals da capacidade de caminhar entre as duas linhas narrativas. E não poderíamos deixar de incluir um Senhor chamado August Wilson, e o argumento de Lion, uma daquelas histórias de vida que nos prendem a todos.


MELHOR EDIÇÃO/ MONTAGEM
Vencedor: Tom Cross (La La Land)
Outros Nomeados: Joe Walker (Arrival), Jennifer Lame (Manchester by the Sea), Joan Sobel (Nocturnal Animals), John Gilbert (Hacksaw Ridge)


MELHOR FOTOGRAFIA
Vencedor: Linus Sandgren (La La Land)
Outros Nomeados: James Laxton (Moonlight), Bradford Young (Arrival), Rodrigo Prieto (Silence), Natasha Braier (The Neon Demon)


MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
Vencedor: Justin Herwitz (La La Land)
Outros Nomeados: Nicholas Brittel (Moonlight), Jóhann Jóhannsson (Arrival), Andy Hull e Robert McDowell (Swiss Army Man), Nick Cave e Warren Ellis (Hell or High Water)


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Vencedor: "City of Stars" (La La Land)
Outros Nomeados: "Audition (The Fools Who Dream)" (La La Land), "Montage" (Swiss Army Man), "Drive It Like You Stole It" (Sing Street), "The Empty Chair" (Jim: The James Foley Story)

    Entre as Categorias Técnicas, 4 em 4 para La La Land. O filme de Damien Chazelle apresenta-se forte e coeso em praticamente todas as suas componentes. A Edição de Tom Cross foi o remate perfeito, revelando-se capaz de contar a história em sintonia com a visão de Chazelle e com a ousadia dos movimentos de câmara, deixando o filme respirar quando em plano-sequência, e limando arestas quando esses planos foram em mais do que um take. Numa categoria em que também poderia constar Moonlight, destaque para a Edição emocional de Arrival, as transições temporais de Manchester, a capacidade de gerar e trabalhar um clima de tensão em Nocturnal Animals e o misto de violência e paz em Hacksaw Ridge com excelente trabalho de montagem quando a guerra chega ao filme.
    Se na Banda Sonora, o trabalho de Justin Herwitz marca em definitivo o ano (boa utilização de música clássica de Nicholas Brittel num filme que se fica pela rua; pena que em Arrival a música que mais brilhe seja uma repescagem de Jóhann Jóhannsson, "On the Nature of Daylight"), no departamento de Fotografia tivemos mais dúvidas. Silence e The Neon Demon, sem serem portentos no seu todo destacam-se nesse capítulo, Arrival tem o clima e atmosfera certos, mas a genial paleta de cores de Moonlight, num gradiente que escurece à medida que Chiron começa a compreender e experimentar o mundo à sua volta, só perde para a capacidade de Linus Sandgren em fazer La La Land passar a sua magia.
    Nas canções, contrariamente à Academia não deixámos de fora Sing Street e Swiss Army Man, mas o desempate teria que ser entre "City of Stars" e "Audition". A segunda traduz o momento em que o coração do filme bate com mais força, mas a primeira é mais transversal à história. Em todo o caso, a melhor composição de Herwitz é aquele "Epilogue" de 7 minutos. Tivesse uns versos cantados e ganhava aqui. 


Total de Nomeações Barba Por Fazer:

9 - La La Land;
7 - Moonlight, Arrival;
5 - Nocturnal Animals;
4 - Manchester by the Sea, Hacksaw Ridge, Hell or High Water;
3 - Fences, I, Daniel Blake;
2 - Captain Fantastic, Swiss Army Man;
1 - Silence, The Neon Demon, 10 Cloverfield Lane, Always Shine, Lion, Paterson, 20th Century Women, Krisha, A Bigger Splash, Christine, Jackie, Split, Sing Street, Jim: The James Foley Story.


Tal como nos últimos anos, fechamos então a nossa cerimónia digital com mais duas categorias, uma em reconhecimento da consistência ao longo do ano ou de impacto significativo no sector, e a outra de olhos postos no futuro.


Personalidade do Ano: Ryan Gosling
Rookie do Ano: Anya Taylor-Joy. Outros nomeados: Lucas Hedges, Karl Glusman, Michael Barbieri, Ashton Sanders.

    Se há um ano atrás houve empate técnico entre Alicia Vikander e Tom Hardy, desta vez Ryan Gosling merece sozinho o estatuto de Personalidade do Ano. É certo que Amy Adams, sem ser a actriz do ano, protagonizou 2 dos nossos nomeados a Melhor Filme (Arrival e Nocturnal Animals) e que tanto Mahershala Ali como Andrew Garfield multiplicaram-se em bons trabalhos, mas 2017 é um ano de viragem para Gosling, o completar de uma metamorfose. Sempre gostámos da gestão de carreira de Gosling (desde indies como Lars and the Real Girl e Half Nelson a futuros filmes de culto como Drive), mas neste momento é claro que Hollywood olha para ele com outros olhos. Para além de muito ter aprendido (piano, dança) para brilhar ao lado de Emma Stone, basta uma pequena contextualização para se perceber o porquê de ser a nossa Personalidade do Ano - este ano entrou também em The Nice Guys, filme bastante subvalorizado de Shane Black, vinha de ter participado em The Big Short e prepara-se para surgir no novo filme de Terrence Malick, protagonizando ainda o muito esperado Blade Runner 2049. A tudo isto pode-se acrescentar o facto de já ter sido confirmado como Neil Armstrong no próximo filme de Damien Chazelle. A vida corre bem a Ryan Gosling. Mérito dele.
    Nos Rookies, e embora tenha havido muitos outros talentos emergentes como Angourie Rice (The Nice Guys), Sasha Lane (American Honey), Lucy Boynton (Sing Street), Lucas Jade Zumann (20th Century Women) e mesmo os pequenos Judah Lewis, Royalty Hightower e Lewis MacDougall, a nossa principal aposta para o futuro é Anya Taylor-Joy. Numa categoria em que no passado incluímos nomes como Jack O'Connell, Adèle Exarchopoulos, Keith Stanfield, Lupita Nyong'o ou Jacob Tremblay, a actriz nascida nos EUA mas com raízes argentinas e britânicas mostrou em The Witch e Split que veio para ficar, merecendo suceder a Bel Powley.
    Embora seja sempre arriscado elogiar o potencial de talentos muito precoces, Michael Barbieri (Little Men) tem qualquer coisa de especial, sem Ashton Sanders na sua parte ii. Moonlight não seria igual, Lucas Hedges (presente já em vários filmes, inclusive dois de Wes Anderson) evoluiu muito ao lado de Casey Affleck e, por fim, Karl Glusman embora nascido em 1988 - mais velho do que os restantes, portanto - conseguiu com pequenos contributos em Nocturnal Animals e The Neon Demon o suficiente para garantir papéis de relevo no futuro e lançar-se em definitivo depois de se ter colocado no mapa com Love de Gaspar Noé.



Estas são as nossas opiniões. Estejam naturalmente à vontade para dar as vossas.
Agora vão às vossas vidas, que ler isto deu trabalho. E tentem dormir a sesta, para logo aguentarem os Óscares da Academia até ao fim. Não é fácil, não é fácil...


Miguel Pontares e Tiago Moreira

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