Criado por
Sam Esmail
Elenco
Rami Malek, Christian Slater, Portia Doubleday, Martin Wallström, Carly Chaikin, Stephanie Corneliussen, Grace Gummer, Michael Cristofer, BD Wong, Craig Robinson, Joey Bada$$
Canal: USA
Classificação IMDb: 8.7 | Metascore: 81 | RottenTomatoes: 94%
Classificação Barba Por Fazer: 85
- Abaixo podem encontrar Spoilers -
A História:
Passou tão depressa. O ilusionista e visionário Sam Esmail brindou-nos com uma segunda temporada de 'Mr. Robot' resvés com o nível da season de estreia (talvez pese a perda do "factor novidade", e um último episódio ao qual pareceu faltar algo), novamente a puxar pela imaginação e pelas teorias dos fãs, com muitas perguntas entretanto respondidas, e ainda mais que ficam por responder até 2017.
A jornada do revolucionário e atormentado Elliot Alderson (Rami Malek, vencedor do Emmy de Melhor Actor no passado dia 18) acumulou distracções e enigmas, avançando devagarinho até uma Fase 2, com Elliot a demorar a voltar a confiar em nós (sim, a 4.ª parede continua a ser quebrada com mestria e originalidade, "jogando" com o facto de estarmos a ser ora manipulados a nível de percepção, ora levados ao limite com as dúvidas internas do protagonista). A identidade da série continua imaculada, única e digna de inspirar tendências e gerar um novo paradigma - nunca é demais elogiar o trabalho de Mac Quayle na banda sonora, e de Todd Campbell na Fotografia, sendo desta vez todos os episódios realizados pelo criador Sam Esmail.
Recapitulemos: quando a primeira temporada terminou, não sabíamos de Tyrell Wellick (Martin Wallström), nem quem estava a bater à porta de Elliot (tornaram-se uma espécie de tradição em 'Mr. Robot' os misteriosos Knock, Knock, who's there?) e já estavam a ser dadas as primeiras pistas para a progressiva transformação de Angela (Portia Doubleday). O paradeiro de Tyrell é, de resto, mantido em segredo durante 90% desta temporada, deixando os espectadores à beira de um ataque de nervos, num limbo de dúvidas, suspeitas, teorias e paranóias criadas por Esmail através da dinâmica Elliot - Mr. Robot (Christian Slater).
Em termos de acção, a 2.ª temporada não faz a história avançar muito, também pela necessidade de retirar o foco de Elliot, deixando-nos acompanhar os conflitos e objectivos de cada tentáculo da revolução de forma isolada - Darlene (Carly Chaikin) tenta liderar o movimento da Fsociety e falha, peões como Mobley e Trenton procuram sobreviver, Joanna (Stephanie Corneliussen) procura Tyrell enquanto leva a cabo o seu próprio plano B, e Angela flutua, de olhar perdido no vazio, entre as várias forças envolvidas. A tudo isto juntam-se novas personagens - Dom (Grace Gummer, filha de Meryl Streep), uma agente do FBI solitária mas incansável no alcance dos seus objectivos; Leon (o músico Joey Bada$$), um afro-americano que discute Seinfeld à mesa e que tem um papel mais relevante do que à primeira vista parece; e Ray (Craig Robinson), que acaba por cumprir o papel que Vera teve na primeira temporada, ou seja, humanizar Elliot através de conflitos morais num subplot que alimenta a primeira metade da temporada.
De hoodie vestido e capucho na cabeça, Elliot acaba por nos dar uma temporada em cheio. Cria rotinas para se distrair da prisão em que se torna a sua vida, abraça e entrega-se a Mr. Robot, confiando neste até perceber que se enganou a si mesmo. No que diz respeito ao jogo China vs EUA - quando analisada a acção num plano económico e mais amplo - a temporada fecha com a explicação concreta daquilo em que consiste a Fase 2, com Dark Army, Mr. Robot, Tyrell e Angela envolvidos; e se na primeira season não chegámos a ver o ataque (os 3 dias continuam em falta), desta vez Esmail guarda para 2017 um edifício em vias de explodir, enquanto uma arma é apontada (as referências a Fight Club continuam mais do que claras, embora por vezes sirvam de curva antes da contra-curva).
A jornada do revolucionário e atormentado Elliot Alderson (Rami Malek, vencedor do Emmy de Melhor Actor no passado dia 18) acumulou distracções e enigmas, avançando devagarinho até uma Fase 2, com Elliot a demorar a voltar a confiar em nós (sim, a 4.ª parede continua a ser quebrada com mestria e originalidade, "jogando" com o facto de estarmos a ser ora manipulados a nível de percepção, ora levados ao limite com as dúvidas internas do protagonista). A identidade da série continua imaculada, única e digna de inspirar tendências e gerar um novo paradigma - nunca é demais elogiar o trabalho de Mac Quayle na banda sonora, e de Todd Campbell na Fotografia, sendo desta vez todos os episódios realizados pelo criador Sam Esmail.
Recapitulemos: quando a primeira temporada terminou, não sabíamos de Tyrell Wellick (Martin Wallström), nem quem estava a bater à porta de Elliot (tornaram-se uma espécie de tradição em 'Mr. Robot' os misteriosos Knock, Knock, who's there?) e já estavam a ser dadas as primeiras pistas para a progressiva transformação de Angela (Portia Doubleday). O paradeiro de Tyrell é, de resto, mantido em segredo durante 90% desta temporada, deixando os espectadores à beira de um ataque de nervos, num limbo de dúvidas, suspeitas, teorias e paranóias criadas por Esmail através da dinâmica Elliot - Mr. Robot (Christian Slater).
Em termos de acção, a 2.ª temporada não faz a história avançar muito, também pela necessidade de retirar o foco de Elliot, deixando-nos acompanhar os conflitos e objectivos de cada tentáculo da revolução de forma isolada - Darlene (Carly Chaikin) tenta liderar o movimento da Fsociety e falha, peões como Mobley e Trenton procuram sobreviver, Joanna (Stephanie Corneliussen) procura Tyrell enquanto leva a cabo o seu próprio plano B, e Angela flutua, de olhar perdido no vazio, entre as várias forças envolvidas. A tudo isto juntam-se novas personagens - Dom (Grace Gummer, filha de Meryl Streep), uma agente do FBI solitária mas incansável no alcance dos seus objectivos; Leon (o músico Joey Bada$$), um afro-americano que discute Seinfeld à mesa e que tem um papel mais relevante do que à primeira vista parece; e Ray (Craig Robinson), que acaba por cumprir o papel que Vera teve na primeira temporada, ou seja, humanizar Elliot através de conflitos morais num subplot que alimenta a primeira metade da temporada.
De hoodie vestido e capucho na cabeça, Elliot acaba por nos dar uma temporada em cheio. Cria rotinas para se distrair da prisão em que se torna a sua vida, abraça e entrega-se a Mr. Robot, confiando neste até perceber que se enganou a si mesmo. No que diz respeito ao jogo China vs EUA - quando analisada a acção num plano económico e mais amplo - a temporada fecha com a explicação concreta daquilo em que consiste a Fase 2, com Dark Army, Mr. Robot, Tyrell e Angela envolvidos; e se na primeira season não chegámos a ver o ataque (os 3 dias continuam em falta), desta vez Esmail guarda para 2017 um edifício em vias de explodir, enquanto uma arma é apontada (as referências a Fight Club continuam mais do que claras, embora por vezes sirvam de curva antes da contra-curva).
Que fique claro: a melhor personagem de 'Mr. Robot' é Elliot. A mais exigente e com melhor performance em termos de interpretação. No entanto, e para não elegermos Elliot todas as temporadas, faz sentido pensar naquela que mais evoluiu ou que mais marcou esta.
Duas das novidades - Dom e Leon, sobretudo a primeira que rouba qualquer cena em que entre - mereciam este estatuto, e mesmo Tyrell acaba por vincar a sua importância graças à sua ausência prolongada. Queremos sempre ter aquilo que não temos.
Mas sejamos justos. Esta foi uma temporada de mulheres - Angela, Joanna, Dom e Darlene. Sam Esmail é mestre a construir personagens femininas, fortes e diferentes de tudo o que já se viu, e enquanto Elliot combate os vários bloqueios que tem, acabam por ser elas a acelerar a história cada qual com a sua ramificação. Joanna muda num segundo de sexy para assustadora, Dom é uma das grandes novidades da televisão em 2016 e tem muito para dar à série, e Darlene perdeu uma parte importante da sua vida, podendo não viver bem com o facto da revolução ser uma parceria Tyrell-Elliot e não apenas um projecto dela e do irmão.
No entanto, se há personagem que intriga nesta season 2 essa personagem é Angela. Alguém que no começo da série parecia tão fácil de ler, com pouco preenchimento, camadas ou mistério, mas que neste momento é o jóker de 'Mr. Robot'. Para além de Portia Doubleday ser uma boa rapper - e de nos dar na série um suave e improvável momento musical com "Everybody wants to Rule the World" -, nesta fase Angela é um enigma, um puzzle como a própria série. Oscila entre Price e White Rose, entre implodir a E-Corp ou fazê-lo de fora, entre a sua ambição e a noção de justiça, entre beijar Elliot ou ser o seu Judas.
Para tudo isto muito contribuem aqueles 28 minutos de conversa entre White Rose e Angela. Numa cena com vibrações de Blade Runner digna de nos deixar "não estou a perceber nada disto, mas continuem porque estou viciado", a principal pergunta que fica para o futuro é o que terá White Rose dito à melhor amiga de infância de Elliot para a transformar num ápice.
Duas das novidades - Dom e Leon, sobretudo a primeira que rouba qualquer cena em que entre - mereciam este estatuto, e mesmo Tyrell acaba por vincar a sua importância graças à sua ausência prolongada. Queremos sempre ter aquilo que não temos.
Mas sejamos justos. Esta foi uma temporada de mulheres - Angela, Joanna, Dom e Darlene. Sam Esmail é mestre a construir personagens femininas, fortes e diferentes de tudo o que já se viu, e enquanto Elliot combate os vários bloqueios que tem, acabam por ser elas a acelerar a história cada qual com a sua ramificação. Joanna muda num segundo de sexy para assustadora, Dom é uma das grandes novidades da televisão em 2016 e tem muito para dar à série, e Darlene perdeu uma parte importante da sua vida, podendo não viver bem com o facto da revolução ser uma parceria Tyrell-Elliot e não apenas um projecto dela e do irmão.
No entanto, se há personagem que intriga nesta season 2 essa personagem é Angela. Alguém que no começo da série parecia tão fácil de ler, com pouco preenchimento, camadas ou mistério, mas que neste momento é o jóker de 'Mr. Robot'. Para além de Portia Doubleday ser uma boa rapper - e de nos dar na série um suave e improvável momento musical com "Everybody wants to Rule the World" -, nesta fase Angela é um enigma, um puzzle como a própria série. Oscila entre Price e White Rose, entre implodir a E-Corp ou fazê-lo de fora, entre a sua ambição e a noção de justiça, entre beijar Elliot ou ser o seu Judas.
Para tudo isto muito contribuem aqueles 28 minutos de conversa entre White Rose e Angela. Numa cena com vibrações de Blade Runner digna de nos deixar "não estou a perceber nada disto, mas continuem porque estou viciado", a principal pergunta que fica para o futuro é o que terá White Rose dito à melhor amiga de infância de Elliot para a transformar num ápice.
O Episódio: 10 'h1dden-pr0cess.axx'.
Num conjunto de 12 episódios (unm4sk e pyth0n divididos cada um em duas partes, o que talvez tenha prejudicado a finale) podemos considerar que o sétimo episódio - h4ndshake.sme - acaba por equivaler ao que wh1ter0se foi na primeira temporada, com a oficialização das suspeitas e desvendar da primeira ilusão. Claro está que, com Esmail, quando este nos confirma algo, acrescenta logo uma revelação que ninguém estava à espera.
Sem esquecer a coragem de abrir um episódio como sitcom, e embora se possam identificar variadíssimos momentos soltos incríveis espalhados pelos vários episódios (Scott Knowles com a máscara a queimar o dinheiro ao som de Phil Collins, o monólogo de Elliot sobre Deus, o desespero de Susan Jacobs na casa-inteligente, todos à mesa ao som de "Basket Case", Angela na sala do questionário, Joanna a levar Scott ao extremo, e várias cenas filmadas em plano-sequência a demonstrar a enorme qualidade de todas as partes envolvidas na série), o ritmo e a montagem dos minutos finais no 10.º episódio destacam-no. Esmail tem aquela rara capacidade que Vince Gilligan desenvolveu ao longo de Breaking Bad em gerar enorme intensidade e tensão nas sequências finais dos episódios, deixando-nos a salivar por novo episódio com um conjunto de cenas que parecem impossíveis de encaixar em tão pouco tempo. H1dden-pr0cess.axx tem isso mesmo - Dom à procura de Darlene e Cisco, o encontro de Elliot e Angela no metro, e por fim a chegada dos soldados do Dark Army ao restaurante onde estão Dom, Darlene e Cisco, com o ponto de vista perfeito em termos de câmara.
Sem esquecer a coragem de abrir um episódio como sitcom, e embora se possam identificar variadíssimos momentos soltos incríveis espalhados pelos vários episódios (Scott Knowles com a máscara a queimar o dinheiro ao som de Phil Collins, o monólogo de Elliot sobre Deus, o desespero de Susan Jacobs na casa-inteligente, todos à mesa ao som de "Basket Case", Angela na sala do questionário, Joanna a levar Scott ao extremo, e várias cenas filmadas em plano-sequência a demonstrar a enorme qualidade de todas as partes envolvidas na série), o ritmo e a montagem dos minutos finais no 10.º episódio destacam-no. Esmail tem aquela rara capacidade que Vince Gilligan desenvolveu ao longo de Breaking Bad em gerar enorme intensidade e tensão nas sequências finais dos episódios, deixando-nos a salivar por novo episódio com um conjunto de cenas que parecem impossíveis de encaixar em tão pouco tempo. H1dden-pr0cess.axx tem isso mesmo - Dom à procura de Darlene e Cisco, o encontro de Elliot e Angela no metro, e por fim a chegada dos soldados do Dark Army ao restaurante onde estão Dom, Darlene e Cisco, com o ponto de vista perfeito em termos de câmara.
O Futuro:
Uma explicação possível para faltar sabor à season finale prende-se com o facto de Sam Esmail utilizar as duas partes do episódio em que é invocada a estratégia-Píton para nos criar muitas dúvidas e perguntas, não respondendo sequer a todas as que já tínhamos. Paciência, é televisão e resta-nos esperar. O homem tem um plano, e é um génio suficiente para respeitarmos os tempos que ele impõe.
Um ano depois sabemos que Tyrell está vivo, e que é real (Esmail utilizou bem as dúvidas que foi plantando para apertar connosco e com Elliot), e sabemos aquilo em que consiste a Fase 2. No entanto, não fazemos ideia do que vai na cabeça de Angela, nem do que se passou nos minutos que não vimos da sua conversa com White Rose, importa perceber o porquê de estar um invólucro de bala na Fsociety e em que direcção vai o FBI tendo já uma teia tão definida e consciente (Elliot já está no quadro, embora o epicentro seja Tyrell e não ele). E, claro, continua o mistério em redor do que realmente representa o dossier Washington Township Plant.
Graças à cena pós-créditos, a chegada de Leon junto de Mobley e Trenton desencadeia dois cenários - ou os protege, ou os mata, mas considerando o modus operandi do Dark Army é mais provável a primeira opção. Veremos se a 3.ª temporada terá alguma ilusão/ enigma camuflado ou se será mais linear deixando a acção avançar mais, sendo certo que teremos mais Tyrell, mais informação sobre Dom, e a fricção entre Elliot e Mr. Robot deve-se intensificar, seja de que maneira for.
Agora é respirar fundo, e aguardar. Elliot, Mr. Robot, Tyrell, Angela, Darlene, Dom, Joanna, White Rose, Leon - e quem sabe novas personagens - voltam em 2017. Até lá, aconselhamos que façam como Elliot, arranjem a vossa própria rotina para se distrairem da ausência deste momento semanal, e de capucho posto experimentem daqui a uns tempos um binge watch da temporada toda. Foi inferior à primeira? Ligeiramente, mas a introdução de tantas novas questões, de alguma confusão e várias pedras no sapato era necessária para o sucesso das próximas temporadas. Aquele "I Love him" de Tyrell, poderíamos dizê-lo nós relativamente ao talento e visão de Sam Esmail.
Uma explicação possível para faltar sabor à season finale prende-se com o facto de Sam Esmail utilizar as duas partes do episódio em que é invocada a estratégia-Píton para nos criar muitas dúvidas e perguntas, não respondendo sequer a todas as que já tínhamos. Paciência, é televisão e resta-nos esperar. O homem tem um plano, e é um génio suficiente para respeitarmos os tempos que ele impõe.
Um ano depois sabemos que Tyrell está vivo, e que é real (Esmail utilizou bem as dúvidas que foi plantando para apertar connosco e com Elliot), e sabemos aquilo em que consiste a Fase 2. No entanto, não fazemos ideia do que vai na cabeça de Angela, nem do que se passou nos minutos que não vimos da sua conversa com White Rose, importa perceber o porquê de estar um invólucro de bala na Fsociety e em que direcção vai o FBI tendo já uma teia tão definida e consciente (Elliot já está no quadro, embora o epicentro seja Tyrell e não ele). E, claro, continua o mistério em redor do que realmente representa o dossier Washington Township Plant.
Graças à cena pós-créditos, a chegada de Leon junto de Mobley e Trenton desencadeia dois cenários - ou os protege, ou os mata, mas considerando o modus operandi do Dark Army é mais provável a primeira opção. Veremos se a 3.ª temporada terá alguma ilusão/ enigma camuflado ou se será mais linear deixando a acção avançar mais, sendo certo que teremos mais Tyrell, mais informação sobre Dom, e a fricção entre Elliot e Mr. Robot deve-se intensificar, seja de que maneira for.
Agora é respirar fundo, e aguardar. Elliot, Mr. Robot, Tyrell, Angela, Darlene, Dom, Joanna, White Rose, Leon - e quem sabe novas personagens - voltam em 2017. Até lá, aconselhamos que façam como Elliot, arranjem a vossa própria rotina para se distrairem da ausência deste momento semanal, e de capucho posto experimentem daqui a uns tempos um binge watch da temporada toda. Foi inferior à primeira? Ligeiramente, mas a introdução de tantas novas questões, de alguma confusão e várias pedras no sapato era necessária para o sucesso das próximas temporadas. Aquele "I Love him" de Tyrell, poderíamos dizê-lo nós relativamente ao talento e visão de Sam Esmail.